Luiz Osório Serafim nasceu em 14 de setembro de 1942, em Tucurunduva, município de Santa Rosa, Rio Grande do Sul, pertinho de Santo Ângelo, berço da histórica coluna Pestes que nos anos 20 levantou a bandeira da liberdade. Ali nascia o grito da revolta contra a opressão, o obscurantismo do governo Arthur Bernardes. Talvez por essa razão Serafim tenha lutado sempre em defesa da liberdade e de causas fundamentais, entre elas, a defesa dos direitos das crianças e adolescentes e a prática de uma medicina ética e voltada para o social. Discreto, de boas maneiras, olhar transparente, de poucas palavras, sincero, amigo leal, virava uma fera na defesa das teses em que acreditava.
Serafim era filho de imigrantes italianos e alemães que se estabeleceram no extremo sul do país no início do século XX e que se dedicaram a agricultura. Estudou em colégios particulares em Santa Rosa e, em Porto Alegre, foi interno em um ginásio católico alemão.
Formou-se em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1966. Nos dois anos seguintes fez residência em Pediatria no serviço chefiado por Luiz Torres Barbosa, no Hospital dos Servidores do Estado, no Rio de Janeiro, considerado um dos melhores do país. Apesar do grande número de candidatos, foi um dos escolhidos. Torres Barbosa selecionava os candidatos pessoalmente. Fazia uma longa e minuciosa entrevista e levava em consideração o estado de origem do candidato, pois uma de suas maiores preocupações era que seu serviço capacitasse profissionais para diversas regiões do país, principalmente para as menos privilegiadas, o que conseguiu ver concretizado.
Pela competência, capacidade de trabalho, liderança, Serafim foi convidado a ocupar a Chefia dos Residentes da Pediatria, do Hospital dos Servidores do Estado.
A convivência diária promoveu o namoro e o casamento de grande número de residentes, entre eles o de Serafim, gaúcho, com Consuelo Candida Peixoto, maranhense, que se casaram em Brasília, sendo padrinho Antonio Marcio Junqueira Lisboa, que havia sido preceptor de ambos no Setor de Neonatologia do Hospital dos Servidores do Estado.
Em 1967, Antonio Márcio Junqueira Lisboa, preceptor da Residência do Serviço de Pediatria do Hospital dos Servidores do Estado, foi convidado e assumiu a chefia do Serviço de Pediatria da recém-criada Faculdade de Ciências da Saúde, da Universidade de Brasília. Para compor o quadro de professores convidou alguns de seus ex-residentes para acompanhá-lo na organização do novo serviço, entre eles, o Dr. Luiz Osório Serafim, que aceitou o convite e transferiu-se para Brasília em 1969.
No Serviço de Pediatria da Unidade Integrada de Saúde de Sobradinho, hospital de clínicas da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília, demonstrou toda seu potencial como médico e professor. Carinhoso no trato das crianças e suas famílias, respeitado e querido pelos colegas e pelos alunos, dedicado integralmente ao serviço, e competente administrador, coordenou o Setor de Pediatria Geral, o estágio dos alunos na comunidade, a disciplina de Medicina Integral de Crianças, o Internato e a Residência em Pediatria. Por onde passava imprimia sua marca e deixava saudades. Pelos seus méritos, assumiu a Chefia de Clínica do Serviço de Pediatria da Universidade. Extremamente organizado, profissional competente, trabalhador, sempre presente, conquistou o respeito dos alunos, dos professores e dos colegas doa Unidade, da Faculdade de Medicina e da Universidade de Brasília.
Em 1972, junto com Antonio Marcio Lisboa, participou da elaboração do anteprojeto para a organização e instalação do Departamento de Pediatria da Faculdade Regional de Medicina de São José do Rio Preto.
Em 1973, abriu mão de sua brilhante carreira universitária por pressentir que pressões políticas oriundas da cúpula militar, que então dominava a Universidade, estavam interferindo nas atividades acadêmicas. Pressões essas que, posteriormente, culminaram por afastar o Professor Antonio Marcio Lisboa da Universidade de Brasília, por quase uma década.
No início de 1973 Serafim, brilhantemente aprovado em primeiro lugar, em concurso público entrou para o quadro de pediatras da Fundação Hospitalar do Distrito Federal e passou a trabalhar no Hospital Regional da Asa Sul. Um ano após, solicitou transferência para a recém-inaugurada Unidade de Pediatria do Hospital Regional de Taguatinga, onde acreditava poder desenvolver uma pediatria de cunho social, mais abrangente, e mais humanitária. Por sua competência, foi nomeado Chefe da Unidade, cargo que exerceu durante dez anos, Em 1975, foi aprovado no concurso para médicos pediatras do Hospital das Forças Armadas, onde passou a trabalhar pelas manhãs. Mais uma vez, por sua competência e amor pelo ensino, foi eleito coordenador do Internato e da Residência em Pediatria, nos dois hospitais. Ao completar 20 anos, a direção do Hospital das Forças Armadas batizou o 8º andar com o nome de Luiz Osório Serafim, em reconhecimento ao muito que ele havia feito pela instituição.
O Professor Antonio Marcio Lisboa, pressionado e perseguido pela cúpula militar da Universidade de Brasília, foi obrigado a se afastar da Faculdade de Medicina. Em 1976, fez concurso público para a Fundação Hospitalar do Distrito federal, foi aprovado e, por ironia do destino, foi lotado na Unidade de Pediatria do Hospital Regional de Taguatinga, chefiada pelo Dr. Serafim, seu amigo, ex-residente e ex-assistente. Ai, voltou às suas origens, passando a chefiar o Setor de Neonatologia e a trabalhar com Serafim no desenvolvimento de atividades sociais ligadas à Pediatria.
Serafim chefiou a Unidade de Pediatria do Hospital Regional de Taguatinga por mais de dez anos, transformando-a em uma das melhores de Brasília. Mais uma vez, firme e resoluto, por não aceitar pressões políticas, como era de seu feitio, preferiu se demitir da Chefia do Serviço. Assim era ele: gentil, cordato,mas invencível nas convicções marcadas pelo respeito ao trabalho e à condição humana.. Em 1984, saiu do Hospital de Taguatinga para organizar o serviço de pediatria em outra unidade da Fundação que estava sendo inaugurada. Nunca teve consultório particular, preferindo atender aos mais necessitados.
Luiz Osório Serafim era um lutador pelas causas sociais. Combatia a desnutrição e a mortalidade infantil, os maus-tratos, a pobreza. Organizou o Banco de Leite Humano e implantou o Programa “Mãe Acompanhante”, nos hospitais de Taguatinga e Asa Norte.
Apaixonado pela sua profissão esteve sempre ligado às instituições científicas e de defesa da classe médica.
Foi membro das diretorias do Sindicato dos Médicos, da Associação Médica de Brasília, do Conselho Regional de Medicina Em todas elas teve a oportunidade de demonstrar seu compromisso de devoção e lealdade com a classe médica e a disposição de servi-la acima dos interesses pessoais ou profissionais. Sua postura serena e firme, seu trabalho discreto e eficiente, embora avesso a aparições públicas ou discursos arrojados, estava sempre disponível para assumir a parte mais pesada e difícil das atividades, o que lhe rendeu o respeito de seus colegas.
Foi um dos fundadores da Sociedade de Pediatria de Brasília, onde exerceu os cargos de Secretário e Vice-Presidente. Participou ativamente da Sociedade Brasileira de Pediatria, como membro de seu Comitê de Pediatria Social. Membro da “American Academy of Pediatrics”, do Conselho de Saúde do Distrito Federal, da Comissão Nacional de Residência Médica do Ministério da Educação. No Conselho Regional de Medicina ocupou, durante alguns anos, o cargo de Presidente da Comissão do Título de Especialista.
Em 1971, participando de um Curso de Pediatria Social em Córdoba, Argentina, fez uma tão brilhante exposição sobre o ensino da Pediatria na Universidade de Brasília que foi aplaudido de pé, pelos alunos e professores.
Sua maior emoção foi receber uma salva de prata da Sociedade de Pediatria de Brasília com os dizeres “Ao mestre Serafim,a homenagem dos pediatras de Brasília.”
Luiz Osório Serafim faleceu precocemente, em 8 de julho de 1988. Os primeiros sintomas do câncer de pâncreas, que levou sua vida, apareceram em meados de janeiro de 1988. Menos de seis meses depois, ele veio a falecer, com 45 anos de idade e toda uma vida pela frente.
Luiz Osório Serafim foi homenageado pela Sociedade de Pediatria de Brasília, sendo indicado como patrono da cadeira 28 da Academia Brasileira de Pediatria.
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