Parecer do MS sinaliza pela inclusão de novas curvas de crescimento de pacientes com Síndrome de Down, como pedido pela SBP

O Ministério da Saúde (MS) emitiu parecer favorável ao pleito da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) pela inclusão de novas curvas de crescimento para crianças e adolescentes com Síndrome de Down (SD) na Caderneta de Saúde da Criança. As contribuições encaminhadas pela presidente da Sociedade, dra. Luciana Rodrigues Silva, no fim de outubro, por meio de carta oficial, foram recebidas positivamente pelo Departamento de Ações Programáticas Estratégicas da Secretaria de Atenção à Saúde.

No documento, a entidade sugere a incorporação de dados mais modernos e representativos da população brasileira sobre medidas de peso, estatura, perímetro cefálico e índice de massa corporal (IMC) para pacientes pediátricos com SD. O texto reforça também a necessidade do estabelecimento de parâmetros específicos devido à diferença do padrão de crescimento das crianças que possuem a Síndrome em relação às outras.  

PESQUISA - As novas curvas apresentadas ao MS foram fundamentadas numa ampla pesquisa realizada por um grupo de médicos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com endosso do Departamento Científico (DC) de Endocrinologia da SBP. Para a construção do novo parâmetro, que abrange a faixa etária de 0 e 20 anos, foram obtidos de forma retrospectiva e transversal 4.723 dados de peso, 4.440 de estatura e 1.353 de perímetro cefálico.

No total, participaram do estudo 938 pacientes, nascidos entre 1980 e 2013, e pertencentes a 48 entidades associadas à Federação das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAEs) do Estado de São Paulo.  “Com medidas de referência atualizadas, os pediatras poderão verificar de maneira mais fácil distúrbios de crescimento em crianças e adolescentes com SD. Além disso, também será possível identificar precocemente o surgimento de complicações médicas comuns nesses pacientes, como cardiopatia congênita, hipotireoidismo e distúrbios gastrointestinais”, explica o dr. Gil Guerra Júnior, coordenador da pesquisa da Unicamp.

As informações da pesquisa foram defendidas na tese de doutorado do educador físico Fábio Bertapelli, que durante um ano realizou estágio sanduíche na Universidade Estadual do Mississipi (EUA). Além dele, os drs. Gil Guerra Júnior, Raísa do Val Roso, Maira Rossmann Machado e Stamatis Agiovlasitis completam o quadro de pesquisadores da Unicamp. O resultado do estudo foi condensado em dois artigos científicos recentemente publicados pelo Journal of Epidemiology, da Japan Epidemiological Association, e pelo Jornal de Pediatria (JPED), da Sociedade Brasileira de Pediatria.

DEFASAGEM – Segundo o dr. Crésio de Aragão Dantas Alves, presidente do DC de Endocrinologia da SBP, os dados atualmente utilizados pelo MS não correspondem à realidade nacional. “O Ministério tem como base curvas desenvolvidas nos Estados Unidos há cerca de três décadas. Elas estão defasadas e não representam o padrão normativo das crianças brasileiras com SD. Agora, poderemos acompanhar os pacientes, com um índice de crescimento até os 20 anos de idade e especificamente elaborado para os brasileiros”, explica.

Até então, os únicos dados nacionais disponíveis para a avaliação de peso, estatura e perímetro cefálico para a Síndrome de Down foram desenvolvidos em 2002, pelo dr. Zan Mustacchi, atual presidente do DC de Genética da SBP. Além disso, as curvas anteriores acompanhavam apenas a faixa etária entre zero e 8 anos de idade.  

O tema continua sendo monitorado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, que aguarda uma decisão final sobre o assunto por parte do Ministério da Saúde. Para a presidente da entidade, dra Luciana Rodrigues Silva, o parecer favorável emitido sinaliza de forma positiva a inserção da SBP nos debates relacionados às políticas públicas na assistência à população, no caso oferecendo subsídios técnicos e clínicos relevantes.