PALAVRA DA PRESIDENTE

Pediatria integrativa: cuidados personalizados para um maior bem-estar da criança

Dra. Sandra Grisi
Presidente da Academia Brasileira de Pediatria (ABP)
Membro da Academia Brasileira de Pediatria, cadeira nº 6

A medicina integrativa pediátrica pode ser definida como uma prática que combina terapias convencionais e complementares. É um campo com potencial significativo para beneficiar a saúde das crianças, ao oferecer um cuidado mais integral e que considera os aspectos físicos, emocionais, mentais, espirituais e ambientais. A partir de uma abordagem biopsicossocial a pediatria integrativa tem sido utilizada na prevenção e promoção da saúde, favorecendo mudanças de estilo de vida, além de expandir opções de tratamento para as doenças com condições complexas ou crônicas, nas quais os recursos terapêuticos muitas vezes são limitados. O campo preenche lacunas importantes no atendimento pediátrico e acumulou um conjunto robusto de evidências científicas que sustentam sua adoção.

As práticas integrativas vêm sendo recomendadas pela Organização Mundial da Saúde e reconhecida pela Academia Americana de Pediatria (AAP), levando em consideração todas as dimensões do cuidado à saúde e a possibilidade de oferecer tratamentos menos invasivos, menos sujeitos a efeitos adversos e menos dispendiosos, mas que sejam seguros e com eficácia comprovada. Também é reconhecida como uma estratégia que favorece tratamentos mais individualizados, fortalecendo a relação médico-paciente. É um campo relativamente novo e por isso tem sido objeto de um crescente interesse na literatura científica.

Assim sendo, a Pediatria Integrativa é uma área em constante evolução, fruto do avanço no conhecimento, havendo, atualmente, diversas modalidades terapêuticas que vêm se demonstrando seguras e eficazes, podendo ser utilizadas como intervenções não farmacológicas no alívio de diversos sintomas: acupuntura para dor crônica em crianças e adolescentes; fitoterápicos, yoga e mindfulness para alívio de sintomas de depressão e ansiedade; musicoterapia na reabilitação de crianças com transtorno do espectro autista entre outros. Essas práticas vêm demonstrando potencial para o enfrentamento desses desafios na atenção à saúde.

No Brasil, a Medicina Integrativa foi institucionalizada com a formulação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde (PNPIC) pelo Ministério da Saúde em 2006 e, desde então, vêm se ampliando com a incorporação de novas práticas ao rol inicialmente proposto. Conta, atualmente, com 29 práticas reconhecidas pelo Ministério para a Medicina Integrativa, que devem ser utilizadas de modo personalizado, conforme as crenças e valores da família da criança em questão.

   O aumento da oferta e da procura por práticas integrativas e complementares em saúde (PICS), tanto no setor privado quanto no público, evidencia seu potencial no cuidado da população e na saúde pública. Uma revisão sistemática sobre a prevalência de uso de terapias complementares entre crianças e adolescentes, incluindo 385.527 participantes de diversos países, revelou que essas práticas são adotadas por 23% a 77,7% das famílias, variando entre as diversas regiões. Os autores concluem que o uso de práticas complementares é alto e que pode estar aumentando. Esse panorama evidencia a necessidade de maior capacitação profissional do pediatra. Dessa forma, a Academia Americana de Pediatria (AAP) reconhece a necessidade de fornecer informações confiáveis, cientificamente embasadas e d​​e qualidade para dar suporte aos pediatras na sua prática clínica.

Além da necessidade de capacitação, ampliação das evidências e disseminação do conhecimento, persistem outros grandes desafios, como o direito, ampliação da oferta, acesso a essas práticas e sustentabilidade dos serviços a partir do financiamento na saúde pública e privada. 

Referências e sugestões de leitura:

  1. Esparham A, et. al. Pediatric Integrative Medicine: Vision for the future. Children (Basel). 2018; 5(8): 111. DOI: 10.3390/children5080111
  2. Leach, Matthew J. et al. Prevalence of Complementary Medicine Use in Children and Adolescents: A Systematic Review. Journal of Pediatric Health Care, 2024, Volume 38, Issue 4, 505 – 519
  3. McClarffety, H. et all - Pediatric Integrative Medicine - Pediatrics (2017) 140 (3): e20171961
  4. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares: https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saps/pics/pnpic
  5. Tesser, C. D., Sousa, I. M. C. de, & Nascimento, M. C. do. (2018). Práticas Integrativas e Complementares na Atenção Primária à Saúde brasileira. Saúde Em Debate, 42(spe1), 174–188. https://doi.org/10.1590/0103-11042018s112
  6. Tröndle, M., Matheus de Souza, D., Tiziana Verardo Polastrini, R., Odone Filho, V., Seifert, G., Stritter, W., Blakeslee, S. B., dos Santos Teco Mucci, A. L., & Lage Pasqualucci, P. (2023). Perceptions of Health Professionals on the Implementation of Integrative and Complementary Practices at a University Pediatric Hospital in Brazil: A Qualitative Interview Study. Integrative Cancer Therapies, 22. doi.org/10.1177/15347354231192004
  7. World Health Organization. (2013). WHO traditional medicine strategy. 2014-2023 (WHO, Ed.). World Health Organization