Passados seis anos desse marco histórico, quando enfrentamos novos desafios, entre eles a pandemia de Covid-19, é inquestionável a significativa melhora na qualificação dos egressos desses programas. O médico residente, ao concluir seus três anos de formação, demonstra satisfação e qualidade em sua atuação no cenário profissional. Além disso, a publicação das matrizes de competência tem permitido um olhar mais atento à formação do pediatra, na qual residentes, preceptores e supervisores vislumbram claramente os verdadeiros objetivos dessa especialidade. Para aqueles que desejam um enfoque maior em determinadas áreas de atuação, há a possibilidade de, em média, mais dois anos de formação.
Os constantes avanços na medicina levaram a um aumento progressivo no número de especialidades e áreas de atuação (anteriormente denominadas subespecialidades). Em junho de 2024, o Conselho Federal de Medicina (Resolução CFM 2380) revisou e definiu as atuais 55 especialidades médicas legalmente constituídas e as 61 áreas de atuação no país, incluindo 21 áreas de atuação na Pediatria. Algumas dessas áreas são exclusivas dessa especialidade (por exemplo, neonatologia), enquanto outras resultam de formação comum com outras especialidades (como Neurologia Pediátrica e Pneumologia Pediátrica). Um requisito mantido desde os primeiros convênios para a criação de áreas de atuação em Pediatria é a exigência de que o profissional, para cursar programas de residência nessas áreas, comprove seu conhecimento como pediatra por meio do diploma de conclusão da residência em pediatria.
Os programas de residência em diversas áreas de atuação da Pediatria têm como objetivo formar profissionais com aprofundamento no conhecimento, competências e habilidades específicas de cada campo, visando a liderança, a produção de conhecimento, a coordenação de processos assistenciais e a formação de recursos humanos nessas áreas.
Dados da Demografia Médica do Brasil (2024) registram 47.718 médicos residentes em atividade, sendo 19.551 residentes de primeiro ano. Em 2024, havia 5.014 médicos em formação nos PRMs de pediatria, dentre os quais 1.817 eram residentes de primeiro ano (R1). Houve um aumento de 8,8% em relação ao número de residentes de pediatria do primeiro ano em 2018 (1.669). Destaca-se ainda que a neonatologia é a área de atuação com o maior número de residentes no primeiro ano (348 residentes).
No modelo norte-americano, a formação em áreas de atuação (denominadas subespecialidades) é chamada de fellowship. A tradução de fellow, dependendo do contexto, pode ser companheiro, parceiro ou especializando. Nesse modelo, o fellow, já tendo concluído sua formação como pediatra geral, assume um papel de maior protagonismo do que no programa de residência, sendo tutorado em novas competências e habilidades, mas atuando como parceiro ou assistente júnior da equipe. Ele se destaca em atividades que envolvem liderança, como preparação de reuniões clínicas, participação em pesquisas e publicações. Sem uma base sólida em pediatria geral, seu desempenho e aproveitamento seriam comprometidos.
Com a implantação do programa de residência em pediatria de três anos, algumas críticas surgiram em relação ao decréscimo de candidatos para programas em áreas de atuação pediátrica. Podemos interpretar essa mudança de diferentes formas, mas a mais provável é que os pediatras egressos, após três anos de residência, sentem-se habilitados, estimulados e seguros para exercer sua profissão. Esse era justamente o maior objetivo da reforma no programa de residência: formar pediatras plenamente capacitados para assumir seu papel assistencial. Ademais, é natural que apenas uma parcela dos pediatras tenha vocação e interesse em realizar formação adicional. Dessa forma, se por um lado os programas em áreas de atuação recebem menos candidatos, por outro, eles passam a contar com profissionais genuinamente vocacionados para essas áreas.
Com o objetivo de qualificar ainda mais a formação nos PRMs em Pediatria, o Grupo de Residências da SBP está desenvolvendo as EPAs, uma metodologia criada pelo Prof. Olle Ten Cate, professor emérito de educação médica da University Medical Center Utrecht, na Holanda. Esse processo está sob a supervisão do Prof. Gustavo Salata Romão, presidente do Comitê de Residência da Associação Europeia de Educação Médica (AMEE POSTGRADUATE COMMITTEE), responsável pela implementação das EPAs em países do Sul Global.
Ao longo dos anos, observamos com satisfação que os egressos dos programas atuais possuem amplos conhecimentos pediátricos, com habilidades e competências antes menos acessíveis. Frente aos desafios do século XXI, a instituição compulsória do programa de residência de pediatria em três anos reflete a célebre frase de Sir William Osler: "A melhor preparação para o amanhã é fazer o trabalho de hoje de forma excelente".