Sociedade Catarinense de Pediatria lança campanha em prol do nascimento seguro

O Departamento Científico de Neonatologia da Sociedade Catarinense de Pediatria (SCP) lançou a campanha “Pelo Nascimento Seguro”. O objetivo é alertar as gestantes e a população sobre a necessidade de se tomar todos os cuidados necessários na assistência no momento do nascimento. “Vimos a necessidade de chamar a atenção para o recém-nascido como protagonista desse processo, com direito a um parto seguro e um início de vida saudável”, frisou o presidente da SCP, dr. Edson Carvalho de Souza.

O lançamento aconteceu no III Congresso Catarinense de Perinatologia, ocorrido concomitantemente ao VIII Congresso Catarinense de Obstetrícia e Ginecologia, nos dias 19 e 20 de maio, em Florianópolis (SC). No foco da ação, estão as mulheres, seus parceiros e a sociedade. A entidade quer conscientizá-los sobre a importância do bebê contar com um local seguro para o nascimento, com materiais e equipamentos adequados, equipe treinada, experiente, com formação reconhecida e, especialmente, capacitada para resolução de situações de emergência de forma imediata.

A campanha foi criada com base na Lei da Violência Obstétrica, aprovada em janeiro desse ano, da Assembleia Legislativa de Santa Catarina. “O Ministério Público do nosso estado lançará no próximo dia 16 de junho uma cartilha informativa sobre a violência obstétrica. Ambas as iniciativas têm o enfoque na mãe”, observou.

Segundo dr. Edson Carvalho, mesmo em gestações de baixo risco, um em cada 10 recém-nascidos necessita de ajuda nos primeiros 60 segundos de vida. “O risco de morte ou morbidade aumenta em 16% a cada 30 segundos de demora em iniciar a ventilação após o nascimento, independentemente do peso ao nascer, da idade gestacional ou de complicações na gravidez ou no parto”, completou.

SEGURANÇA – O dr. Edson Carvalho destaca que todas as medidas de segurança, preventivas e terapêuticas, precisam ser tomadas. Dentre elas, destaca a realização de pré-natal adequado; a opção pelo nascimento hospitalar, pela capacidade de resolução imediata de situações de emergência relacionadas à mãe e/ou ao recém-nascido; a escolha do parto natural, sempre que possível; a monitorização rigorosa do trabalho de parto; e o atendimento do recém-nascido por equipe capacitada em reanimação neonatal. “É importante garantir o nascimento seguro em ambiente hospitalar, com atendimento humanizado, que inclua a família, respeite o processo fisiológico do parto e evite intervenções desnecessárias”, disse.

Um dos pontos defendidos pela campanha é o direito de escolha da mãe, quando não há objeção médica, por um parto humanizado no hospital, contando com a presença do pediatra. “O número de cesarianas não deveria ultrapassar 30% do total de partos no País. Hoje temos mais da metade dos nascimentos não ocorrendo naturalmente. O método cirúrgico não deveria ser o preferencial, mas, sim, a escolha quando não há outra opção”, declarou o presidente do Departamento Científico de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, dr. José Maria Lopes.

Para ele, a iniciativa da Sociedade Catarinense de Pediatria é de grande importância no Estado diante dos diversos problemas que têm ocorrido. “A asfixia ao nascimento, por exemplo, é uma das principais causa de óbito neonatal e pode acontecer, entre outros fatores, por condução inadequada do parto e pela falta de atendimento ao bebê assim que ele nasce. A nossa luta é que sempre haja, ao menos, um pediatra na sala de parto”, defendeu. 

DADOS - Em 2015, segundo o Datasus, 99,5% dos partos em Santa Catarina foram hospitalares (Brasil = 98,4%). Embora a taxa de partos domiciliares seja de apenas 0,3% (Brasil = 0,6%), ela dobrou em cinco anos (2011 a 2015), enquanto no Brasil houve uma redução de 30% neste mesmo período.

“Embora no Brasil não existam registros oficiais de resultados dos partos domiciliares, estudos internacionais mostram que o risco de morte neonatal é de duas a quatro vezes maiores. Desta forma, a tendência de aumento dos nascimentos fora do ambiente hospitalar preocupa”, enfatizou o dr. Edson Carvalho.

Ainda de acordo com o Datasus, a taxa de cesariana em Santa Catarina no ano de 2015 foi de 58% (Brasil = 55%) e se manteve inalterada de 2011 a 2015. “No estado não existe uma lei que obrigue os hospitais que prestam assistência ao parto a capacitarem em reanimação neonatal os profissionais responsáveis pelo atendimento do recém-nascido em sala de parto”, acrescentou.

Para ele, apesar de Santa Catarina ter a segunda menor taxa de mortalidade neonatal do Brasil (7,24 por mil nascidos vivos), muito próxima à do Rio Grande do Sul (7,18 por mil nascidos vivos), os indicadores disponíveis sugerem que o cenário não é ideal, no que diz respeito à segurança no nascimento, e precisa melhorar.

Para assistir ao vídeo da campanha, clique aqui.