Augusto Gomes de Mattos nasceu no Rio de Janeiro no dia 4 de junho de 1899. Cresceu em uma chácara no Alto da Tijuca. Quando era pequeno, sua família era muito rica. Ele, e seus nove irmãos estudaram em sofisticados colégios internos. Augusto Gomes de Mattos optou pela medicina, apesar de seu pai ser engenheiro naval. Formou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1924. A conclusão de sua graduação coincidiu com a ruína financeira de sua família.
Recém formado e sem alternativas de trabalho, conseguiu um posto de médico em um pequeno hospital da companhia de Águas do Rio Claro, no interior de São Paulo. De lá mudou-se para a cidade de São Paulo. Os dez primeiros anos em São Paulo foram de muito trabalho e sacrifício. Inicialmente residiu no bairro de Jabaquara, onde abriu um pequeno consultório em um lugar paupérrimo. Os Drs. Mário Margarido Filho e Chiafarelli o apoiaram no início da carreira. Augusto Gomes de Mattos foi assistente destes dois médicos no consultório que mantinham no centro da cidade, na rua Barão de Itapetininga. Ao mesmo tempo encontrava tempo para atender seus próprios pacientes no bairro do Ipiranga. Atravessava a cidade de bonde com grande dificuldade.
Em 1931 fundou a “Clínica Infantil do Ipiranga”, mantida por trabalho voluntário de outros colegas por ele convocados. A clínica funcionava em uma pequena casa. Na época, este bairro era pobre e distante do centro da cidade. Muitas campanhas de arrecadação de fundos foram feitas para a construção dos prédios que abrigaram a instituição. Eles foram sendo construídos aos poucos.
Nos anos 40, o Conde Vicente de Azevedo, proprietário de boa parte das terras disponíveis do bairro do Ipiranga, doou um terreno onde a clínica foi ampliada. Com o tempo, a “Clínica Infantil do Ipiranga” transformou-se em um centro de excelência no atendimento pediátrico. Esta instituição passou a ter dois serviços de Ambulatório: um de Pré-natal e outro de Puericultura e Pediatria, com atendimento longitudinal da criança. Ela teve ainda a Unidade de Internação, o Serviço de Emergência e de Cirurgia Pediátrica, com uma enfermaria pediátrica piloto. Em termos de diagnóstico, passou a dispor de laboratórios e aparelhos de Raio-X. Sob a direção de Augusto de Mattos, a Clínica Ipiranga transformou-se não apenas num centro de referência em assistência à criança, mas num verdadeiro pólo de atração para formação pediátrica. Como não havia internato, nem residência médica, muitos médicos, a partir do quinto ano, freqüentavam a Clínica do Ipiranga, para aprender a ser pediatra, inclusive porque sua biblioteca pediátrica era uma das melhores do país.
Gomes de Mattos revelou-se um inovador. Durante os 37 anos dedicados à “Clínica Infantil do Ipiranga”, introduziu o sistema do rooming-in, ou alojamento conjunto – hoje tão usual, e o ambulatório de Puericultura e a Residência Médica. Durante muito tempo, a “Clínica Infantil do Ipiranga” foi o único estabelecimento privado a poder fornecer o Título de Especialista em Pediatria, da cidade de São Paulo. Vinham para a “Clínica Infantil do Ipiranga” médicos de diferentes regiões do Brasil, visando obter este título. Além disso, idealizou e criou, no bairro do Paraíso, o primeiro Pronto-Socorro Infantil particular da cidade (1950). Muitos médicos da “Clínica Infantil do Ipiranga” vieram com ele trabalhar no Pronto Socorro.
Em termos científicos atacou um dos principais problemas que afetavam as populações de baixa renda ao nascer: Tétano, resultante de infecção da ferida umbilical (o mal-de-sete-dias). Seu estudo sobre a proteção do recém-nascido contra o tétano umbilical pela imunização da gestante com anatoxina tetânica ganhou o Prêmio Nestlé de 1953. A solução apontada por ele era a imunização ativa da gestante com Anatoxina Tetânica. Após este trabalho, a vacinação sistemática da gestante contra o tétano passou a ser obrigatória. Ela levou à diminuição da alta incidência de tétano umbilical. Infelizmente Gomes de Mattos publicou esta sua descoberta em português. Um outro cientista o fez em inglês. Caso contrário, esta prática de Saúde Pública, adotada em todo o mundo, deveria ter sido chamada, por questão de justiça, de Método Gomes de Mattos.
Durante estes anos não descuidou de seu consultório particular. Do modesto primeiro consultório do Jabaquara, mudou-se para a Vila Mariana, onde residia, e depois, com diversos médicos, montou uma pequena clínica na rua Barão de Itapetininga. Finalmente, organizou o consultório na Av. Paulista, onde constituiu grande clientela. Sua vida ficou dividida entre a Clínica Ipiranga, onde trabalhava pela manhã até o meio da tarde, e o consultório particular, onde terminava o dia.
Em termos de militância associativa, ajudou a fundar e presidiu a Sociedade de Pediatria de São Paulo (1970-1971). Atuou também na “Associação Paulista de Medicina”, na “Sociedade Paulista de Medicina e Higiene Escolar” e na “Sociedade de Medicina Social e do Trabalho”. Com a colaboração da Dra. Maria Aparecida Sampaio Zacchi, editou e lançou a revista “Pediatria Prática”, ainda hoje órgão oficial da entidade. Entre os temas abordados em seus artigos, escritos com rigor científico, encontramos Gomes de Mattos analisando as doenças agudas do aparelho respiratório, o reumatismo articular agudo, o raquitismo, a sífilis, a meningite, a coqueluche, o sarampo, o BCG e a anemia falciforme. As doenças obstétricas do recém-nascido – como a Sífilis Congênita – mereceram de sua parte enorme atenção. Em 1963 lançou o livro “Emergências em Pediatria”, escrito com vários colaboradores, que ainda hoje é uma referência para os médicos que atendem pronto socorro infantil.
Augusto Gomes de Mattos faleceu na cidade de São Paulo no dia 22 de março de 1978. Ele foi homenageado pela Sociedade de Pediatria de São Paulo, sendo indicado como patrono da Cadeira 8 da Academia Brasileira de Pediatria.
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