Nicola Albano nasceu em 20 de outubro de 1935, na cidade do Rio de Janeiro, filho de pai imigrante italiano e mãe filha de italianos, educada na Itália.
Tornou-se um intelectual, sob a influência da mãe: tinha gosto pela música, pela pintura, pela leitura, tocava piano, apreciava o canto e a dança. Falava várias línguas e adorava comprar livros que falassem de tudo, sobre tudo. Chegou mesmo a fazer um curso de crítico de cinema. Nunca foi um mero espectador: foi sempre o centro de qualquer reunião, fosse elas familiares, científicas ou não. Era o elo de união da família, conselheiro e amigo, filho carinhoso, cuidou da mãe com desvelo até o fim de sua vida.
Possuía um forte lado religioso, sendo devoto de Santa Clara e de São Francisco, freqüentava a missa aos domingos e lia a Bíblia. Tinha, contudo, múltiplas facetas: exercitava o bom gosto com classe. Adorava antiguidades, que comprava sem olhar o preço. Era completamente incapaz de lidar com dinheiro. Generoso, despreendido, modesto, manifestou um sonho: o de ter um sítio, com uma familia, filhos e muitos animais. Chegou apenas a ter o sítio, como parte desse sonho. Aliás, lá havia uma produção de legumes e verduras que doava toda, semanalmente, aos pobres da Igreja. Entre as crianças, confundia-se com elas e seu trabalho sempre foi a elas dedicado. Amigo leal, estava sempre pronto a ajudar quem dele se aproximasse.
Em 1961, graduou-se em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas do Rio de Janeiro. Em seguida , tornou-se estagiário no Hospital do Servidor Público do Estado do Rio de Janeiro, serviço do Professor Luiz Torres Barbosa, onde permaneceu por 7 anos, sempre trabalhando com recém-nascidos.
Em 1965 foi nomeado médico da Maternidade Fernando Magalhães e em 1968 foi convidado a chefiar o berçario da UERJ, onde iniciou intensa carreira acadêmica. Acumulava duas chefias, desempenhando-se com grande maestria. Na UERJ tinha alunos de graduação e estagiários. Como todos quizessem ser seus estagiários, e não havia vagas suficientes, esses estagiários não se importavam em renunciar às camas e dormir no chão, para poder ter o privilegio de conviver com Nicola. Assim, sem mesmo se dar conta, estava fazendo uma escola de neonatologia.
Em 1972, a pedido dos médicos, passou a freqüentar, graciosamente, o Instituto de Pediatria Martagão Gesteira, da UFRJ, para promover discussões de casos, e lá foi ficando. Em 1980 foi convidado a ser Professor colaborador na UFRJ e em 1982 foi efetivado como Professor assistente. Em 1984 defendeu sua tese e passou a Professor adjunto. Ficou na UFRJ até 1993, ano de sua morte.
Mas não foi apenas nessas instituições que trabalhou como chefe de berçário. Entre 1976-78 foi para o Instituto Fernandes Figueira e passou a se desdobrar para atuar em 4 instituições. Professor, adorado pelos alunos, despertava e incentivava neles a vontade de aprender. Sempre dava oportunidade aos mais novos e os ajudava em suas lides acadêmicas ou como recém-formados. Foi paraninfo da turma que se denominou “Nicola Albano” e também patrono. Sua “escola de neonatologia” se consolidava e se firmava como especialidade. Em 1977, a convite do Professor de Obstetrícia Domingos Machado, foi para a Bahia e, durante 45 dias ajudou a montar o IPERBA, o primeiro Instituto de Perinatologia do Brasil. Montou a Unidade Neonatal, deixou as rotinas médicas e a infra-estrutura para que o serviço pudesse crescer por si só.
Em 1978, juntamente com o Dr. Luiz Eduardo Vaz Miranda, seu ex-estagiário, montou um serviço novo : o Centro de Perinatologia do Rio de Janeiro, CEPERJ, com o qual sonhava desde há muito. Inicialmente localizado no hospital S. Vicente, lá permaneceu por 4 anos. Em 1982 veio, contudo, a realização completa do sonho: o CEPERJ autônomo, não somente assistencial, mas muito envolvido na produção científica e no ensino a residentes, do Rio de Janeiro, de outros estados e até mesmo internacionais, vindos da Colômbia, Uruguai e Perú. O CEPERJ organizou inúmeros cursos formadores de profissionais na especialidade e jornadas médicas. Cuidou, também, da área de enfermagem, promovendo cursos e treinamentos. Mas Nicola, sempre bem humorado e disposto, criava às vezes alguns problemas. Quando saia para fazer um transporte de recém-nascido, (e nem sempre era propriamente o escalado, mas ia assim mesmo) chegando à instituição de onde o recém-nascido deveria ser transferido, acabava rodeado pela equipe local e, assediado pelo grupo, passava a dar aulas, a discutir outros casos, segundo as necessidades que se apresentavam. Havia que ter paciência…No CEPERJ, estruturou reuniões científicas semanais, consideradas prioritárias, e que deram origem ao que é hoje o “Centro de Estudos Nicola Albano”.
Tinha um compromisso com o ensino: percorreu o Brasil ensinando neonatologia. Participou de inúmeros congressos da especialidade, publicou inúmeros artigos e ganhou vários prêmios. Procurava sempre se atualizar, frequentando congressos e cursos no exterior, chegando a fazer, por 3 vezes, o “Board” de revisão em Neonatologia.
Mas não foi apenas o profissional e o professor dedicado.
Procurou, também, dar parte de seu tempo à Sociedade Brasileira de Pediatria. Ocupou todos os cargos possíveis : Presidente em 1978-80, foi Secretário, Presidente do Comitê de Neonatologia, Diretor de Cursos e Eventos, Diretor Científico, Vice-Presidente por duas vezes, Presidente de Congresso Brasileiro.
Tinha inúmeros planos para o futuro, inclusive um livro autobiográfico. Não chegou a terminá-lo. Aí veio a tragédia. Em 24 de outubro de 1993, Nicola parou. Estava entre amigos, dançando, e foi traído pelo coração. Ficou um imenso vazio. A vida continuou, mas nunca mais seria a mesma coisa.
Esta rara e preciosa figura humana não terá substituto.
Nicola Albano foi homenageado pela Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro e pela Sociedade Brasileira de Pediatria, sendo indicado como patrono da cadeira 29 de sua Academia Brasileira de Pediatria.
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