A necessidade da longa permanência de pacientes e acompanhantes em hospitais pode causar estresse e ansiedade, pois, além da normal preocupação com a saúde, há muitas horas ociosas. Por isso, projetos como o Dose de Leitura são de extrema importância para o ambiente hospitalar por levar cultura e distração.
O escritor Laé de Souza é o idealizador dos Projetos de Leitura, que possuem várias vertentes e públicos, como alunos de escolas públicas, funcionários que recebem cesta básica e ações em parques públicos. Referências no incentivo à leitura, as ações começaram em 1998 e possuem projetos aprovados pelo Ministério da Cultura e apoio de patrocinadores físicos e jurídicos.
O primeiro projeto foi o Encontro com o Escritor, no qual são emprestados livros para as escolas que desenvolvem atividades de leitura e recebem uma palestra de Laé. Daí surgiram ações em outros espaços, como parques, ônibus, praça pública e hospitais. Entre as unidades de saúde, 80 já receberam o Doses de Leitura.
Em entrevista ao Boletim da Academia Brasileira de Pediatria (ABP), Laé, que é poeta, cronista, dramaturgo, palestrante e produtor cultural, conta um pouco sobre sua carreira e os projetos que existem há mais de 20 anos.
Como o senhor iniciou sua carreira na literatura infantil? Os caminhos levaram a ela ou já era uma possibilidade que o senhor pensava desde sempre?
Iniciei como escritor escrevendo crônicas em jornais e com publicações de livros para o público juvenil e adulto. A partir dos meus projetos de incentivo à leitura nas escolas, era solicitado por professores que o projeto atendesse, também, alunos do ensino infantil. Assim, em 2008, publiquei o meu primeiro livro infantil “Quinho e o seu cãozinho – Um cãozinho especial”, criando meus primeiros personagens, que foram o Quinho e o cãozinho Radar. A partir daí, o projeto começou a atender, anualmente, alunos do ensino infantil e juvenil. Hoje, são 15 livros infantis, com o sexto da série Quinho e o seu cãozinho publicado neste ano.
Desde 1998, o senhor mantém o grupo Projetos de Leitura, com o objetivo de fomentar o hábito de ler pelo país. Como começou esse projeto?
Participei como ator e diretor de grupos de teatro amador levando peças teatrais às escolas. Sentia-me incomodado com o índice de leitura no país, então, com base na experiência de trabalhos nas escolas, percebi a possibilidade de iniciar atividades de formação de leitores entre os estudantes por meio de motivação à leitura. O que começou de forma acanhada deu certo e foi crescendo.
E como ele funciona? As escolas se inscrevem por meio das Secretarias de Educação?
No início do ano, recebemos manifestações de interesse dos municípios em participarem do projeto com as suas escolas. Definidos os municípios, enviamos os livros e materiais necessários ao desenvolvimento do projeto e um manual para o professor coordenar as atividades na escola. Entre as atividades, os estudantes escrevem textos que, ao final do desenvolvimento do projeto, são selecionados os melhores e publicados em uma coletânea lançada anualmente pelo projeto “Ler é Bom, Experimente”. Em 2023, será lançada a 13ª coletânea “As melhores histórias dos projetos de leitura” com sessão de autógrafos dos alunos participantes. Este ano participam estudantes dos municípios de Ubaitaba, Itaquara, Jaguaquara, Caetité, na Bahia, Icaraí de Minas (MG), Itaperuna (RJ), Aracaju (SE), Campo Novo do Parecis (MT), Iperó, Itanhaém e Cananéia, em São Paulo.
Um dos projetos do grupo é o Dose de Leitura, que leva livros para pacientes internados e seus acompanhantes. O Dose de Leitura é para adultos e crianças? Como ele funciona?
Para a realização do projeto, nós fornecemos um carrinho expositor e os livros. A escolha das obras é feita a partir do conhecimento do público atendido pelo hospital. Se infantil, fornecemos quantidade maior de livros infantis e um pouco para adultos destinados a acompanhantes. O projeto é realizado em parceria com a humanização hospitalar que se responsabiliza pela circulação do carrinho no hospital e entrega dos livros para leitura.
Caso alguma instituição de saúde queira participar, o que ela deve fazer?
Ela deve manifestar o interesse pelo e-mail [email protected]
Para o senhor, qual é o sentimento em ver o surgimento do hábito de leitura nos envolvidos pelos projetos, principalmente as crianças?
É uma satisfação imensa ver o interesse pela leitura como resultado da participação em um dos meus projetos de incentivo à leitura. Vez ou outra, em algum evento, encontro pessoas que declaram ter se tornado leitor após participar de um projeto. Isto me leva a crer que se tivéssemos mais projetos de incentivo à leitura, teríamos mais leitores. Hábito e prazer que deve ser despertado nas crianças para que se tornem leitores.
Quais são os próximos projetos do grupo?
O planejamento é aumentar ações de incentivo à leitura nas escolas, principalmente com estudantes do ensino infantil.