Cerca de 70 mil crianças e adolescentes de zero a 19 anos estão na fila de espera por uma cirurgia de amigdalas, adenoide, postectomia, correção de estrabismo e outros procedimentos conhecidos como eletivos. O número corresponde ao retrato da assistência informado oficialmente pelas secretarias de saúde de cinco estados e quatro capitais brasileiras e foram analisados pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Os dados contabilizam pedidos de cirurgias encaminhados até junho de 2017. Na relação, há solicitações que desde 2001 aguardam por um desfecho. O número representa pouco menos de 10% do tamanho da fila de cirurgias eletivas represadas no País. Segundo as informações coletadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), há 904 mil casos desse tipo no País, resultado da soma dos números disponibilizados por 16 estados e 10 capitais.
Esse conjunto de informações foi analisado pela SBP que conseguiu fazer essa triagem por faixa etária apenas nos estados de Ceará, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rondônia e Tocantins. Também foi possível fazer a separação nos formulários encaminhados por quatro capitais – Aracaju (SE), Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS) e São Paulo (SP). As planilhas encaminhadas pelos outros estados e municípios não permitiam essa identificação, o que sugere que o número de crianças e adolescentes sem respostas para seus problemas cirúrgicos deve ser bem maior que os 68 mil relatados.
Para a SBP, apesar da amostra ser pequena, os números não deixam de ser alarmantes. “Estamos falando de uma população que deveria ser tratada como prioridade pelo governo. Ao relegar essas crianças e adolescentes em filas longas, os gestores estão expondo-os a doenças e comprometendo sua qualidade de vida. É desumano com eles e com suas famílias e uma irresponsabilidade para com o País”, denuncia a presidente da SBP, dra Luciana Rodrigues Silva.
Entre a população infanto-juvenil, as áreas que mais recebem demandas para cirurgias eletivas são ortopedia, oftalmologia, otorrinolaringologia, urologia e cirurgia vascular. Das 68 mil crianças identificadas pela SBP, 36 mil têm menos de 10 anos e quase mil sequer completaram um ano de idade. Em maio deste ano o Ministério da Saúde editou uma norma que cria a Fila Única de Procedimentos Cirúrgicos Eletivos no âmbito do SUS, inclusive com incentivo financeiro para estados e municípios que aderirem à estratégia nacional.
A ideia é adotar valores diferenciados da chamada Tabela SUS para alguns procedimentos e, assim, reduzir o tempo de espera por cirurgias por meio do atendimento de rotina ou de mutirões. No entanto, até o momento, a Fila Única do SUS não foi anunciada pelo Ministério da Saúde, o que motivou o CFM e a SBP a conhecerem a situação das crianças e adolescentes em cada um dos estados.
Na maioria dos estados e capitais, os gestores responsáveis pela administração da fila têm dados parciais sobre a demanda reprimida ou nem sequer os possuem. Em muitos casos, essa responsabilidade pela regulação é transferida aos hospitais, que definem suas próprias prioridades.
Para a presidente da SBP, os números certamente estão subestimados, visto que a maior parte dos Estados não respondeu ou não possui os dados organizados. Segundo ela, a partir de 2018, a entidade buscará conhecer em profundidade as filas de cirurgias eletivas em todo o País, seja diligenciando as secretarias de saúde ou recorrendo aos Ministérios Públicos locais. “Trata-se de um diagnóstico importantíssimo para que possamos não apenas entender a real demanda da população pediátrica brasileira e, ainda para identificar os gargalos na assistência à saúde”, destacou.
Em entrevista ao programa Bom Dia Brasil, da TV Globo, a presidente destacou todos estes pontos e pediu prioridade absoluta na educação e na saúde para as crianças e adolescentes brasileiros, a fim de que o futuro da nação seja diferente. CONFIRA AQUI a íntegra da entrevista ao BDBR.
Confira a seguir, a situação de cada localidade, de acordo os dados fornecidos pelas Secretarias Estaduais e Municipais.
MINAS GERAIS – É o estado com o maior volume de pacientes declarados na fila de espera por cirurgias eletivas: 53.653 procedimentos em 705 municípios mineiros, segundo informou a Secretaria Estadual de Saúde. Só em 2016, eram 30.335 crianças e adolescentes esperando por atendimento. Até junho deste ano, outras 23.318 entraram com pedido no Sistema de Regulação do Estado.
Em Minas Gerais, o procedimento que possui o maior número de demandas é amigdalite ou adenoide (15.466). A idade dos pacientes na fila de espera foi dividida entre menores de um ano (648); 1 a 4 anos (10.221); 5 a 9 anos (17.719); 10 a 14 anos (12.310); e 15 a 19 anos (12.755).
ACESSE a ficha completa da fila de cirurgias eletivas infantis na rede pública de Minas Gerais.
RIO GRANDE DO SUL – O segundo estado com o maior número de pacientes na fila de espera de cirurgias é o Rio Grande do Sul. São 2.128 procedimentos em 217 municípios, segundo informou a Secretaria Estadual de Saúde. Lá, desde 2005, existe paciente aguardando na fila de espera.
No Estado, as cirurgias de amigdalite ou adenoide também são as mais demandadas pelo público pediátrico: um total de 1.072. A idade dos pacientes foi dividida entre menores de um ano (74); 1 a 4 anos (445); 5 a 9 anos (706); 10 a 14 anos (376); e 15 a 19 anos (527).
ACESSE a ficha completa da fila de cirurgias eletivas infantis na rede pública do Rio Grande do Sul.
CEARÁ – Em terceiro lugar no ranking, o Ceará tem 1.900 cirurgias esperando por liberação em 145 municípios, informou a Secretaria Estadual de Saúde. As faixas etárias dos pacientes que aguardam os procedimentos são: menores de um ano (30); 1 a 4 anos (408); 5 a 9 anos (648); 10 a 14 anos (400); e 15 a 19 anos (414). O procedimento mais demandado é a postectomia (272), sendo que o primeiro da fila aguarda desde 2006 pelo atendimento.
ACESSE a ficha completa da fila de cirurgias eletivas infantis na rede pública do Ceará.
TOCANTINS – Possui 1.491 cirurgias na fila para execução em 127 municípios. As faixas etárias dos pacientes foram divididas em menores de um ano (76); 1 a 4 anos (418); 5 a 9 anos (627); 10 a 14 anos (284) e 15 a 19 anos (86). Palmas concentra a maior parte dos pacientes na fila de espera, seguida das cidades de Gurupi, Porto Nacional, dentre outras. O primeiro paciente da fila foi incluído em 2004. A cirurgia de hernioplastia é a mais demandada, com 633 pedidos em espera, de acordo com Secretaria Estadual de Saúde.
ACESSE a ficha completa da fila de cirurgias eletivas infantis na rede pública de Tocantins.
RONDÔNIA – O estado possui pelo menos 371 cirurgias em espera só neste ano, em 57 municípios. As faixas etárias são: menores de um ano (3); 1 a 4 anos (42); 5 a 9 anos (79); 10 a 14 anos (67); e 15 a 19 anos (180). A cirurgia de postectomia é a que tem o maior número de demandas, com 34 solicitações.
ACESSE a ficha completa da fila de cirurgias eletivas infantis na rede pública de Rondônia.
FORTALEZA (CE) – O município com mais de 2, 6 milhões de habitantes possui pelo menos 3.820 cirurgias em espera. Para se ter uma ideia da gravidade da situação na capital, desde 2001, há 13 pacientes aguardando na fila para realização de algum tipo de cirurgia, segundo informações da própria Secretaria Municipal de Saúde. As faixas etárias dos pacientes são: menores de um ano (39); 1 a 4 anos (503); 5 a 9 anos (1.268); 10 a 14 anos (1.199); e 15 a 19 anos (811). Os procedimentos de amigdalite ou adenoide são também as recordistas na fila de espera, totalizando 651.
ACESSE a ficha completa da fila de cirurgias eletivas infantis na rede pública de Fortaleza.
SÃO PAULO (SP) – A maior e mais populosa cidade brasileira tem 3.750 cirurgias eletivas na fila de espera, algumas delas com entrada em 2014. As faixas etárias dos pacientes são: menores de um ano (21); 1 a 4 anos (656); 5 a 9 anos (1.021); 10 a 14 anos (1.058); e 15 a 19 anos (994). A maior parte das cirurgias infantis envolvem a ortopedia, de acordo com os dados enviados pela Secretaria de Saúde da capital.
ACESSE a ficha completa da fila de cirurgias eletivas infantis na rede pública de São Paulo.
ARACAJU (SE) – A capital sergipana possui 274 cirurgias infantis na fila do SUS, informou a Secretaria Municipal de Saúde. Desde 2001, existe paciente na fila de espera por um procedimento cirúrgico. A cirurgia de hernioplastia é que possui o maior número de demandas, com 68 registros. As faixas etárias dos pacientes são: menores de um ano (12); 1 a 4 anos (90); 5 a 9 anos (90); 10 a 14 anos (39); e 15 a 19 anos (43).
ACESSE a ficha completa da fila de cirurgias eletivas infantis na rede pública de Aracaju.
PORTO ALEGRE (RS) – São 223 cirurgias na fila de espera da capital do Rio Grande do Sul, das quais amigdalite ou adenoide (106) são as que mais demandam, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde. As faixas etárias dos pacientes em espera são: menores de um ano (9); 1 a 4 anos (85); 5 a 9 anos (84); 10 a 14 anos (24); e 15 a 19 anos (21).
ACESSE a ficha completa da fila de cirurgias eletivas infantis na rede pública de Porto Alegre.
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