Lincoln Marcelo Silveira Freire nasceu em Belo Horizonte (MG), em 1948. Ainda muito jovem trabalhou como bancário, contínuo e auxiliar de Tesouraria. No ano do Vestibular recebeu convite para assumir a gerência numa importante agência do banco, assim que atingisse a maioridade. Apesar da boa proposta, optou pela Medicina.
Entrou para a Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1968, já com a intenção de fazer Pediatria. A ideia de tratar crianças e acompanhar seu crescimento sempre o motivou. Estagiou na Santa Casa de Misericórdia e no Hospital São Francisco de Assis. No quinto ano foi aprovado em concurso público como acadêmico de Pediatria em um hospital municipal de Belo Horizonte.
A formação profissional e a representação corporativa pautaram sua trajetória. Durante a graduação, entrou para a representação estudantil, ajudou a organizar o colegiado e a reformular o currículo da faculdade. Na Residência em Pediatria, no Hospital das Clínicas da UFMG, integrou a representação de todos os residentes do hospital. Ao final da Residência, viu seu interesse pela Infectologia Pediátrica aumentar.
Em 1974, iniciou carreira acadêmica como auxiliar de ensino no Departamento de Medicina Preventiva da UFMG. No ano seguinte, obteve o título de especialista em Pediatria, conferido pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Em 1976, transferiu-se para o Departamento de Pediatria, onde deu aulas práticas e teóricas de Doenças Infecto-Contagiosas em Pediatria. No mesmo ano, foi aprovado no concurso público como pediatra do Hospital dos Servidores do Estado de Minas Gerais, onde criou uma prestigiosa Residência. Em 1987, concluiu o mestrado em Medicina Tropical, analisando a poliomielite. Em 1994, iniciou o doutorado, abordando a questão do diagnóstico de meningite em crianças. Em 2000, publicou um livro com Tonelli sobre doenças infecciosas na infância. A criação e ampliação de sua clínica particular traduziram seu interesse pela Infectologia e o transformaram em referência sobre o assunto em Minas Gerais, formando gerações de infectologistas e epidemiologistas.
Se até 1992 Lincoln Freire concentrou suas atividades na Infectologia Pediátrica, no ensino da Prática Clínica e na administração de hospitais públicos, a partir daí sua trajetória mudou. A atividade associativa ganhou cada vez mais espaço e o levou, simultaneamente, às presidências da Sociedade Mineira de Pediatria (1992-93) e da Associação Médica de Minas Gerais (1993-97). Nos dois casos, demonstrou enorme capacidade de lidar com a adversidade, enfrentando problemas que dividiam a categoria e enfraqueciam seus órgãos de representação. Soluções criativas e inovadoras, que envolviam diferentes níveis de poder público, foram implementadas com grande sucesso. Paralelamente, intensificou sua participação na SBP, chegando a ser membro do Conselho Superior, coordenador dos Serões e integrante de várias comissões e comitês científicos, nos mandatos de Pedro Celiny (1992/93) e Sérgio Cabral (1996/97).
Em seus dois mandatos na presidência da SBP (1998/2001 e 2001/04), Lincoln Freire deixou a marca da realização, impulsionando a educação continuada, a defesa profissional, a estruturação da entidade e movimentos de defesa dos direitos de crianças e adolescentes. Em outubro de 1998, lançou a campanha “Acidentes são evitáveis”, que mobilizou pediatras e população, chamando a atenção para as “causas externas” de mortalidade, até então pouco discutidas. Em 2000, tendo como padrinho o ator Thiago Lacerda, foi a vez do tema “Violência é covardia. As marcas ficam na sociedade” ganhar grande repercussão. Outra campanha muito importante, a da “madrinha da Semana Mundial da Amamentação (SMAM) no Brasil” foi iniciativa de Lincoln Freire, tendo início em 1999, com a empresária Luiza Brunet. Foi também em sua gestão que a Adolescência passou a ser Área de Atuação exclusiva da pediatria e os associados ganharam curso de sensibilização para o atendimento da faixa etária. Ao colega Mário Lavorato, dr. Lincoln encomendou estudo nas singularis da Unimed, gerando a proposta então intitulada Procedimentos Padronizados em Pediatria (PPP), prevendo remuneração, além da consulta inicial, de todo o tratamento clínico realizado em consultório. Responsável pela criação da Fundação Sociedade Brasileira de Pediatria (FSBP) e do Memorial da Pediatria Brasileira, com seu falecimento, Lincoln Freire teve o nome incorporado ao do museu.