Dr. Ronald Pagnoncelli de Souza foi um médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1962. Escolheu como especialidade a Pediatria e a Saúde Escolar, dedicando-se ao atendimento de crianças e adolescentes, sendo em escola privada. Foi um dos pioneiros no atendimento dos adolescentes no Brasil e no Rio Grande do Sul. Dedicou-se à clínica pediátrica por 42 anos, nunca se descuidando do olhar clinico associado à compreensão psicodinânima dos problemas das crianças, seus pais e familiares – propiciando um atendimento mais humanizado e valorizando não só as queixas clinicas, mas a importância da saúde mental nos indivíduos. Foi um agregador de diferentes especialidades valorizando os diferentes olhares sobre o paciente e sua família/cuidador. Foi um precursor do atendimento em equipe multidisciplinar e interdisciplinar. Sabia da importância da discussão de casos e dos diferentes olhares sobre o paciente
Foi professor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em 1984, foi eleito pelo voto direto como vice-diretor da Faculdade e, em 1988, diretor da referida universidade.
Foi um dos responsáveis pela verdadeira revolução e modernização da Pediatria também no meio acadêmico no Rio Grande do Sul. Criou a Unidade de Adolescentes do HCPA em 1988 e trabalhou lá com supervisão dos profissionais no atendimento aos adolescentes.
Foi membro da Sociedade Brasileira de Pediatria por décadas, bem como do Comitê de Adolescência da instituição; é sócio-fundador e ex-presidente da Associação Brasileira de Adolescência (ASBRA), diretor da Revista da Adolescência Latinoamericana e sócio da International Association for Adolescent Health (IAAH). Publicou importantes trabalhos científicos em revistas nacionais e estrangei- ras, além de diversos livros.
Foi um dos sócios-fundadores e o primeiro presidente do Comitê de Gaúcho de Adolescência em 1984, voltado à discussão de casos e artigos científicos com reuniões mensais e com a participação de pessoas convidadas que também estavam curiosas e preocupadas com a saúde do adolescente. Inúmeras vezes propiciou que estas reuniões fossem em sua própria residência.
Tinha especial interesse na capacitação e trocas de experiências não só a nível nacional como internacional. Durante o Congresso Jornadas Gaúchas de Pediatria em 1985, coordenou o pioneiro Curso Medicina de Adolescente para troca de experiência e discussão cientifica.
Em 1998, no Congresso Brasileiro de Adolescência em Gramado, participou ativamente para o reconhecimento da área de atuação e o primeiro Título de Especialista de Pediatria com área de atuação em Medicina de Adolescente – Hebiatria no Brasil.
Pagnoncelli era médico de olhos vivos, voz e gestos suaves e sempre falou também com as mãos, como se conduzisse as frases até a ponta dos dedos. Circulava nos diferentes setores e tinha um livre trânsito nas diferentes especialidades como Psiquiatria, Ginecologia, Neurologia, Urologia, Endocrinologia bem com a Pedagogia, Nutrição, Psicologia, Serviço Social, Nutrição, Enfermagem, entre outras.
Nos últimos anos, dedicou-se exclusivamente a escrever livros científicos e para público leigo sobre a saúde da criança e do adolescente. Entre suas obras, estão “Semiologia e Atenção Primaria à Criança e ao Adolescente”, “Filhos sadios, pais felizes”, “Para entender o adolescente”, “A educação sexual de nossos filhos” e “Nossos filhos, a eterna preocupação”, entre muitos outros. Temos muito que agradecer o incentivo.
Para as gerações que o conheceram como médico pediatra e como aluno, colega, professor foi um exemplo de pessoa e de garra por viver, apesar das dificuldades que teve, e, também, na dedicação ao atendimento com excelência técnica e humanização e individualização no cuidado.
Na trajetória e evolução da Pediatria brasileira, identificamos alguns personagens marcantes que foram decisivos para nos tornarmos uma das mais respeitadas especialidades médicas de nosso país. Neste seleto grupo de líderes visionários e desbravadores, inclui-se o professor Dr. Pedro Celiny R Garcia, recentemente falecido (25/01/2023), aos 73 anos.
Dr. Celiny conclui seu curso médico na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e imediatamente é aceito para realizar residência de Pe- diatria no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro nos anos 1974 e 1975, onde foi chefe dos residentes e já se destacava por sua habilidade no cuidado de pacientes críticos. No retorno a Porto Alegre, é convidado para instalar e coordenar a primeira UTI pediátrica do estado, no Hospital São Lucas da PUCRS, onde permaneceu como chefe da unidade prestando assistência diária por mais de 4 (quatro) décadas. Foi pioneiro na formação de intensivistas pediátricos através dos programas de residência médica e com opções de estágios para estrangeiros, validados pelos convênios com Colômbia, México, Peru e Itália.
Na mesma época, inicia sua atividade docente no Departamento de Pediatria da PUCRS, que já contava com grandes lideranças da Pediatria gaúcha e brasileira como os Professores Antonio Spolidoro, Renato M. Fiori, José L. Pitrez, entre outros. Sua vocação como professor rapidamente se manifesta ao envolver-se com o ensino de graduação e pós-graduação, modificando disciplinas, aliando conhecimentos teóri- cos com atividade assistencial prática diária com seus alunos. Passa a ser referido por seus alunos como modelo de pediatra a ser seguido, sendo por isso mesmo alvo de repetidas homenagens. Por outro lado, suas habilidades como pesquisador eram latentes e intimamente motivadas por suas atividades docentes e assistenciais. Assim, alunos da graduação, residentes e pós-graduandos participavam de forma intensa e sinérgica em suas diversas linhas de pesquisa. Como resultado de sua intensa produção de conhecimentos, tem catalogado mais de 150 artigos na base Medline, publicou centenas de capítulos de livros, foi autor de seis edições do livro de Medicina Intensiva Pediátrica e centenas de temas livres. Foi inovador em suas pesquisas nos campos da sepse, choque séptico, índices prognósticos, sendo seus resultados referidos em inúmeros consensos. Por isso, mesmo era presença constante como palestrante convidado em congressos nacionais e internacionais.
Outra grande qualidade do prof. Celiny era sua constante procura pela qualificação e aperfeiçoamento profissional. Em 1983, realiza um fellowship de 1 ano em Boston na área de Medicina Intensiva Pediátri- ca, sob a orientação do Dr. Robert Krone. Posteriormente, faz períodos menores de treinamento no Children’s Hospital de Washington DC, com os Drs. Murray Pollack e Peter Holbrook. A partir daí amplia sua rede internacional de contatos com grandes referências internacionais da medicina intensiva pediátrica que contribuem decisivamente na qualidade e direcionamento de suas pesquisas. Essa grande rede permitiu também que vários ex-residentes e orientandos do Prof. Celiny acabassem sendo admitidos em diversas UTIs do Canadá, EUA, França, Inglaterra, entre outros.
Uma característica marcante do Prof. Celiny era sua enorme capacidade de liderar e aglutinar pessoas em torno de causas comuns. Por essa razão, acabou exercendo diversos cargos associativos na Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), na Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS) e na Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Como presidente da SPRS, adquiriu a primeira sede própria da sociedade, organizou congressos e presidiu o Congresso Brasileiro de Pediatria em Porto Alegre (1991). Na sua gestão como presidente da SBP foi construída a sede atual em Copacabana, no Rio de Janeiro. Como liderança na Medicina Intensiva Pediátrica, presidiu congressos regionais, estaduais, nacionais e internacionais da especialidade. Foi sócio-fundador da Socie- dade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP). Por sua atuação em prol da Pediatria brasileira, foi empossado em 1997 como membro Titular na cadeira n. 7 da Academia Brasileira de Pediatria (ABP).
Sem dúvida alguma, o Prof. Celiny escreveu uma história que engrandece a Pediatria gaúcha e brasileira, tornando-se um marco e referência tanto na Pediatria como na Medicina Intensiva Pediátrica de nosso país. É um dito popular que “a pessoa somente estará morta quando não houver ninguém mais a lembrá-lo ou a citá-lo”. Nessa perspectiva, po- demos afirmar que o Prof. Dr. Pedro Celiny R. Garcia estará vivo por aqui por muito tempo.