EDITORIAL

Acadêmica Conceição Aparecida de Mattos Segre

Dia da Mulher, não, Mês da Mulher

Dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher, foi criado pelas Nações Unidas em 1975 com a finalidade de lembrar as várias conquistas das mulheres nos campos sociais, políticos e econômicos, independentemente de aspectos de nacionalidade, econômicos ou políticos, étnicos, linguísticos e culturais. Hoje, pode-se dizer que a mulher é enaltecida e tem seu papel muito mais forte e presente na sociedade. Inúmeras vezes são as principais fontes de manutenção de seus lares, são mais valorizadas por seus talentos e habilidades e sofrem menos preconceitos a cada dia. Atualmente, mais de 100 países celebram o Dia Internacional da Mulher.

No Brasil, apesar de tudo, continua ainda hoje a luta pela erradicação da violência doméstica, maior representatividade política da mulher e o fim de uma cultura que coloca a mulher submissa ao homem. O Dia Internacional da Mulher vem assim trazer à tona esse papel inegável da mulher como pilar na construção do nosso país.

Em nossa Academia Brasileira de Pediatria, composta por 30 cadeiras, o sexo feminino é representado por sete pediatras. E assim, neste mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, eu gostaria de deixar aqui uma singela homenagem a uma grande mulher, grande Pediatra que nos deixou em 07 de março de 2020: a professora doutora Cleide Enoir Petean Trindade. Ela não fez parte desta Academia, mas foi membro titular da Academia de Medicina de São Paulo. Foi a primeira mulher professora titular de Pediatria da Universidade pública do País. Elaborou teses experimentais complexas e inéditas para a época, as quais versaram sobre Alterações do Metabolismo Cerebral em Ratos Recém-Nascidos Submetidos à Restrição do Crescimento Intrauterino por Desnutrição Materna. Essas pesquisas foram agraciadas duas vezes com o “Prêmio Austregésilo” da Academia Nacional de Medicina, com medalha de ouro, em 1974 e 1975. Participou intensamente em sociedades de classe. Na Sociedade de Pediatria de São Paulo foi vice-presidente em três gestões sucessivas, membro e presidente do Departamento Científico de Neonatologia, presidente de Comissões Científicas de Congressos Paulistas de Pediatria. Na Sociedade Brasileira de Pediatria foi membro e presidente do Departamento Científico de Neonatologia. Foi presidente de honra da Comissão Científica doCongresso Brasileiro de Pediatria, realizado em Goiânia, em 1995, e presidente da Comissão Científica do Congresso Brasileiro de Perinatologia, realizado em Salvador, em 1998. Implantou e presidiu a Comissão de Credenciamento de Programas de Residência em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria, tendo credenciado 120 Programas de Residência em vários estados brasileiros. Foi presidente do XVIII Congresso Brasileiro de Perinatologia e XV Reunião de Enfermagem Perinatal, realizados em São Paulo, em 2004. A Professora Cleide Enoir Petean Trindade jamais será esquecida, até porque pessoas assim tão especiais acabam sempre por se tornar IMORTAIS.

O Mercúrio - Boletim eletrônico da Academia Brasileira de Pediatria
Acontece na Academia

1 – Mais uma vez, em função da pandemia do coronavírus, a Assembleia ordinária da Academia Brasileira de Pediatria que, segundo normas regimentais deve ocorrer uma vez ao ano, ocorrerá virtualmente em data ainda a ser marcada, com base na lei 14.010 de 10 de junho de 2020 e no artigo 16, item 1 e Parágrafo Primeiro.

2 - Assuntos de relevância:

a) Relatório do Acadêmico Mário Santoro Jr, presidente da ABP, sobre as futuras atividades e perspectivas da ABP.

b) Para a sessão “Tertúlia” da Assembleia da ABP: temas a serem oportunamente sugeridos pelos acadêmicos.

c) Outros assuntos – posse “on line” de acadêmicos eleitos.

Opinião do Acadêmico

Dioclécio Campos Jr.

A era da relação humana à distância

A humanidade está a caminho de uma nova era na qual a relação humana a distância comanda o espetáculo. Com efeito, os avanços tecnológicos de comunicação vêm sendo incorporados ao cotidiano das pessoas, condenando-os a uma nova modalidade comportamental.

A convivência social desaparece progressivamente das relações pessoais.

Educação, respeito, comunicação, afeto, abraço, amor, paz, sabedoria, saúde, medicina, criatividade, produção, comércio, justiça, amizade e outras práticas já predominam a distância.

Assim passa a ser a vida nos tempos atuais, dominada pela inteligência artificial e robotização.

A interação pessoal perde o calor humano. As crianças são, sem dúvida alguma, as maiores vítimas do distanciamento que é o marco da nova era.

Muitas delas já têm uma vida intrauterina bem afastada de sua mãe legítima. São aquelas criadas na chamada “barriga de aluguel”. Além disso, a sua amamentação é um direito visivelmente subestimado. Passam a ser nutridas com leite não humano, produzido à distância.

Ademais, como consequência, o contato pele a pele, que sempre marcou a relação materno infantil, já não tem valor. Os efeitos benéficos que esse estímulo tão natural exerce, comprovadamente, sobre o desenvolvimento do novo ser humano, são cada vez mais desprezados.

Nos tempos de hoje, as mães vivem à distância dos filhos. Quando vão trabalhar, deixam os seus bebês nas chamadas creches, onde não há possibilidade de se desenvolver um meio ambiente capaz de acolher os infantes com o aconchego, o carinho, o afeto e a interação espiritual inerentes ao amor de sua mamãe.

Lamentavelmente, a maternidade não é reconhecida como a mais suave e insubstituível missão educativa, sem a qual uma sociedade verdadeiramente humana inexiste. As mulheres são contratadas para prestar serviços longe de casa, sem poder exercer, em tempo integral e dedicação exclusiva, a sublime incumbência maternal de que dependem o crescimento e o desenvolvimento saudáveis das novas gerações.

Os efeitos devastadores da atual pandemia, que condenam a sociedade humana a uma degradação aparentemente irreversível, geram a crença no falso progresso da educação a distância. É importante considerar uma clara definição que o grande Cícero, da era romana, formulou. Segundo o seu pensamento, “educar uma criança é amamentá-la e instruí-la”. São dois verbos que não devem ser conjugados a distância, pois sintetizam o benefício humano presencial que há de ser preservado para que a humanidade não seja condenada à extinção irrevogável.

Por outro lado, a palavra infância vem do francês antigo. Significa dependência. É a definição correta de que a referida faixa etária depende do adulto. Não merece, portanto, ser tratada a distância. Ao contrário, precisa ser totalmente protegida, estimulada, amamentada e instruída pelo exemplo afetivo e comportamental dos seus pais. É como se constrói uma humanidade saudável. Não é com dinheiro, capital econômico, tecnologias as mais complexas, nem com desigualdades que geram as ditaduras do estatismo e monetarismo. Uma sociedade sólida e igualitária jamais será planejada à distância. O desprezo da nova era para com o passado desconfigura, por completo, a natureza humana, já quase integralmente ignorada. Uma frase inesquecível que tive a oportunidade de ler em pontos históricos de Braga, a cidade mais antiga de Portugal, que data do ano XVI antes de Cristo, diz o seguinte: “Vamos cultivar o passado para construir o futuro”. Nada mais correto e coerente para que o humanismo retome os princípios que soube construir ao longo dos tempos. São os conceitos inerentes ao progresso legítimo, que buscam afastar a espécie humana da animalidade com a qual se identifica. Para tanto, essas referências histórico-culturais incomparáveis não devem ser tratadas a distância.

Uma das virtudes mais raras na nova era é o altruísmo que inspira o autêntico respeito e o bom trato para com o próximo. É um dos valores defendidos, já de longa data, como base da amizade fraterna a ser estabelecida entre as pessoas em favor de um mundo justo, atencioso e legitimamente social. Trata-se de uma candura humana, nascida no passado, que deve estar no cerne da sociedade atual e não a distância como tudo começa a ser colocado na nova era.

Em conclusão, a sequela mais grave provocada pela pandemia do coronavírus é, sem dúvida, a desconstrução acelerada da nossa sociedade humana. Será o fim do mundo atual porque tudo passará a ser feito, construído e vivido inteiramente a distância.

Cultura em O Mercúrio

Ac. Mário Santoro Jr.

Presidente da ABP

Título: Crianças de Asperger – As origens do autismo na Viena nazista

Autora: Edith Sheffer

Tradução: Alessandra Bonrruquer

1ª Edição - Rio de Janeiro: Record, 2019.

320 páginas

Este livro é um testemunho de como a autoridade médica pode dar credibilidade científica às políticas públicas desumanas que culminam na morte de milhões de pessoas.

Hans Asperger e seus colegas austríacos foram os primeiros médicos a introduzirem o termo “AUTISMO” como diagnóstico independente para certas crianças que tinham dificuldades de sociabilização e déficits cognitivos e que até então eram diagnosticadas como "esquizóides".

Apesar de sua história ligada ao Autismo, o livro revela uma outra face de Asperger e seus colaboradores. Edith Sheffer nos revela que na verdade Hans Asperger foi cumplice no assassinato de 5 a 10 mil crianças durante o regime nazista. Tão grave é esse comportamento de Asperger que atualmente muitos não usam mais o termo Síndrome de Asperger pois usá-lo seria desrespeitar a memória dessas crianças -e de suas famílias- brutalmente vitimizadas por ele.

Além disso, desde 2013 quando do lançamento do DSM-5, ou seja, a 5ª versão Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, esse diagnóstico não mais existe sendo a antiga síndrome incluída no que hoje se denomina “Transtorno do Espectro do Autismo”.

Durante muitos anos se celebrou Asperger por sua compaixão com crianças que eram portadoras de deficiências. O que o livro vai nos mostrar é que na verdade aquelas crianças que se beneficiavam da compaixão de Asperger e seus colaboradores eram as que eles acreditavam que poderiam se beneficiar dos tratamentos. Mas, atualmente sabe-se que as que estavam na outra ponta da classificação, ou seja, classificadas como irrecuperáveis, eram encaminhados para um dos mais letais campos de extermínio: Spiegelgrund.

Além da desmistificação de Hans Asperger o livro nos leva a um Tour pela Europa nazista, principalmente pela Alemanha e Áustria. Por meio dele vamos adentrar por consultórios e clínicas psiquiátricas. Também vamos conhecer a educação infantil implantada pelo Terceiro Reich e nos leva a meditar: onde se pode traçar a linha de cumplicidade entre pessoas comuns e um estado criminoso!

Finalmente uma palavra sobre Edith Sheffer: ela é especialista em História da Alemanha e da Europa Central e é Sênior Fellow do Instituto de Estudos Europeus da Universidade da Califórnia, Berkeley.

Esse livro apesar das suas 320 páginas é tão empolgante e de leitura tão agradável que imaginamos que estamos sentados ao lado da Autora e ela está nos contando uma história cujo fim queremos saber e por isso temos dificuldade em fazer pausas durante sua leitura.

Histórico

Esta seção do Mercúrio homenageia neste número, comemorando o “Mês da mulher”, a Dra. Amélia Denise Cavalleiro de Macedo Ribeiro que é patrono da cadeira n. 27 hoje ocupada pelo acadêmico Milton Hênio de Gouveia.

Amélia Denise Cavalleiro de Macedo Ribeiro nasceu em Belém, no dia 8 de agosto de 1936. Mulher de temperamento tranquilo revelou-se, desde jovem, uma excelente aluna. Estudou nos colégios particulares Suíço Brasileiro e Gentil Bittencourt, em Belém. Ao longo da vida contou com o apoio financeiro dos familiares. Graduou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará (UFPA), em 1960. Assim que se formou, foi fazer residência pediátrica no serviço de Torres Barbosa, no Hospital dos Servidores do Estado no Rio de Janeiro. Durante os quatro anos que permaneceu na capital da República, foi sustentada por um tio, já que o pai, funcionário público da prefeitura de Belém, não tinha condições de fazê-lo. Durante esta temporada, fez concurso e foi aprovada como médica do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Servidores do Estado (IPASE).

Finda a residência, foi convidada para trabalhar em Brasília. Preferiu desenvolver carreira em sua terra natal. Sua trajetória concentrou-se, sobretudo, no magistério superior e na atividade clínica exercida no consultório particular e no “Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Servidores do Estado” (IPASE). Sua vida associativa também foi intensa.

Assim, quando voltou a Belém, abriu um consultório oferecido por seu tio. Em seguida organizou, com outros pediatras, a “Policlínica Infantil de Nazareth” – bairro central e luxuoso da cidade. No início dos anos 1970 montou seu consultório particular, aonde chegou a ter um cadastro de mais de 10 mil pacientes. Ao mesmo tempo, transferiu seu vínculo do IPASE para Belém vindo a atuar no Hospital dos Servidores do Estado do Pará.

Com o apoio de seu ex-professor Abelardo Santos, iniciou sua carreira no magistério superior como auxiliar de ensino e depois professora assistente no Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Pará. Em 1967 recebeu a incumbência de chefiar o Berçário do Hospital da Santa Casa de Misericórdia do Pará, onde os alunos faziam sua prática clínica. Com a morte de Abelardo Santos (1988) assumiu a titularidade da cadeira.

No mesmo período, tornou-se membro da Diretoria da “Sociedade Paraense de Pediatria” no biênio 1967/68. A partir de então, intensificou suas atividades associativas. Em 1985 foi eleita membro do Conselho Deliberativo da “Sociedade Médico-Cirúrgica do Pará” e em 1988 membro titular da “Sociedade Brasileira de Genética” (1988) e membro associado da “Academia Americana de Pediatria” (1988). No ano seguinte foi eleita presidente da “Sociedade Paraense de Pediatria”.

Seu interesse e dedicação constantes ao desenvolvimento da Pediatria no país lhe garantiram convites regulares para participar, como conferencista, de congressos – nacionais e

internacionais – e cursos de atualização e extensão em diversos estados da federação. Assim, participou de atividades em Belém como as Jornadas Médicas Paraenses, e em outras cidades do Brasil como Brasília, São Paulo, Belo Horizonte, Florianópolis, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre. Muitos Cursos Nestlé de Atualização em Pediatria, promovidos pela Sociedade Brasileira de Pediatria contaram com sua participação.

Em suas conferências tratava de temas vinculados à Perinatologia, à Neonatologia, à Neurologia infantil, à Neuropediatria e à Nutrição infantil. A gestação de alto risco e a síndrome da imunodeficiência adquirida em Parturientes com vida sexual promíscua, também integraram sua agenda de preocupações. Em algumas destas atividades contou com a parceria dos Drs. Luis Torres Barbosa e de Jairo Rodrigues Valle, seus preceptores na residência do Hospital dos Servidores no Rio de Janeiro.

No início da década de 90, passou a integrar a “Academia de Medicina do Pará” como membro efetivo. No mesmo ano, tomou posse como membro permanente do Conselho Consultivo da “Sociedade Paraense de Pediatria”. Nesta associação, nos anos subsequentes, Amélia Ribeiro foi designada membro do Comitê de Perinatologia (1991-1992) e Consultora Científica em Neonatologia (1993). Na gestão de Luiz Eduardo Vaz de Miranda à frente da Sociedade Brasileira de Pediatria (1990-1991) integrou a Comissão de Sindicância da entidade. No Rio de Janeiro, em 1993, obteve o título de especialista em Pediatria depois de ter frequentado o curso oferecido pela Escola de Pós-Graduação Médica Carlos Chagas.

Uma vida inteira abria-se na sua frente, quando constatou a existência de um câncer. Amélia Denise Cavalleiro de Macedo Ribeiro faleceu no dia 10 de dezembro de 1994, aos 58 anos de idade, de apudoma da veia cava inferior. Desde então, tem recebido diversas homenagens da sociedade paraense. A Clínica de Pediatria da Santa Casa, onde exercia sua atividade docente, a Clínica de Pediatria do Hospital da Aeronáutica de Belém e o Parque Infantil do Clube dos Médicos, receberam seu nome.

Amélia Denise Cavalleiro de Macedo Ribeiro foi homenageada pela Sociedade Paraense de Pediatria sendo indicada como patrono da Cadeira 27 da Academia Brasileira de Pediatria. Uma pediatra, como muitas, dedicada de corpo e alma à criança.

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