Júlio Dickstein nasceu em 1923, em São Paulo, e cresceu em Caçapava, no interior do estado. Um distúrbio gastrointestinal grave, depois diagnosticado como intolerância à lactose, marcou sua vida e o influenciou a querer ser pediatra desde pequeno. Ingressou na Faculdade Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro, em 1943, e logo começou a trabalhar como propagandista do laboratório farmacêutico Moura Brasil, onde ficou durante os seis anos de sua formação médica.
Quando se formou, em 1949, já fazia estágio em Pediatria na Policlínica de Botafogo, com o professor Luis Torres Barbosa, que o aconselhou a fazer dois anos de Residência em Pediatria no Hospital dos Servidores do Estado (HSE). Como tinha facilidade em pegar a veia de uma criança pequena, muitas vezes era ele quem introduzia sangue diretamente na corrente sanguínea das crianças necessitadas. Quando terminou a Residência, o serviço de Banco de Sangue do Hospital insistiu que Júlio Dickstein fosse contratado. Em 1954, passou no concurso e tornou-se pediatra do HSE.
Em 1967, o HSE criou a primeira Unidade de Terapia Intensiva (UTI) infantil do Rio de Janeiro e Dickstein foi convidado a dirigi-la. Em 1979, foi convidado pelo diretor do Hospital, Dr. Aloysio de Salles Fonseca, para chefiar a Divisão Médica. No ano seguinte, foi nomeado presidente do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps). Em 1982, saiu do Inamps por divergência política e foi trabalhar com Léa Leal na Legião Brasileira de Assistência (LBA), onde implantou as ações básicas de saúde no Brasil: vacinação, estímulo ao aleitamento, terapia de reidratação oral e ensinamentos básicos de higiene para a mãe cuidar de seu filho. Em 1993, aposentou-se e passou a trabalhar voluntariamente, atendendo meninos de rua na Fundação São Martinho.
Como militante associativo, começou a participar da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) assim que se formou. Quando assumiu a Presidência, em 1974, a sociedade tinha uma única sala no Centro do Rio, com dois funcionários. Na época, as ações da SBP se restringiam à cidade do Rio de Janeiro, seus membros eram em sua maioria cariocas e a entidade era, de fato, uma sociedade carioca com o termo “brasileira” no nome. A mensalidade paga pelos associados mal dava para custear a tiragem de dois ou três números de seu jornal por ano.
Para se tornar nacional, a Sociedade deveria incorporar São Paulo, já que as outras sociedades eram inexistentes ou inexpressivas. A Sociedade Paulista se tornava independente e a Paranaense também crescia. Por iniciativa de Júlio Dickstein e Fernando Nóbrega, de São Paulo, a SBP e a Sociedade de Pediatria de São Paulo estreitaram relação. Dickstein também conseguiu um patrocinador para o Jornal de Pediatria, saneou as dívidas da SBP e liderou a compra de três salas no Colégio Brasileiro de Cirurgiões, onde a entidade instalou sua nova sede. A partir de então, a SBP passou a ser cada vez mais brasileira e digna dos pediatras.
A formação e atualização de pediatras e a consequente melhoria no atendimento à criança eram as principais preocupações de Júlio Dickstein. Ele se revelou um pediatra preocupado com a coletividade no HSE e no Inamps, e fez um trabalho de grande relevância na Legião Brasileira de Assistência e na Sociedade Brasileira de Pediatria.