O Instituto da Primeira Infância (IPREDE), localizado em Fortaleza (CE), trabalha com uma premissa: “acolher e cuidar do desenvolvimento da primeira infância com os conhecimentos da neurociência, oferecendo saúde de excelência, arte, cultura e educação para nossas crianças”. É preciso voltar no tempo para saber como começou essa jornada, como conta o pediatra Sulivan Mota, presidente do Instituto: “Quando foi fundado, em 1986, era Instituto de Prevenção da Desnutrição e da Excepcionalidade, e tínhamos aqui mais de um terço de nossas crianças desnutridas, e com formas graves de desnutrição. Então, por muito tempo, combatemos a desnutrição. Ao perceber que a desnutrição primária estava se reduzindo e que predominavam crianças de 0 a 6 anos, o nome mudou para Instituto da Primeira Infância e passamos a aplicar todos os conhecimentos de neurociência para o desenvolvimento das atividades com a criança”.
OS PILARES DO IPREDE
A atuação do IPREDE se baseia em quatro pilares. O primeiro é a base pedagógica. Nenhuma ação é colocada em prática no Instituto sem base pedagógica, ou seja, “nada de colocar para ver se é bom, para ver se dá certo”, afirma o Prof. Álvaro Jorge Madeiro Leite, coordenador do Ambulatório de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento (PDC). Todas as ações implantadas já foram comprovadas como benéficas e eficazes.
O segundo pilar é o científico. Há convênios com todas as universidades sediadas em Fortaleza, assim como de outros estados e países. No Instituto se desenvolvem vários trabalhos de pesquisa, com interesse especial em estudos vinculados à teoria do apego (intervenção relacional), adversidades precoces na infância e ao autismo.
O terceiro pilar é enxergar a criança como um ser humano completo e “não só como um paciente, um ser desnutrido”. “Esse pilar estético é exercido através da arte, da cultura, para que se faça a educação civilizatória”, completa o presidente do Instituto.
O IPREDE oferece atividades de artes plásticas (pintura, desenho, escultura), fotografia, música, cinema, teatro, dança, contação de estórias, com espaço ateliê e brinquedoteca. Oferece ainda exercícios físicos e esportes, com a presença de educadores físicos para diversas aulas, como judô, por exemplo.
Cada atividade tem seu propósito de oferecer à criança a possibilidade de trabalhar sua imaginação e, principalmente, formar cidadãos capazes e com desejo de almejar mais. “A fotografia impulsiona o sentido investigativo da criança, a observação do ambiente, a visão da pessoa do outro através da imagem. A gastronomia, que antes era chamada de Arte Culinária, é uma alquimia que pega diversos elementos de forma notável e a criança começa a compreender que na vida ela não pode ser só isolada, ela tem que participar com o outro da vida. Então, a arte tem sido um elemento de transformação, de crescimento e de manifestação da sabedoria do espírito”, explica Álvaro.
O Instituto possui a Unidade Conecta, espaço que atende até 600 crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) diariamente. Muitas dessas crianças não vão pelo tratamento médico propriamente dito, mas para uma assistência ligada à dimensão artística. Elas praticam esporte, pintura e se desenvolvem em espaços com diversas atividades direcionadas, como Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Psicologia, Psicopedagogia, Musicoterapia, Integração Sensorial, Prática de Yoga, Jardim Sensorial, Games Interativos e Treinamento Social.
O quarto e último pilar é a sustentabilidade. Nada é desperdiçado! “Nós usamos talos, que são riquíssimos e que habitualmente vão para o lixo. Também usamos casca. Nós temos aqui pratos com casca de banana que a gente quer repetir de tão saboroso. É uma casa que tem nutrólogo, nutricionista e gastrônomo”, completa o coordenador.
APOIO ÀS MULHERES
Outra frente de trabalho do IPREDE é atuar junto às famílias, principalmente as mães: “A mulher que chega aqui é a mais sofrida da sociedade, com dificuldades de discernimento básicas, como noções de higiene. Ela não tem profissão, ela não é elogiada, ela não tem escolhas na vida. E, aqui, em dois anos e meio, ela já sai profissionalizada para inclusão produtiva e passa a ser a provedora da sua família (cerca de 40% das mães são chefes de família)”. Hoje, o Instituto atende 4 mil crianças, sendo 1.400 em alta vulnerabilidade social.