22º Fórum da ABP: um “novo” recomeço
Após mais de dois anos vivendo um prolongado isolamento social em razão da pandemia Sars-cov-2, a Academia Brasileira de Pediatria (ABP) retoma a realização de um Fórum presencial, agora na cidade de São Luis (22-23 de junho, 2022). Está implícito no “recomeçar” a retomada de algo sob uma nova realidade, uma nova motivação ou, ainda dentro uma nova perspectiva. A realidade atual, sem dúvida alguma, é nova e desafiadora, com mais questionamentos que certezas. Nesse curto tempo vivenciado, pode-se prever que vamos conviver com a Sar-cov-2 e suas sucessivas cepas por um longo tempo. Paralelamente, ainda estamos descobrindo os efeitos da pandemia em nossas vidas e, especialmente, nas crianças. Inicialmente, imaginava-se que a Covid teria baixa morbimortalidade em crianças, com sintomatologia tênue e até insignificantes. Entretanto, os dados atuais revelam alguns resultados alarmantes que nos obrigam a discutir e propor soluções visando minimizar tais efeitos. Assim, nada mais apropriado que eleger “O impacto da pandemia na criança e adolescente” como tema central do 22º Fórum.
A possiblidade de um Fórum presencial, nesse momento, revela-se um grande elemento motivador. Matar as saudades de reviver e desfrutar do ambiente de camaradagem e cumplicidade que tínhamos nos antigos congressos, rever velhos amigos e trocar experiências em encontros informais nos corredores do evento. Alie-se a estes fatos, a possibilidade de visitar uma das mais lindas capitais estaduais de nosso país com uma história peculiar e multicultural. Trata-se da única capital estadual fundada por franceses, tendo sido invadida por holandeses e posteriormente colonizada por portugueses. Ingredientes excepcionais para a realização de um evento inesquecível.
Como elemento adicional está a possibilidade de encontrarmos pessoalmente oito novos acadêmicos empossados durante este período de epidemia. A ABP é constituída por um grupo altamente qualificado e diversificado. Evidentemente, com o ingresso de oito novos colegas pode-se antever um enriquecimento e ampliação no horizonte de discussões em nosso grupo. Será uma grande oportunidade para dar as boas-vindas, interagir e conhecer com mais profundidade os colegas Magda Nunes, Werther Carvalho, Sergio Cabral, Nelson Rosário, Saul Cypel, Maria Marlene, Sidnei Ferreira e José Luiz Egydio Setúbal. Portanto, motivos não faltam para nos revermos no XXII Fórum da Academia Brasileira de Pediatria. Nos vemos em São Luís!
Jefferson Pedro Piva
Presidente da ABP
1) De 31 de Março a 02 de Abril de 2022 foi realizado o 8º Simpósio Internacional de Reanimação Neonatal no Centro de Convenções de Salvador/Bahia. A sessão de Abertura contou com a presença da Presidente da SBP Prof ª Dra Luciana Rodrigues Silva , do Acad. Prof. Dr. Luís Eduardo Vaz Miranda, que foi homenageado como Presidente de Honra do evento. A Presidente da Comissão Científica foi a Acad. Prof ª Dra. Lícia O. Moreira. O simpósio teve uma extensa e importante programação científica.
2) De 03 a 07 de Maio de 2022, na encantadora cidade de Natal (RN), foi realizado com muito sucesso o 40º Congresso Brasileiro de Pediatria. Neste Congresso houve a participação de vários acadêmicos da ABP.
3) Os Acadêmicos Luciana Rodrigues Silva, Sidnei Ferreira e Ney Marques Fonseca estiveram entre os organizadores do referido evento.
4) Durante o 40º Congresso Brasileiro de Pediatria foi realizada a reunião do Conselho Superior da SBP tendo a ABP sido representada pelo seu presidente o Acad. Prof. Dr. Jefferson Pedro Piva foi convidado para compor a mesa de abertura do evento além de fazer um pronunciamento no qual elogiou a Diretoria encabeçada pela Acad. Profª Dra Luciana Rodrigues Silva pela excepcional gestão realizada na SBP e desejou sucesso a nova Diretoria que naquele momento seria empossada.
5) O Acad. Prof. Dr. Luis Eduardo Vaz Miranda foi homenageado como Presidente de Honra do 8º Simpósio Internacional de Reanimação Neonatal, ocorrido em Salvador de 31 de março a 2 de abril. Nesta ocasião o Prof. Dr. Luis Eduardo participou da mesa de abertura deste evento e em seu pronunciamento, além de agradecer a homenagem recebida, citou o Acadêmico e ex-presidente da SBP e da ABP Prof. Dr. Mario Santoro Junior por ter sido durante a sua gestão na SBP que o Programa de Reanimação Neonatal foi gestado e iniciado, sendo hoje um programa de absoluto sucesso.
6) O Acad. Prof. Dr. Luis Eduardo Vaz Miranda foi convidado pela organização multinacional - Bebês Sem Fronteira - ministrar aulas sobre os temas Hipoglicemia Neonatal e Novas Diretrizes do Programa de Reanimação Neonatal em outubro passado na cidade do México.
7) A Acad. Profª Dra Sheila Knupp de Oliveira foi organizadora do Curso de Imagem em Reumatologia Pediátrica em Abril de 2022. O curso foi online, teve a colaboração de dez palestrantes altamente qualificados e recebeu 235 inscrições de pediatras e reumatologistas de todos os estados brasileiros.
8) O Acad. Mário Santoro Junior compôs a Mesa de Abertura do 1º Simpósio de Humanização do Centro de Estudos e Pesquisa Dr. João Amorim - CEJAM realizado em 12 de Maio do corrente ano realizado no auditório da Universidade 9 de Julho, campus Vergueiro, em São Paulo tendo sido também transmitido pelo canal CEJAM na plataforma Youtube. O evento teve a participação de 5500 inscritos. Em seu pronunciamento o Acad. Mario Santoro Junior discorreu sobre princípios bioéticos que embasam o conceito de Humanização em Medicina.
9) O Acad. Prof. Dr. Sidney Ferreira autor dos livros “Camila e a Floresta” e “Mistanásia” estão concorrendo ao Prêmio Jabuti. Desde já a ABP sente-se lisonjeada por ter um de seus ilustres membros como concorrente neste concurso.
A Diretoria da Academia Brasileira de Pediatria deseja dar boas-vindas aos confrades recém-eleitos para essa Academia:
1) Prof. Dr. Sidnei Ferreira (RJ) em Assembleia da Academia Brasileira de Pediatria, realizada em 24 de março de 2022 foi empossado como Acadêmico Titular de nossa Academia. Dr. Sidnei Ferreira ocupará a cadeira número 9, cujo patrono é o Prof. Dr. José Martinho da Rocha, sendo seu último ocupante o saudoso Acad. Azor José de Lima. Dr. Sidnei Ferreira foi saudado pela Acad. Profª Dra Luciana Rodrigues Silva. Dr Sidnei Ferreira é graduado em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (1977), sendo pós-graduado em Pediatria e Pneumologia, com Mestrado e Doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dr Sidnei Ferreira é ex-Presidente da Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro (Soperj). Foi Conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro, do qual foi Presidente. Também ocupou o cargo de Conselheiro no Conselho Federal de Medicina. Dr. Sidnei há muitos anos colabora com a SBP tendo sido Secretário Geral nas duas últimas gestões. Ainda Dr. Sidnei Ferreira é professor associado na UFERJ. Com todas essas atividades Dr. Sidnei Ferreira encontra tempo para a literatura sendo de sua lavra 5 livros além de ter colaborado como coautor em vários outros.
Seja muito bem-vindo á ABP caríssimo confrade Dr. Sidnei Ferreira.
2) Prof. Dr. José Luiz Egydio Setúbal (SP) se tornou o mais novo acadêmico da ABP. A eleição ocorreu em Assembleia ordinária on-line realizada em 11 de maio de 2022. Dr. José Luiz Egydio Setúbal tomará posse durante a Assembleia Ordinária da ABP em 22 de Junho próximo que será realizada em São Luiz do Maranhão, ocasião em que também ocorrerá o 22º Fórum da ABP. Dr José Luiz Egydio Setúbal ocupará a cadeira 29, cujo patrono é o Prof. Dr. Nicola Albano e a última ocupante foi a hoje Acadêmica Emérita Prof ª Dra Conceição Aparecida de Mattos Segre. O acadêmico eleito D. José Luiz Egydio Setúbal é graduado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (1981) e pós-graduado lato sensu em Pediatria pela FMSUP e em Economia e Gestão pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Há 20 anos se dedica ao atendimento pediátrico em seu consultório particular e durante esse tempo se dedicou à filantropia e a ações dedicadas às crianças e adolescentes. Dr. Setúbal criou uma fundação- sem fins lucrativos- que leva seu nome a qual tem várias atuações no terceiro setor, como ensino e pesquisa no campo pediátrico e da saúde infantil. O braço assistencial da Fundação é o Hospital Infantil Sabará, referência em atendimento pediátrico em São Paulo e o braço de pesquisa é O Instituto PENSI - Pesquisa em Saúde Infantil. A Fundação já publicou várias obras na área de saúde infantil bem como realizou diversos congressos pediátricos.
Seja muito bem-vindo à ABP Dr. José Luiz Egydio Setúbal.
Transmissão de Cargo na SBP
Após duas gestões coroadas de muito sucesso, em 28 de maio próximo passado, na cidade do Rio de Janeiro, no Hotel Hilton, a Acad. Prof ª Dra Luciana Rodrigues Silva transmitiu a direção da SBP para a chapa eleita “Cuidando do Futuro“ que tem como Presidente o Prof. Dr. Clóvis Francisco Constantino. A mesa de Abertura da Solenidade foi representada pelo Presidente da Academia Brasileira de Pediatria, o Acad. Prof. Dr. Jefferson Pedro Piva. A Acad. Luciana Rodrigues Silva publicou um excelente relatório de gestão disponível como obra física e como e-book. Nela há uma plêiade de realizações com destaque para as atividades científicas, as atividades em benefício de crianças e adolescentes, as atividades em defesa da profissão pediátrica, do meio ambiente entre outras. Ao tempo que deixamos à Profª. Dra. Lucina Rodrigues Silva nossos encômios desejamos ao Presidente eleito Prof. Dr. Clovis Francisco Constantino e sua Diretoria nossos votos de muito sucesso na gestão que ora se inicia.
Diretoria SBP – Triênio 2022/2024
Clovis Francisco Constantino (SP) - Presidente
Edson Ferreira Liberal (RJ) - 1º vice-presidente
Anamaria Cavalcante e Silva (CE) - 2º vice-presidente
Maria Tereza Fonseca da Costa (RJ) - Secretária-Geral
Ana Cristina Ribeiro Zollner (SP) - 1º Secretária
Rodrigo Aboudib Ferreira Pinto (ES) - 2º Secretário
Cláudio Hoineff (RJ) - 3º Secretário
Sidnei Ferreira (RJ) - Diretoria Financeira
Maria Angelica Barcellos Svaiter (RJ) - 2º Diretoria Financeira
Donizetti Dimer Giamberardino Filho (PR) - 3º Diretoria Financeira
Com 50 anos de profissão, Professor Luís Eduardo Vaz de Miranda conta sua trajetória e atuação na Pediatria
Dando continuidade à nova seção “ENTREVISTA COM O ACADÊMICO, “O Boletim “O Mercúrio”, da Academia Brasileira de Pediatria (ABP), terá como seu segundo convidado o Acadêmico Prof. Dr Luís Eduardo Vaz Miranda , ocupante da cadeira de número 15, cujo patrono é João de Deus Madureira Filho. Prof. Dr. Luís Eduardo Vaz Miranda tomou posse na ABP 21 de outubro de 2011. Com vasta experiência na Pediatria e, particularmente na Neonatologia, também atuou em outros segmentos da sociedade. Com 50 anos de profissão, recentemente foi homenageado no 8º Simpósio de Reanimação por razões que elucidará nesta entrevista.
Sua trajetória profissional e dedicação à vida associativa na Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) renderam-lhe importantes reconhecimentos, os quais sente muito orgulho. Com 50 anos de profissão dedicados à pediatria e, particularmente, à Neonatologia, o professor Luís Eduardo também atuou em outros segmentos da sociedade, sendo um deles na diretoria do seu time de coração, o Botafogo de Futebol e Regatas, onde chegou a ocupar o cargo de Conselheiro.
Primeiro coordenador do Programa de Reanimação Neonatal da SBP (PRN-SBP), sua dedicação à neonatologia rendeu-lhe homenagem durante o 8º Simpósio de Reanimação Neonatal, ocorrido nesse ano, em Salvador (BA), cujas razões serão elucidadas neste bate-papo.
Leia, a seguir, a íntegra da entrevista.
O Mercúrio – Recentemente o senhor foi homenageado no 8 º Simpósio de Reanimação Neonatal. Sabemos que o senhor teve forte protagonismo para o sucesso do Programa de Reanimação Neonatal da SBP. Poderia nos contar sobre a evolução deste?
Dr. Luís Eduardo Vaz Miranda – Esse Programa de Reanimação Neonatal - que foi iniciado pela Academia Americana de Pediatria e Associação Americana do Coração, no início da década de 90 tomou uma extensão muito grande e veio satisfazer a necessidade de treinar os pediatras para fazerem a assistência diferenciada na sala de parto. Duas médicas, dras. Ruth Guinsburg e Maria Fernanda, se habilitaram neste curso e trouxeram esse ensinamento e metodologia para São Paulo e começaram a treinar residentes e outros médicos da Escola Paulista de Medicina e, eventualmente, outras pessoas também do ciclo delas. Mas aquilo não tinha nenhuma relação com a Sociedade Brasileira de Pediatria. Eu me interessei também e fui para Nova Iorque, em 1993, para fazer o curso e me habilitei como instrutor pela Academia Americana de Pediatria e trouxe também esse conhecimento aqui para treinar minha equipe de neonatologia ou mais pessoas até. Quando o dr. Mario Santoro tomou posse da presidência da SBP, no início de 94, ele veio a mim e pediu ideias para poder marcar a gestão dele e que ajudassem os pediatras e, obviamente, as crianças. Então me ocorreu o Programa de Reanimação Neonatal e falei “Olha, que tal se a gente iniciar esse programa?”. Ele topou e disse que eu ficaria responsável pelo projeto e pela instalação do programa, e foi assim que tudo começou. Naquele início, não tínhamos recursos materiais. As dras. Ruth e Maria Fernanda e sua equipe foram de uma enorme generosidade, se colocaram ao nosso lado e ajudaram demais a tornar realidade aquilo que propus ao dr. Mario. Isso foi há quase 30 anos e, hoje, ele é o maior curso de reanimação do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Mesmo o foco maior sendo os pediatras, treinamos uma quantidade enorme de profissionais de várias especialidades como obstetras, anestesistas e enfermeiras, já que nem sempre - na realidade brasileira - encontraremos um pediatra na sala de parto. O programa se expandiu mais e incluiu transporte de recém-nascidos, cursos de prematuro e de obstetrícia e hoje é um programa gigantesco no Brasil.
O Mercúrio - Como se deu a escolha do senhor pela Medicina, em particular pela Pediatria? Em relação a área de atuação, por que a Neonatologia?
Dr. Luís Eduardo Vaz Miranda – Eu era interno da Faculdade Nacional de Medicina, na época, no sexto ano da faculdade. Não estava satisfeito com o que eu estava aprendendo no internato em termos de Neonatologia. Nós tínhamos no Instituto de Pediatria da UFRJ todas as disciplinas com alto grau de qualidade, mas carecíamos de treinamento na área de neonatologia e cuidados com os recém-nascidos com maior grau de sofisticação no atendimento, pois não havia maternidade lá. Um excelente professor chamado César Peledo tentou buscar uma solução na época, mas acabou não dando certo. Os internos decidiram buscar, cada um por seus próprios meios, um treinamento que fosse satisfatório na área. Nesta ocasião, minha esposa, que era da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), me informou que havia um professor que era excelente no berçário patológico, o dr. Nicola Albano, e ela me levou para encontrá-lo. Ele me ofereceu um espaço para estagiar em um berçário patológico de uma maternidade pública para obter uma melhor formação pediátrica. O dr. Nicola era uma pessoa cativante, foi responsável por muita gente se interessar por neonatologia e formou uma geração de neonatologistas no Brasil. Então, fui trabalhar e depois, já formado, eu e minha esposa fizemos um concurso para residência médica nos Estados Unidos, passamos e conquistamos uma vaga na Albert Einstein College of Medicine. Terminado a residência na especialidade, você pode fazer um treinamento extensivo em uma subespecialidade. Lá eu tive muito gosto pela neonatologia e fui convidado para continuar estudando e eu iniciei o treinamento adicional nesta área. Passados meus dois anos de estudo, a Clínica de São Vicente da Gávea, no Rio de Janeiro, me convidou para iniciar uma UTI Neonatal no Rio de Janeiro e assim segue um momento interessante. Até então, não existia verdadeiramente uma UTI Neonatal no Brasil, um espaço hospitalar dedicado e aparelhado somente para esse tipo de cuidado. Então, em 1978, tivemos condições de iniciar o que nós chamamos de UTI pioneira, obviamente outros se julgam pioneiros, mas isso é irrelevante. O importante é que iniciamos essa especialidade no Rio. E está aí toda a história de como me interessei pela neonatologia e como sigo interessado até hoje, após 50 anos de formado.
O Mercúrio - Como o senhor consegue conciliar, nesses mais de 50 anos de profissão, a sua vida familiar com a vida profissional?
Dr. Luís Eduardo Vaz Miranda – Cada pessoa tem uma história para contar, uma particularidade. Quando tinha meus 18 anos fiz vestibular e passei na Faculdade Nacional de Medicina. Para me dar mais confiança para passar nesse vestibular, fiz curso preparatório e larguei o colégio em que fazia meu curso secundário. Eu tive muito sucesso nesse curso e passei com uma ótima colocação naquele vestibular que tanto me amedrontava. Tempos depois, o curso foi reformulado e foi necessário recompor o quadro de professores. Para tanto, foram convidados nove ex-alunos que haviam tido um excelente desempenho e impressionado o diretor. Eu, junto a esses outros oito alunos, fomos agraciados com um convite para sermos professores nesse lugar. Enquanto acadêmico de medicina, dando aula para muitas alunas, acabei conhecendo a minha atual esposa. Ela foi minha aluna neste primeiro ano como professor de cursinho, passou para a Uerj e, também, se interessou por pediatria e juntos decidimos fazer um concurso para a residência no qual passamos e foi assim que tudo começou. Construímos nossa família e hoje temos quatro filhos. Todos são formados e tenho filho médico, advogado, publicitário e dentista. Nós conseguimos criar uma família que nos alegra muito e nos dedicar à profissão da melhor maneira possível.
O Mercúrio – Aproveitando o gancho, como o senhor, na sua experiência enquanto pediatra, vê as diferentes configurações familiares nesse momento em que vivemos?
Dr. Luís Eduardo Vaz Miranda – Quando analiso e converso com a minha esposa me sinto muito conservador nos valores familiares e pessoais. Me assusta um pouco ver que hoje o mundo não tem nada a ver com o que eu vivi e criei meus filhos. Difícil de responder, pois não existe uma única forma de criar filhos e famílias, a minha deu certo e outras formas também deram certo. Mas tenho muita dificuldade, pois as crianças hoje vivem em uma cultura muito diferente da conservadora na qual criei meus filhos.
O Mercúrio – Poderia nos contar sobre sua trajetória profissional e na SBP?
Dr. Luís Eduardo Vaz Miranda – De todas as atividades que exerci, consegui realizar meu sonho de dar aulas na Universidade Federal do Rio de Janeiro em Pediatria, lá fiquei 16 anos como professor. Tive também uma vida acadêmica muito ligada à SBP. Desempenhei vários cargos: comecei como membro do Comitê de Terapia Intensiva; depois fui convidado para fazer parte do Comitê de Neonatologia, com o tempo fui presidente deste comitê; também presidi Comissão Examinadora do Título de Especialista em Neonatologia, onde fiquei por 5 anos; então saí para ser vice-presidente da SBP; e, mais adiante, presidente da SBP. Além dessas atividades, fui o primeiro coordenador do Curso de Reanimação Neonatal da SBP; criei uma equipe e especialidade, formei muita gente em diversos estados do Brasil e outros países. Me dediquei muito ao ensino e, também, criei uma empresa de médicos para praticarem a neonatologia, lá formamos uma série de conceitos para planos de saúde, categorização de assistência e fomos inovadores em uma série de coisas. Hoje, com 50 anos de formado, vejo muita gente crescendo ao meu lado e fico admirado. Finalmente, nos últimos anos, eu sou membro da Academia Brasileira de Pediatria e, na gestão que encerrou a pouco tempo atrás, eu era vice-presidente; fui convidado para assumir como presidente, mas preferi não assumir. Mas tive uma trajetória na qual me orgulho, tenho um currículo muito rico.
O Mercúrio - Na sua vivência, como o senhor enxerga a Academia Brasileira de Pediatria (ABP), que completa 26 anos de existência?
Dr. Luís Eduardo Vaz Miranda – A Academia é um depositário de saberes de pessoas muito experientes que já viveram muito e estão preocupadas com o social, do que com o lado científico propriamente dito. A Academia fazia, antes da pandemia, duas reuniões ao longo do ano e escolhíamos uma região geográfica para entrar em contato com sociedades estaduais e locais. Nós traçamos um programa para discutir grandes problemas como, por exemplo, a violência contra a criança e o álcool na gestação. E são questões que podem refletir nos problemas daquela região, são temas que fogem da medicina clássica, mas que correspondem a áreas de interesse ao cuidado das crianças. Essas reuniões não são só para os médicos, como também para outros profissionais de saúde, professores, juristas, advogados, entre outros. O objetivo da Academia é diferente, é um apêndice da Sociedade, que tem compromissos e enfoque mais sociais.
O Mercúrio – Pode nos falar sua experiência em entidades associativa e particularmente no Botafogo de Futebol e Regatas?
Dr. Luís Eduardo Vaz Miranda – Hoje estou com 74 anos e quando era menino não tinha televisão, e o futebol era só no rádio. Meu pai e meu irmão mais velhos eram flamenguistas. No entanto, na rádio eu só ouvia gritando “Garrincha! Garrincha!” e fui me encantando com esse nome. Um dia meu pai me levou junto com meu irmão ao Maracanã para vermos um jogo do Flamengo e Botafogo, e aí eu vi o Botafogo ganhar de 5 a 0. A partir daí, fui virando botafoguense e me apaixonando pelo time. O tempo passou, continuei frequentando jogos e acompanhando as partidas. Na década de 90, quando o Botafogo estava no processo de recuperar sua sede, eu passei a me interessar e entrei como sócio. Quando o Carlos Montenegro resolveu se candidatar a presidente do clube, ele foi à minha casa e em uma reunião me convidou para fazer parte do grupo de conselheiros. Ele foi eleito e eu comecei a frequentar o Botafogo e lá pelas tantas precisavam de diretores médicos e entrei de gaiato. Fui tomando gosto, participando de jogos e reuniões até que, em determinado momento, meu nome foi proposto para presidente do conselho. Tive uma participação muito boa e depois de duas gestões acabei sendo eleito como benemérito do Botafogo. Até hoje estou lá, sou apaixonado. Tudo veio ao acaso e foi acontecendo. Uma mistura de paixão, ousadia e interesse em ajudar.
O Mercúrio - Como o senhor vê a evolução da neonatologia, desde quando o senhor se tornou neonatologista? E como o senhor vê a assistência Neonatal no Brasil?
Dr. Luís Eduardo Vaz Miranda – A neonatologia se desenvolveu demais e estamos muito avançados! Incorporamos muitos conhecimentos e recursos tecnológicos de países mais desenvolvidos como Estados Unidos, Canadá e outros da Europa. Eu lembro que no início da minha carreira, íamos de avião fretado com nossa incubadora de transporte para buscar bebês em tudo quanto é lugar no Brasil. Éramos os únicos que fazíamos isso na época. A vida de neonatologista é recheada de alegrias e satisfação. Tenho 46 anos como neonatologista no Brasil e são 17 mil bebês e muitas histórias bonitas para contar. Enfim, crescemos muito nos últimos anos. Hoje temos grandes centros de neonatologia no Brasil inteiro, fazemos um trabalho de ponta com muitos profissionais treinados internacionalmente e aqui, com recursos e tecnologias incorporadas. Sempre tivemos um pouco de complexo de vira-lata, mas muita gente, como eu, foi para fora estudar e trouxe muito conhecimento e formaram muitas equipes. Hoje, muitas pessoas que nunca foram para outro país e se profissionalizaram aqui. Praticamos atualmente uma neonatologia de primeiríssima qualidade no Brasil.
O Mercúrio – Qual a sua opinião sobre o chamado plano de parto?
Dr. Luís Eduardo Vaz Miranda – Precisamos ter um pouco de cuidado ao falar desse tema. Um plano de parto muito bem acondicionado, bem humanizado, de boa qualidade em que todas as atenções são cumpridas, é válido, contudo, muitas vezes o plano de parto abre precedentes para charlatão. Quando eu estava me especializando na França, na década de 50, se criou o chamado parto sem dor. Na verdade, não é parto sem dor, mas todo um preparo emocional, uma desmistificação do parto, o marido participando ativamente do curso, sendo o “doulo”, que vem de doula, termo oriundo da Grécia e que significa “mulher que serve”, ajudando as outras mais novas que estavam em trabalho de parto a darem à luz, muitas vezes sentadas, de cócoras, ou em posição mais fácil, mas que geralmente eram suportáveis para essas pessoas. Ou seja, o criador desse tipo de parto preparava emocionalmente o casal e, com isso, as contrações ficam mais eficazes fazendo com que as mães tolerem melhor. A partir desse chamado parto sem dor, outro francês, que não vou dizer o nome, criou técnicas que não têm comprovação científicas, tais como a criança nascer dentro d’água, nascer ouvindo uma música etc. O bebê, quando está nascendo, sai de uma bolsa d’água, ou seja, nascer na piscina é uma coisa que suscita, até hoje, com forte teor comercial. Esses planos de partos tentam humanizar o parto, tornando mais agradável. Porém, quem tem que ser priorizado num parto é o bebê. Claro que a mãe tem que ser bem cuidada, o pai ser participante, mas aquele evento tudo é para trazer ao mundo uma criança saudável, logo, ela é quem precisa ser priorizada. Resumindo, existem inúmeros planos de parto e muitos deles adicionam práticas que não possuem base na ciência.
O Mercúrio – Atualmente, a medicina segue muitos protocolos e fluxogramas. Como o senhor vê essa nova forma de condução dos médicos no exercício da medicina?
Dr. Luís Eduardo Vaz Miranda – Creio que isso, a meu ver, sofreu certa influência da aviação, pois os pilotos têm toda uma forma de atuação para diferentes tipos de acidentes aéreos. Assim, a medicina acabou, de certa forma sem perceber, se contaminando dessa prática da aviação, ou seja, é tanto ato que, às vezes, você tem que fazer um pouso de emergência.
O Mercúrio – Para o senhor, a telemedicina é um auxílio na assistência à saúde ou ela contribui para o distanciamento, cada vez mais comum, na relação médico-paciente?
Dr. Luís Eduardo Vaz Miranda – Existem coisas muito boas à frente na telemedicina, mas também há coisas que nos assustam. Os postos de saúde estão criando telefones para que o paciente seja atendido por algum médico de plantão e esse distanciamento não é uma boa prática. O relacionamento pessoa a pessoa no Ato Médico é muito importante, sem dúvida, por outro lado se a pessoa está distante, se é uma coisa menor, se o médico quer dar partida para ver se o paciente necessita de um recurso maior, a telemedicina funciona, mas ela tem esse perigo, né?! Por outro lado, tem uma telemedicina absolutamente louvável, ou seja, por exemplo, hoje só tem em UTIs de adulto e, agora, já tem UTIs neonatais ensaiando ou serviços que suportem o atendimento de pessoas grávidas nas UTIs. Em São Paulo, a exemplo, já existe um Centro que monitoriza, à distância, crianças graves de diferentes estados. Esse é o lado bom, como falei. Porém, não pode ser a telemedicina usada como estratégia econômica, como alguns planos de saúde parecem usar.
O Mercúrio – Qual conselho ou mensagem daria aos jovens médicos que pensam em fazer residência em pediatria e seguir na área de atuação em Neonatologia?
Dr. Luís Eduardo Vaz Miranda – Deixo um conselho muito curto: estudem, pois, a Neonatologia é uma área de atuação muito rica e lida com os piores momentos na vida de uma pessoa, o primeiro e o último dia de vida. Ou seja, na linha do tempo da vida, o ser humano venceu o dia mais difícil da vida, o primeiro dia, que é o nascimento. Na maioria das vezes, esse primeiro momento ocorre sem grandes dificuldades. Mas quando ocorre com muita dificuldade, deve existir um profissional que, além de um caráter humanístico muito e de grande conhecimento, para poder assistir, de modo adequado, aquele bebê que vai viver a vida adulta carregando consequências daquela dificuldade ao nascer. Se for uma criança bem atendida, essas consequências serão mínimas. Ou seja, o conselho é estudem bastante e tenham amor à profissão e a essa especialidade. É uma doação plena.
Em 28 de maio próximo passado, na cidade do Rio de Janeiro, no Hotel Hilton, a Acad. Profª Dra Luciana Rodrigues Silva transmitiu a direção da Fundação Sociedade Brasileira de Pediatria ao novo presidente da SBP Prof. Dr. Clóvis Francisco Constantino. Ambos agradeceram e teceram elogios ao Dr. Sérgio Antônio Bastos Sarrubbo que por força de dispositivo estatutário teve que deixar o cargo. Foi eleito para a presidência do Conselho Curador o Dr. João Coriolano Rego Barros, pediatra de São Paulo.
Para compor o Conselho Curador da FSBP (gestão 2022-2024) foram indicados pela Academia Brasileira de Pediatria os Profs. Drs. Mario Santoro Junior e Sergio Augusto Cabral. Entre os indicados pelo Conselho Superior da Sociedade Brasileira de Pediatria estão os Acad. Prof. Dr. Nelson Grisard e o Acad. eleito Dr. José Luiz Egydio Setúbal.
Ao novo presidente e a todo Conselho Curador da FSPB a Diretoria da ABP deseja muito sucesso nessa gestão.
Diretoria Conselho Curador FSBP – Triênio 2022/2024
Presidente
João Coriolano Rego Barros (SP)
Conselheiros
Nelson Grisard (SC)
Mário Santoro Júnior (SP)
Sérgio Augusto Cabral (RJ)
José Luiz Egydio Setúbal (SP)
José Hugo de Lins Pessoa (SP)
Reinaldo Ayer de Oliveira (SP)
Kátia Correia Lima (RN)
Gunnar Alexei Riediger (RJ)
Gilnei Rodrigues (SP)
Tamara Lazarini (SP)
É com imensa alegria que a Diretoria da Academia Brasileira de Pediatria informa que, após muito trabalho, está tudo pronto para a realização do 22º Fórum da ABP – Profa. Dra Luciana Rodrigues Silva a ser realizado em São Luís do Maranhão de 22 a 23 de Junho deste no em parceria com a Sociedade de Puericultura e Pediatria do Maranhão.
Convidamos os confrades e confreiras a visitarem o site do fórum acessando o link:
https://www.sbp.com.br/especiais/forum-abp/
O evento será realizado no Hotel Luzeiros
http://www.luzeirossaoluis.com.br/
Cidade de São Luís - Maranhão
http://turismosaoluis.com.br/pages/
Comentário do Acad. Mario Santoro Junior
1) Em Terras distantes li estrelas
Autora: Marcia Etelli Coelho
1ª ed -São Paulo: Scortecci,2021
Poesia 179 págs.
Marcia Etelli Coelho é médica, graduada pela Escola Paulista de Medicina, hoje Universidade Federal de São Paulo, em 1979. Foi Presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores -regional de São Paulo nos biênios 2017-2018 e 2019-2020. Foi Vice-presidente do Sudeste da SOBRAMES no biênio 2019-2020. Marcia é uma premiada escritora de estilo poético e reflexivo. Ocupa a cadeira 34 da Academia Brasileira de Médicos Escritores (ABRAMES) e a cadeira 12 da Academia Cristã de Letras (ACL). É membro do Movimento Poético Nacional.
Este livro - Em terras distantes li estrelas - apresenta 81 poemas inspirado em notáveis poetas internacionais. Como os leitores poderão comprovar a autora expressa nos poemas contidos neste livro os sentimentos despertados a ler os textos dos poetas escolhidos. Como se lê na contracapa desta obra ”a autora consegue, no amplo universo literário, contemplar 81 estrelas que continuam iluminado nossas vidas com frases inesquecíveis e versos imortais”.
Como já disse Célio Faria, “ler é como degustar uma boa safra de vinho, mas escrever é fabricar o próprio VINHO! ”.
Certamente em terras distantes li estrelas é de uma excelente safra!
2) Milagre no Paraíso
Ficha técnica do Filme Milagre no Paraíso
Data de lançamento: 21 de abril de 2016 (Brasil)
Diretora: Patricia Riggen
Música composta por: Carlo Siliotto
Canção original: Your Words
Adaptação de: Milagres do Céu
Companhia(s) produtora(s): Affirm Films; Roth Films; Franklin Entertainment
Elenco principal:
Jennifer Garner
Kelly Rogers
Anna Baem
Martin Henderson
Eugênio Derbez
Dana Elaine Owen
RESENHA :
Christy e Kevin Beam são pais de três garotas: Abbie, Annabel e Adelynn. Cristãos convictos, os Beams vão à igreja com frequência. Um dia, Annabel começa a sentir fortes dores na região do abdômen. Após muitos exames, é constatado que a garota possui um grave problema digestivo. Tal situação faz com que Christy busque a todo custo algum meio de salvar a vida da filha, ao mesmo tempo em que se afasta cada vez mais de sua crença em Deus.
O longa “Milagres do Paraíso” é baseado em fatos e fala sobre religião, amor, família e fé. É baseado no livro do mesmo nome.
Esse filme tem um final surpreendente.
Esperamos que essa dica agrade a todos.
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=G-Gaeyzk6Ds
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