Palavra do Presidente

Desafios na comunicação e o papel do pediatra

Prof. Dr. Jefferson P. Piva
Membro Titular da Cadeira nº 30 e Presidente da Academia Brasileira de Pediatria


Certamente, a revolução implementada na comunicação está entre os maiores feitos da humanidade no último século. É inimaginável o mundo de hoje sem esta forma am- pla, democrática e rápida de acessar informações e de nos comunicarmos. A exemplo de outras áreas da ciência, a Medicina alcançou também seus melhores resultados nos últimos 50 anos. Mas é um tanto paradoxal que o prestígio do médico, além de não crescer na mesma proporção, tampouco tem o mesmo vulto que possuía em passado recente. Múltiplas razões colaboraram neste sentido, dentre as quais destacam-se o maior número de profissionais envolvidos nos cuidados de saúde e a popularização de discussões de assuntos médicos fora do ambiente acadêmico onde, muitas vezes, as opiniões são emitidas por pessoas sem as devidas credenciais de conhecimento.

De fato, o comportamento da sociedade mudou, a forma de comunicação ganhou instantaneidade, velocidade e magnitude. Entretanto, em função dessa rapidez os assun- tos são abordados muitas vezes de forma superficial e inconsistente. Por isso, um dos maiores desafios atuais não é o acesso à informação, mas, sim, identificar e obter infor- mações qualificadas. Neste contexto, cabe destacar que o pediatra é tido como um dos especialistas com maior credibilidade e respeito por parte da população. Assim, apesar do prestígio médico não estar nos mesmos patamares de antigamente, as orientações do pediatra como autoridades em saúde infantil ainda têm grande relevância nas decisões de pacientes, familiares e público em geral. Nesse momento de proliferação de notícias sem fundamento que colocam em risco o futuro de uma geração de crianças brasileiras, o posicionamento do pediatra junto às famílias e público em geral é necessário e fundamen- tal! É inconcebível compactuar que avanços da ciência envolvendo intervenções seguras e eficazes já demonstrados à exaustão, como no caso do atual calendário vacinal, sejam boicotados por pessoas sem a menor qualificação ou respeitabilidade científica. Quem coloca em dúvidas a eficácia e a segurança das vacinas atesta sua absoluta ignorância tanto na área médica como nos fatos históricos. Desconhece quem foram Jenner, Sabin, Pasteur, assim como não tem a mínima noção de como foram controladas as epidemias de varíola, poliomielite, difteria, entre outros. Nesse cenário de obscurantismo, o pediatra, por sua autoridade e credibilidade, é um dos poucos profissionais de saúde com poder para desmascarar inverdades, restabelecer a ordem fáctica e trazer segurança às famílias.

É comum que, ao se aproximar do final de ano, façamos uma projeção para o ano vindouro com novas expectativas e desejos. Como pediatra, desejo que possamos assegurar a essa e futuras gerações de crianças e adolescentes um irrestrito acesso aos cuidados de saúde e educação. Desta forma, teremos maiores chances que nossa nação venha ser constituída por adultos produtivos, dotados de capacidade crítica e comprometidos com padrões de moralidade e ética. Mas isso tudo se inicia com um posicionamento imediato, firme e uníssono dos pediatras em nosso dia a dia.

Desejamos a todos um ótimo 2023 e que nossos sonhos se realizem.