EDITORIAL

AC. MARIO SANTORO JR. - PRESIDENTE DA ABP

Prezados confrades e confreiras

Mantendo o planejamento de ações desta gestão, chega às vossas mãos mais um número do MERCÚRIO nosso Boletim Eletrônico e com isto estamos mantendo a regularidade de sua edição, conforme estabelecido naquele planejamento.

O Mercúrio - Boletim eletrônico da Academia Brasileira de Pediatria

Neste número – como já o fizemos também em nosso site - registramos com imenso pesar o falecimento de nosso querido Professor dr Reinaldo Menezes Martins. Sem dúvida uma imensa perda pois o Professor Reinaldo foi um valoroso Acadêmico, tendo dedicado muitos esforços para o engrandecimento de nossa ACADEMIA assim como também o fez para a Sociedade Brasileira de Pediatria. Felizmente, tivemos a oportunidade de agradecê-lo ainda em vida e por diversas vezes pelo seu compromisso acadêmico e associativo. Sua lembrança permanecerá para sempre entre nós assim como penso na dos inúmeros pediatras que ele formou bem como nos pais de milhares de crianças que muito se beneficiaram de seu mister pediátrico. Neste número, na seção Histórico, consignamos uma breve biografia do Professor Reinaldo.

Certamente o Professor Reinaldo se ainda estivesse entre nós ficaria contente em saber que seus colegas da Sociedade Mineira de Pediatria e da Academia Mineira de Pediatria, em conjunto com a Diretoria da ABP, têm trabalhado com muito afinco para que o 21º. Fórum que ocorrerá na cidade de Belo Horizonte, seguido da reunião anual da ABP, de 24 a 26 de abril próximo, seja mais um grande sucesso. Aliás, esta tem sido uma missão difícil: o novo fórum superar o sucesso de seu antecessor. Mas, temos certeza que assim o será pelo conteúdo a ser apresentado e pelo esmero no seu preparo.

Os acadêmicos Milton Hênio e Luis Eduardo Vaz Miranda nos brindam com duas “pérolas” neste número; o primeiro com um texto de sua autoria –A desagregação familiar e suas consequências – sem dúvida um texto profundo e que suscita reflexões sobretudo no momento atual e o segundo com a resenha do livro “O ESTRANHO CASO DO DR. COUNEY”, cujo assunto é particularmente interessante para nós Pediatras.

Finalmente, como a cereja do bolo, este número nos traz informações sobre a aprovação de nosso Regulamento pelo Conselho Superior da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Desejo uma boa leitura a todos

Acadêmico Mario Santoro Junior

Presidente da Academia Brasileira de Pediatria

Acontece na Academia

1 - O evento de maior relevância ocorrido em relação à ABP foi, sem dúvida, a aprovação do nosso novo Regulamento pelo Conselho Superior da SBP em sua reunião de novembro de 2018, realizada na cidade de Belém. Esse regulamento, que foi previamente avaliado conjuntamente com a Diretoria da SBP, e posteriormente, analisado pela equipe de advogados da SBP, veio trazer as regras atualizadas pelas quais a ABP deve se pautar à luz da modernidade e da praticidade. Esteve ele em discussão por um longo período (mais de dois anos), mas finalmente aí está, em nosso site, e é com grande satisfação que o recebemos.

2 - O próximo evento da ABP será a realização do 21º. Fórum que ocorrerá na cidade de Belo Horizonte, seguido da reunião anual da ABP, de 24 a 26 de abril próximo. A programação do Fórum está sendo elaborada com todo o cuidado, esmero e profissionalismo pela comissão local, conforme atesta a foto abaixo.

3 - A Diretoria está reformulando as Comissões da ABP, que serão atualizadas a partir da reunião de Belo Horizonte.

4 - Infelizmente tivemos uma grande perda, irreparável mesmo: o acadêmico Reinaldo Menezes Martins nos deixou.

Opinião do Acadêmico

Acadêmico Milton Hênio

A desagregação familiar e suas consequências

A Academia Brasileira de Pediatria vai realizar um Fórum, reunindo profissionais nacionais e estrangeiros de diversas áreas, na cidade de Belo Horizonte, com a finalidade de propiciar uma reflexão sobre as grandes transformações que vem passando a família brasileira e a sociedade mundial nas últimas décadas. É que tem causado preocupação aos pediatras, psicólogos e sociólogos o volume cada vez maior de crianças que sofrem emocionalmente as consequências desse mundo atribulado. E como serão elas no ano de 2030, já adolescentes ou adultos? Como ficarão suas mentes constantemente agredidas hoje por tantos desencontros?

Eu nunca vi na minha vida de médico tanta criança depressiva, ansiosa, como nos últimos tempos. Dados da OMS mostram que o Brasil atualmente é o país mais ansioso do mundo. É uma tristeza, mas a humanidade vive o seu dia-a-dia tendo a agressividade como pano de fundo. Não há mais diálogo entre as pessoas, entre as Nações, somente troca de insultos, cada um querendo esmagar o seu próximo. Esses fatos têm uma influência muito grande para as crianças de hoje.

Toda pessoa tem necessidade de ser reconhecida, de ser “tocada”, como dizem os analistas, desde o nascimento até a morte. A criança é um ser super sensível, super afetiva e sofre muito quando ela assiste os pais se atritando, quando são surradas e insultadas na escola, enfim, quando a vida delas é um tormento e vivem sem o carinho necessário, sofrendo degeneração física e mental com resultados negativos para o resto da vida. A criança a partir dos 3 anos grava para sempre as cenas vividas. Mas o que impressiona os estudiosos desse tema é que o volume dessas crianças está aumentando de uma forma assustadora e preocupante.

A depressão é uma doença e exige um acompanhamento médico cuidadoso, além da compreensão, da paciência e do amor dos pais na recuperação do jovem paciente, o que deverá acontecer com certeza. O mecanismo da depressão na criança e no adolescente é o mesmo do adulto: o cérebro está em crise. Vamos esperar entretanto, que as coisas melhorem. A nossa esperança e a resposta para todos os nossos problemas atuais está nas palavras do Sermão da Montanha: “- Bem aventurados os pacíficos, porque eles herdarão a terra”.

Não sabemos ainda, se esta nossa pobre terra será no futuro um abrigo para a vida, onde haverá lugar para a prece do homem, o canto do pássaro, o sorriso da criança e o perfume da rosa, ou a predominância da violência de muitos homens querendo o caos total.

Impressões desagradáveis têm um efeito horrível na vida da criança. Romain Rolland diz com razão: “ O vinho conserva o aroma do primeiro tonel e a alma humana traz o selo de uma juventude frustrada”.

Que Deus ajude as criança a terem uma vida tranquila e serem no futuro adultos felizes!

Cultura em O Mercúrio

Ac. Luiz Eduardo Vaz Miranda

Editora - Blue Rider Press, New York

Impressão - Pengouin Random House LLc, New York, New York

Coppywright 2018

Recomendo a leitura do livro “O ESTRANHO CASO DO DR. COUNEY – Como um misterioso showman europeu salvou milhares de bebês americanos”, de autoria de Dawn Raffel.

Livro que conta a fantástica história do Dr. Martin Couney, médico de origem judaica, nascido na Alsácia e graduado na Alemanha e que emigrou para Paris ao final do século XIX para trabalhar com o famoso Dr. Pierre-Constant Budin. Lá teve contato com o que é reconhecido como a primeira incubadora, então desenvolvida em 1.880 pelo médico francês Dr. Étienne Stéphane Tarnier e que muito impressionou o Dr. Budin por salvar a vida de prematuros até então condenados a morrer por frio.

Com dificuldade em convencer a comunidade médica da época a adotar as incubadoras, Dr. Budin aceitou a sugestão do Dr. Couney de levar alguns exemplares para feiras mundiais de indústria e, para aumentar o interesse dos frequentadores, também exibir bebês prematuros em seu interior. Para tanto, levava enfermeiras e amas de leite em longas viagens de trem para cuidar dos bebês que eram “doados” por seus pais ao Dr. Couney, desesperançados que estavam quanto à sobrevivência de seus filhos. Apesar de toda a crítica, sua ideia foi um sucesso, atraindo a curiosidade dos frequentadores das feiras.

Foram muitas as exibições protagonizadas na Europa até que Dr. Couney aceitou, em 1.898, o convite para uma exibição em Omaha, no estado de Nebraska (USA), o que implicou em longa viagem transatlântica. O sucesso dessa empreitada foi tão grande que Dr. Martin decidiu-se, pouco depois, por mudar-se para os USA, instalando-se num parque de diversões em Coney Island (New York) e também em Atlantic City. Por cerca de 40 anos Dr. Couney seguiu saciando a curiosidade dos frequentadores, exibindo (e salvando) seus prematuros a preço módico de 10 a 25 cents. Apesar de promover as incubadoras e salvar a vida de 6.500 a 7.000 prematuros, Dr. Couney não escapou de (injustas) críticas de ter operado seu show com interesse maior de enriquecer.

Histórico

Reinaldo Menezes Martins nasceu em 1936, em Mimoso do Sul (ES). Em 1948, veio estudar no Rio de Janeiro, conseguiu entrar no Colégio Militar e ficou interno por sete anos. A convivência com seu tio, o bem-sucedido pediatra Dr. Álvaro de Aguiar, foi decisiva na sua escolha pela Medicina. Essa influência e a atração pelo contato direto com o ser humano fizeram Reinaldo Martins optar pela Pediatria e conciliar sua carreira com a de sanitarista.

Ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil em 1955 e, em 1958, começou a frequentar o Serviço de Pediatria da Policlínica de Botafogo, onde trabalhou com Álvaro de Aguiar. Ao se formar, em 1960, foi trabalhar no Ambulatório do Posto de Saúde da prefeitura, na Gamboa. Com o tempo, Reinaldo Martins estabeleceu uma relação de confiança e respeito com seus pacientes.

Em 1963, começou a trabalhar no Berçário da Maternidade do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Bancários (IAPB), atual Hospital da Lagoa, onde ajudou a formar diversos residentes. Trabalhou também no Serviço Social do Comércio (Sesc) da Favela da Maré e no de Botafogo. No início da década de 1970, estava insatisfeito com a grande carga de trabalho; resolveu abrir seu consultório particular e trocar o Sesc por ser um serviço privado. Com a aprovação no concurso para o Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (Inamps), abriu mão também de seu vínculo com a prefeitura. A partir daí, e durante os 25 anos seguintes, trabalhou pela manhã no Hospital de Lagoa e à tarde atendendo pacientes em seu consultório em Copacabana, até se aposentar.

Logo depois de formado, Reinaldo Martins começou a frequentar as reuniões da SBP, realizadas no Instituto Fernandes Figueira. Começou projetando slides, depois foi bibliotecário e membro do Conselho Consultivo. Em 1978, foi eleito vice-presidente na chapa encabeçada por Nicola Albano. Na ocasião, a SBP desenvolveu campanhas de incentivo ao aleitamento materno, de vacinação e de reidratação oral com grande sucesso, em parceria com o Ministério da Saúde e a UNICEF. Anos depois, a campanha do soro caseiro teve grande repercussão, através de veiculação no rádio e na TV, e foi muito bem aceita pela população.

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Dentre outras inúmeras atividades, podem-se destacar algumas aqui assinaladas.

Foi Consultor do UNICEF para a iniciativa Hospitais Amigos da Criança e criação de Grupos de Defesa da Criança no Brasil

Fez seu Doutorado em Medicina Tropical na Fundação Oswaldo Cruz, FIOCRUZ, Brasil com a tese intitulada “Análise de estudos clínicos com vacinas realizados no âmbito do Instituto Oswaldo Cruz e Fiocruz - memória, avaliação e lições” em 2014.

Membro de Comitê de assessoramento e Agência de fomento do Ministério da Saúde -no Programa Nacional de Imunizações

Na área do magistério, entre outras atuações, foi Professor Titular de Pediatria do Instituto de Pós-graduação Médica Carlos Chagas .

Consultor científico senior de Bio-Manguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz.

Recebeu inúmeras homenagens e prêmios. Publicou trabalhos científicos de grande impacto e vários livros na sua área de atuação, bem como colaborou escrevendo diversos capítulos em livros de texto .

Teve uma profícua vida associativa. Na SBP exerceu diversos cargos e funções destacando-se os de vice-presidente (1978-1979) e presidente (1980-1982), além das de integrante da comissão coordenadora dos comitês científicos da SBP (1984), secretário geral da entidade, presidente e membro do Comitê de Doenças Infecciosas durante vários mandatos.

Durante a sua gestão na presidência da SBP instaurou nova estrutura político-administrativa, criando-se um Conselho Superior constituído por todos os Presidentes de Filiadas Estaduais, com funções deliberativas e executivas, e criou a unificação do sistema de cobrança, que passou a ser feita de maneira informatizada e centralizada pela SBP. Assim, como é até hoje, a SBP passou a ter uma direção colegiada. Acentuou-se a “nacionalização” dos Comitês da SBP e foram incentivados os Congressos de subespecialidades pediátricas. O processo eleitoral passou a realizar-se através de eleições com voto universal e secreto, pelos Correios, em vez de eleições em assembleias.

Durante seu mandato, a SBP se envolveu intensamente com as ações públicas de saúde, como as campanhas nacionais de vacinação (começando com os Dias Nacionais de Vacinação contra Poliomielite, em 1980), aleitamento materno e reidratação oral. Dr. Reinaldo editou, com o dr. Álvaro Aguiar, o livro “História da Pediatria Brasileira”, publicado em 1996, e foi autor ou coautor de numerosos trabalhos científicos e capítulos de livros, principalmente nos campos da Infectologia e Pediatria Social. Colaborou como consultor do Memorial da Pediatria Brasileira, localizado no bairro do Cosme Velho, no Rio de Janeiro.

Na Academia Brasileira de Pediatria, destaca-se que foi membro desde sua fundação , onde ocupou a cadeira 5, do patrono Luiz Pedro Barbosa, tendo sido secretário por dois mandatos (na Presidência de Nelson Barros, 1997-2001) e depois presidente também por dois mandatos (2002-2006). Foram seus secretários os acadêmicos dr. Nelson Grisard e dra. Dalva Sayeg.

Em seu mandato como presidente, com a colaboração e coordenação do Acadêmico dr. Julio Dickstein, foi iniciada a realização dos Fóruns “As transformações da família e da sociedade e seu impacto na infância e na juventude”, que se tornaram uma tradição da Academia, tanto assim que atualmente está sendo programado o 21º. (25 a 26 de 2019) em Belo Horizonte.

Durante sua gestão na ABP, teve início a proposta de criar o Coral da Academia Brasileira de Pediatria, concretizada no mandato seguinte, sob a Presidência do Acadêmico dr. Edward Tonelli, tendo como secretário o acadêmico dr. José Dias Rego.

Sua partida nos deixou um imenso vazio....

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