Identificados, geralmente, pelo tom claro de verde e pelo branco, os hospitais são ambientes que podem trazer angústia, principalmente para os pacientes infantis de longa permanência. Por isso, em 2003, foi lançada a Política Nacional de Humanização no SUS, que atua em várias frentes, desde a integração entre gestores, corpo de saúde e sociedade até formas de acolher os pacientes e sua família, observando suas necessidades dentro e fora do centro de atendimento.
Uma das preocupações foi tornar setores como tratamento e internação mais agradáveis para os pequenos pacientes. Sessões como músicos voluntários, aulas de yoga para as responsáveis e oficina de crochê são alguns dos eventos promovidos pelo Instituto da Criança (ICr), do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.
Em outra iniciativa para tornar o ambiente hospitalar menos frio, desde 2016, a ala de Nefrologia Pediátrica do ICr tem, em suas paredes, cerca de 30 obras do artista, pintor e desenhista Gustavo Rosa. As artes estão espalhadas por salas, quartos e corredores, levando leveza, cores e cultura para dentro do hospital. “A relação com o Instituto da Criança nasceu através da nossa Diretora Executiva, Roberta Gabriel, com a Dra. Andréa Watanabe e, naquele mesmo ano, implantamos o primeiro projeto na Unidade de Diálise do ICr”, explica Roberto Rosa, irmão do artista falecido em 2013.
E cada centro de atendimento, clínica ou hospital é previamente estudado: “Os projetos são customizados em função de cada ambiente, considerando as características do prédio e seu mobiliário. Parte-se da planta do imóvel e, tal um projeto arquitetônico, cria-se um projeto de comunicação visual onde as obras são aplicadas em escala e apresentadas, seção por seção, em plantas de elevação e plantas-baixas. São painéis, rodatetos, personagens recortados e aplicados nos tetos etc. A curadoria das obras é proposta nessas apresentações e podem receber contribuições de acordo com o beneficiário”, como explica Roberto.
Roberto conta ainda que a relação de Gustavo Rosa com a “área da saúde é antiga, a ponto de ter declarado, nos anos 90: ‘Quero a conexão com a classe médica e fazer minhas coloridas e oníricas situações carregarem de alegria não só os ambientes hospitalares, mas todos aqueles ligados à saúde’. E assim fez em ações com a Clínica de Olhos Dr. Moacir Cunha, com o então Hospital de Câncer de Barretos, atual Hospital de Amor, e com o Albert Einstein, todos recebendo obras e exposições que, por semanas, levavam arte lúdica e alto astral aos diversos públicos que por lá transitaram”.
Esse histórico de ações fez com que, juntamente com a equipe do Instituto Gustavo Rosa, instituição que preserva e promove a sua obra, buscasse outras oportunidades. Até que, em 2016, “ouvi do Wellington Nogueira, fundador dos Doutores da Alegria, frase que nos encorajou ainda mais a criar projetos e disponibilizar o acervo do artista e os propósitos do IGR às causas da saúde: ‘Roberto, a obra do seu irmão tem tudo a ver com humanização hospitalar”, conta Roberto.
Humanizar locais de atendimento de saúde, como o Instituto da Criança, auxilia no dia a dia de pacientes, responsáveis e equipe, como explica Roberto: “os benefícios físicos e psicológicos produzidos pelas artes em pacientes, familiares, equipes médicas e de enfermagem, bem como em todos que têm contato com elas nos ambientes para tratamentos da saúde, foram cientificamente comprovados em diversas pesquisas, entre elas uma do Chelsea & Westminster Hospital Arts, de Londres, que entre 1999 e 2002, produziu “A Study of the Effects of Visual & Performing Arts in Health Care, Chelsea and Westminster Hospital Arts, London, 1999/2002”, que finaliza falando sobre a ampliação dos projetos do Instituto: “inclusão de ações do Núcleo Educativo do IGR naqueles ambientes, interagindo com aqueles públicos, além de estabelecer outras mídias como suporte das obras, como equipamentos, roupas, máscaras, gorros e tudo o mais que nossa imaginação for capaz de criar para alegrar. Como queria o artista, nossa intenção é levar, onde possível for, arte, alegria e cultura!”.
Fonte das fotos: Site Guia das Artes