A importância da infecção pelo HPV como problema de saúde pública em todo o mundo se dá pela sua elevada frequência e associação com vários tipos de neoplasias como câncer de colo uterino, pênis, vulva, canal anal e orofaringe, além de ser responsável pelas verrugas genitais, com comprometimento clínico e psicológico das pessoas afetadas.
Destaca-se que o HPV é o agente causal da neoplasia cervical e, além de impactar a saúde física da mulher, o câncer cervical traz impactos emocionais, financeiros e sociais e afeta de modo desigual mulheres e famílias pobres, pretas e pardas.
No Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), é o terceiro tumor mais frequente na população feminina e a quarta causa de morte de mulheres por câncer, sendo responsável por 17.010 novos casos de câncer e cerca de 7.000 óbitos por ano.
A vacinação contra o HPV é, portanto, uma consistente ferramenta para a prevenção dos cânceres relacionados a esse vírus e outras doenças associadas. A vacina HPV quadrivalente incorporada em 2014 no Calendário Nacional de Vacinações do Brasil protege contra os tipos virais 6, 11, 16 e 18. Os vírus 6 e 11 são responsáveis por 90% das verrugas anogenitais e os tipos 16 e 18, por 70% dos casos de câncer uterino.
A vacina é altamente eficaz nas faixas etárias ainda não expostas ao HPV, antes de iniciarem a vida sexual, induzindo a produção de anticorpos em quantidade muitas vezes maior do que a encontrada em infecção naturalmente adquirida. Atualmente, a vacinação contra HPV é voltada para meninos e meninas de 9 a 14 anos, homens e mulheres imunodeprimidos de 9 a 45 anos (pessoas vivendo com HIV/AIDS, transplantados e pacientes oncológicos), e vítimas de abuso sexual de 9 a 45 anos, que ainda não foram vacinados ou com esquema incompleto.
Esses dois últimos grupos, por apresentarem maior chance de adquirir uma infecção persistente e maior risco de desenvolver câncer e complicações relacionadas ao HPV.
O Brasil, em conjunto com 193 países, assumiu o compromisso junto à OMS de alcançar até 2030 a meta de 90% de cobertura da população de adolescentes para conseguir eliminar o câncer de colo de útero como problema de saúde pública. Apesar de comprovadamente segura e eficaz, além de disponibilizada gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (mais de 60 milhões de doses já foram distribuídas desde 2014), as coberturas vacinais seguem baixas e heterogêneas entre os estados: para as duas doses, em 2022 no Brasil, as coberturas médias para meninas e meninos de 9 a 14 anos, foram respectivamente 57,5% e 36,6%.
Algumas causas podem ser apontadas para explicar as baixas coberturas: desconhecimento da população, incluindo profissionais de saúde, dificuldades de acesso à vacinação e disseminação de notícias falsas relativas à segurança da vacina, desencadeando o medo e insegurança dos jovens e suas famílias, contribuindo para a hesitação vacinal, e prejudicando a adesão a esse imunobiológico.
Enfrentar os desafios associados a essa vacinação requer comunicação eficaz, profissionais de saúde com tempo e criatividade para atrair os adolescentes, envolvimento das escolas e acesso facilitado a vacinação. Nesse sentido, os pediatras têm um papel fundamental para ajudar a superar essas dificuldades, contribuindo assim, para que as crianças e adolescentes de hoje tenham um futuro livre do câncer cervical e outras doenças relacionadas ao HPV.
Bibliografia Consultada: