Renato S. Procianoy
Membro Titular da cadeira n. 11 da Academia Brasileira de Pediatria
A qualificação profissional passa pela constante atualização e, para isto, existem as publicações científicas que pretendem difundir novos conhecimentos. Por sua vez, também há uma pressão grande dos centros universitários internacionais e dos diversos órgãos de financiamento de pesquisa para que os profissionais vinculados à Academia publiquem. Em função disto, surgiu a necessidade de que se definisse a relevância e respeitabilidade das publicações, assim como a qualificação dos autores e as suas condutas éticas.
Esse texto tem como objetivo trazer alguns conceitos básicos aplicados às publicações científicas para entendermos o mundo editorial atual.
Fator de Impacto e CiteScore
Os periódicos científicos, a princípio, possuem dois clientes: os leitores e os autores. O objetivo dos leitores é ter acesso a artigos metodologicamente bem desenvolvidos que possam auxiliá-los nas suas práticas clínicas ou nas suas atividades de pesquisa. Por outro lado, o objetivo dos autores é ter uma ampla divulgação das suas pesquisas e ter uma publicação em periódicos considerados importantes no cenário internacional.
Em todas as especialidades médicas, identificamos periódicos importantes que não necessitariam de nenhum indexador para que os leitores e autores reconheçam sua relevância no cenário internacional. São publicações tradicionais, algumas centenárias, que historicamente publicaram artigos de grande impacto na prática médica. Da mesma forma, identificam-se em vários países periódicos médicos que influenciam a atividade médica na sua região. Por outro lado, com a crescente profusão de novos periódicos sem a devida tradição acadêmica, surge a dúvida do leitor: como avaliar a real contribuição (relevância) desses novos periódicos na Ciência atual?
Os parâmetros mais utilizados na atualidade para medir a importância de uma publicação científica são o Fator de Impacto e o CiteScore.
O Fator de Impacto é obtido através da divisão do número de citações naquele ano (identificados na base de dados da Web of Science) de artigos publicados nos últimos 24 meses por determinada revista dividido pelo número total de artigos publicados nos últimos dois anos nesta revista. Por exemplo, o fator de impacto de 2019 da revista Y é o número de citações identificados em 2019 de artigos publicados entre 2017 e 2018 na revista Y dividido pelo número total de artigos publicados em 2017 e 2018 pela mesma revista. A base de dados Web of Science inclui em torno de 11000 publicações e só leva em consideração os artigos citáveis (artigos originais e de revisão).
O CiteScore é medido da mesma forma que o Fator de Impacto, utilizando um período dos últimos quatro anos ao invés de dois anos. A base de dados utilizada é a base de dados do Scopus, que inclui mais de 23.000 publicações e leva em consideração todos os documentos indexados (artigos, revisões, cartas, notas, editoriais, artigos de conferências).
Figura 1. Diferença entre Fator de Impacto e CiteScore In. https://libguides.lb.polyu.edu.hk/journalimpact/citescore. Acessado em 20 de abril 2023.
O Fator de Impacto e o CiteScore são medidos anualmente e divulgados nos seus respectivos sites. O Fator de Impacto é divulgado no site Web of Science no item JCR (Journal of Citation Reports) que é um site de acesso limitado e o CiteScore no site do Scopus.
O Fator de Impacto e o CiteScore são índices que medem a importância dos periódicos científicos no universo científico. O periódico com maior número de citações pressupõe uma maior repercussão (respeitabilidade) daquela publicação no cenário internacional. Esses índices não deveriam ser utilizados para avaliar a importância de um pesquisador. O fato de que um autor publique numa revista com alto Fator de Impacto ou alto CiteScore não significa que o seu artigo seja excepcional. Há artigos publicados em periódicos com alto Fator de Impacto ou CiteScore que não foram referenciados uma única vez.
Por sua vez, quando um autor escolhe um periódico para publicar, ele deve ter em mente qual a população alvo do seu artigo. Nem sempre a população de leitores de uma revista com maior fator de impacto é, necessariamente, a população que o autor quer alcançar. Por exemplo, um neonatologista pode ter mais interesse de publicar um artigo numa revista de Pediatria do que numa revista de Cardiologia geral, mesmo que o artigo seja sobre canal arterial e o fator de impacto da revista cardiológica seja maior, uma vez que ele tem interesse que pediatras leiam o seu artigo e estes, em geral, não leem um periódico de Cardiologia geral.
Índice h
A qualificação acadêmica de um autor quanto à contribuição na sua área de conhecimento é avaliada pelo número de publicações que ele possui dentro da sua área de expertise. Para isto, os autores são avaliados e medidos pelo índice h que relaciona o número de publicações científicas com o número de suas citações, tornando-se um parâmetro avaliativo de um autor. Por exemplo, um autor tem índice h=20 quando seus 20 artigos mais citados tiverem pelo menos 20 citações cada um. Esta é uma forma mais adequada de medir a importância da produção científica de um pesquisador. Um determinado autor pode ter publicado inúmeros artigos, mas, se foram muito pouco citados terá um índice h baixo. Outro autor pode ter publicado um menor número de artigos, mas que foram muito citados, o seu índice h será alto. A produção científica deste segundo autor, embora numericamente menor, tem maior relevância acadêmica do que do anterior. Desta forma, diríamos que o segundo autor tem mais relevância na área de conhecimento que o primeiro.
Todos os sites que calculam métrica das publicações científicas também calculam o índice h dos autores. O índice h de cada autor variará conforme plataforma que está calculando o indexador, uma vez que a base de dados utilizada não é e mesma.
DOI
O DOI, Digital Object Identifier (Identificador de Objeto Digital), é um padrão de números e letras que identificam publicações. Ele faz essa identificação exclusivamente em ambiente virtual, dando ao objeto singularidade e permanência reconhecida na web. É a certidão de nascimento de um artigo e o seu localizador no ambiente virtual.
O DOI costuma ter uma boa localização: logo na capa ou embaixo do título da publicação. Nos artigos científicos, o DOI costuma ficar no cabeçalho ou nas notas de rodapé.
ORCID (Open Researcher and Contributor ID)
O ORCID é um código alfanumérico de 16 caracteres usado para identificar pesquisadores e autores acadêmicos, sendo exigido na maioria das publicações científicas. Ele foi criado para diferenciar pesquisadores com nomes semelhantes (evitar ambiguidade), sendo também muito útil quando o nome do pesquisador é alterado (p.ex.: pelo casamento ou divórcio). Pelo ORCID ocorre atualização do currículo porque informações sobre publicações e produções científicas que utilizem o código são atualizadas automaticamente. Outra vantagem é que o registro tem validade internacional.
Critérios de autoria
Existe um Comitê de Ética em publicações científicas, COPE (Committee on Publication Ethics), que normaliza as condutas éticas das publicações.
Para evitar que pessoas que não participaram de estudos tenham seus nomes acrescentados como autores de artigos simplesmente porque são chefes de Serviços ou Departamentos, foi criado e divulgado os critérios de autoria de artigos. A grande maioria das revistas solicita que os autores divulguem qual o papel de cada autor na elaboração do artigo a ser publicado.
Os critérios de autoria são: 1. contribuição substancial na concepção e projeto, ou aquisição de dados, ou análise e interpretação dos dados; 2. escrever o artigo ou revisá-lo criticamente e 3. aprovação da versão final a ser publicada.
Ferramentas que detectam plágio ou duplicidade de publicações
Atualmente, há várias ferramentas disponíveis para verificar a duplicidade de publicações científicas. Uma das mais frequentes é o "Turnitin" (www.turnitin.com), que é amplamente utilizado por instituições acadêmicas para verificar plágio e duplicidade de publicações. No entanto, o Turnitin é uma ferramenta paga e pode não ser acessível a todos. Outra ferramenta gratuita que pode ser usada para este fim é o "iThenticate" (www.ithenticate.com), que é especificamente projetado para publicações acadêmicas e científicas. Ele oferece um período de teste gratuito, mas requer uma assinatura para uso permanente. Além disso, algumas revistas oferecem seus próprios serviços de verificação de duplicidade, como o recurso "CrossCheck" fornecido pela Elsevier (www.elsevier.com/solutions/scopus/how-scopus-works/content/crosscheck).
Essas ferramentas mostram qual a porcentagem de plágio ocorreu no artigo e de onde foi plagiado cada item. Desta forma, o editor tem a possibilidade de avaliar a importância do plágio e se o artigo deve ser recusado por plágio ou não. Existem alguns lugares comuns em artigos que sempre irão aparecer como plágio, por exemplo, testes estatísticos.
Em última análise, este conjunto de ferramentas visam a oferecer aos leitores marcadores que permitam um juízo muito mais apurado sobre a qualidade de informações que recebem nas diversas revistas científicas disponíveis.