Antônio Fernandes Figueira (1863-1928)

Antônio Fernandes Figueira nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 13 de junho de 1863. Filho de pais pobres, órfão de mãe logo ao nascer, cursou, como aluno gratuito, o Colégio Pedro II. Em 1880, ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, hoje Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para poder continuar seus estudos, teve de dar aulas em cursos preparatórios. Doutorou-se em 1887 defendendo a tese intitulada “Condições patogênicas e modalidades clínicas da histeria”. Na oportunidade, sua atenção ainda não estava voltada para a pediatria.

Iniciou sua carreira como clínico em Lage de Muriaé, no interior do estado do Rio de Janeiro, para onde teve de se mudar em busca de oportunidade de trabalho e melhores condições climáticas para sua saúde frágil. Retornou ao Rio de Janeiro, mas logo teve de deixar novamente a cidade, por razões de saúde e trabalho. Estabeleceu-se em Simão Pereira, lugarejo próximo de Juiz de Fora, como médico da roça. Durante estes anos foi capaz de atender, ler, escrever e, ainda, publicar seu primeiro livro e artigos sobre pediatria. Em 1895, publicou diversos trabalhos, dentre os quais o “Diagnóstico das cardiopatias infantis” que lhe valeu o Prêmio Visconde de Alvarenga, da Academia Nacional de Medicina e a publicação na revista médica inglesa The Lancet. Em 1900, concluiu sua célebre obra “Elementos de Semiologia Infantil”, que, publicada em francês (1903), projetou seu nome mundialmente. Este livro, de 632 páginas, dedicado a Olinto de Oliveira, foi considerado, durante muito tempo, por pediatras europeus, como o melhor no seu gênero. Esta produção científica o credenciou para um retorno à capital da República em condições de reconhecimento profissional diferentes das com que havia partido. 

Em 1903, foi admitido como titular da Academia Nacional de Medicina. Convidado por Oswaldo Cruz entrou para a Saúde Pública, indo dirigir a enfermaria de doenças infecciosas de crianças do Hospital São Sebastião. Na oportunidade, introduziu a prática de internar as crianças com suas mães. Esta ideia, revolucionária para a época, aumentou a atenção dispensada aos pequenos doentes, reduzindo os índices de mortalidade. Em 1909 foi a vez de José Carlos Rodrigues, proprietário do Jornal do Comércio e administrador da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, convidá-lo para dirigir a Policlínica de Crianças da Santa Casa. Dentre os serviços inovadores que implementou, consta o de higiene pré-natal, quando a mulher grávida recebe cuidados especiais visando preservar a vida da criança. A Policlínica de Crianças transformou-se, em pouco tempo, em uma Escola de Pediatria. Lá, os estudantes de Medicina iam aprender clínica infantil e ouvir aulas e conferências. De lá saíram inúmeras teses de doutoramento, frequentemente laureadas pela própria Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, além de teses de concursos para professor de Pediatria em várias faculdades de Medicina do Brasil. 

No mesmo ambiente, foi fundada no dia 27 de julho de 1910 a Sociedade Brasileira de Pediatria. Sua visão institucional à época era fazer “um centro de estudos científicos para fazer evoluir a Medicina de crianças onde se apresentarão e discutirão casos clínicos, mas apenas no tom singelo de palestra íntima, com o doentinho à frente (sempre que isso for possível) e muito pouca parolice, perfeitamente condenada ali”. Com esta visão institucional, dirigiu a associação em seus dezessete primeiros anos. Apesar da notoriedade alcançada no país e no exterior, não obteve apoio à sua pretensão, e cancelou sua participação no concurso para Catedrático de Pediatria da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1910). 

Após quatorze anos de trabalho à frente da Policlínica de Crianças, assumiu, a convite de Carlos Chagas, a chefia da Inspetoria de Higiene Infantil, do Departamento Nacional de Saúde (1921). Como gestor de saúde pública, implantou o serviço modelar de assistência à infância, fundando postos de higiene infantil e creches nos bairros e nas fábricas. Sua gestão culminou com a instalação do Abrigo-Hospital Artur Bernardes, atualmente Instituto Fernandes Figueira. Este estabelecimento padrão foi construído para dedicar-se exclusivamente à assistência à criança, às gestantes e ao ensino da Puericultura. 

Neste período, planejou e executou intensa campanha nacional em defesa da vida da criança. Expoente máximo da Pediatria Brasileira, autor de obra basilar para o estudo das questões referentes à saúde infantil, pioneiro incansável nas práticas médicas voltadas para a assistência à criança, mestre maior de toda uma geração de talentosos pediatras, Fernandes Figueira foi também autor de significativa obra literária e historiográfica e membro de diversas associações médicas e pediátricas no Brasil e no exterior.  

Fernandes Figueira faleceu no dia 12 de março de 1928. Ele foi o Presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria entre 1919 e 1927. Ele é o presidente perpétuo desta associação. Por sua obra e por tudo que representa para a pediatria brasileira, a Sociedade Brasileira de Pediatria lhe conferiu a Cadeira 3 de sua Academia Brasileira de Pediatria.

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