CULTURA

Jogo educativo inspira meninas a se tornarem cientistas

É possível falar que o exemplo vem da base. E, quanto mais figuras com destaque positivo em suas áreas são conhecidas, mais as pessoas tendem a seguir, principalmente crianças e adolescentes. Com base nisso, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), campus Blumenau, lançou o Projeto Mulheres Cientistas.

Um dos objetivos do projeto é popularizar a ciência entre a faixa etária escolar com o apoio de jogos. Levar o despertar pela ciência, pelo fazer ciência, de forma lúdica e acessível ao público. E o outro, o principal, é desmistificar a imagem do senso comum do cientista: homem branco de cabelos grisalhos, com uma inteligência fora do comum, transmitindo a ideia de algo quase inalcançável. “Mulheres Cientistas” quer mostrar que a ciência é para todos. Por isso, falar diretamente com crianças e adolescentes, principalmente com as meninas.

Pesquisa realizada pela Unesco, a organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, mostra que menos de 30% de pesquisadores no mundo todo são mulheres. O foco nas meninas em idade escolar também visa a Agenda 2030 e os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a partir do relatório do Fundo de População da ONU (UNFPA). Esse documento preconiza que a idade de 10 anos é crucial na vida de uma menina, pois é quando começa a passagem para a adolescência e a vida adulta. A falta de incentivo aos estudos, gravidez e casamentos precoces são cruciais no impedimento das futuras mulheres alcançarem o seu potencial, inclusive contribuindo com o desenvolvimento social e econômico de suas comunidades.

O jogo “Mulheres Cientistas” é uma adaptação do “Jogo do Mico” – jogo de cartas que tem por objetivo formar o maior número de pares, sem ficar com o Mico – e divulga mulheres científicas e suas contribuições para a ciência. Ele vem acompanhado do livreto “Ciência é substantivo feminino” com a história de várias cientistas. Dentre as homenageadas, estão a psiquiatra e psicanalista Nise da Silveira, a astrônoma Duília de Mello, a bióloga Mayana Zatz e a pediatra, professora e pesquisadora Ester Sabino, que coordenou o sequenciamento genético do coronavírus.

Para Ester Sabino, ser homenageada é algo especial, “principalmente pela minha formação como pediatra. Fico emocionada ao ver crianças conhecendo mais sobre nosso trabalho e também sendo estimuladas a vencer barreiras e ingressar na ciência”, afirma à época do lançamento do projeto. Ela completa dizendo que “chegar nas escolas é fundamental. Divulgar o mundo da ciência para as meninas é de extrema importância”.

A médica pediatra conta que foi muito difícil seu começo na ciência, pois o país tinha saído de uma ditadura de 30 anos e houve um êxodo muito grande de cientistas. Inclusive, ela própria foi estudar fora, nos Estados Unidos, mas sempre achou que seu lugar era no Brasil. Hoje, o cenário é melhor, mas ainda conta com limitações, principalmente de orçamento: “é preciso saber bem o que deseja fazer”.

Ester pontua que, mesmo em áreas com mais mulheres, como biomedicina e saúde em geral, há uma diferença de acesso, principalmente em altos cargos. “Quando virei diretora do Instituto de Medicina Tropical, eu percebi essa diferença nos cargos de liderança. A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo tem 100 anos, e só agora tem uma diretora mulher”.

A pesquisadora ganhou um prêmio com o seu nome, o Prêmio Ester Sabino para Mulheres Cientistas. Concedido pelo governo de São Paulo, visa valorizar a contribuição das mulheres à ciência do estado.

Coordenado pela professora Selene de Souza Siqueira Soares (UFSC), o jogo está sendo distribuído nas escolas de Santa Catarina, além da própria UFSC. O “Mulheres Cientistas” também é acessível. O baralho é tátil, voltado para pessoas com deficiência visual. O livreto conta com audiodescrição, as regras do jogo também estão em Libras. O acesso é para todos. Para inscrever uma escola no Projeto, é necessário acessar o site https://mulherescientistas.ufsc.br/.