Há 60 anos a expectativa média de vida no Brasil situava-se ao redor dos 60 anos de idade. Alguns estudos estimam que uma em cada três crianças nascidas hoje na Grã-Bretanha atingirá os 120 anos de vida. Nunca a humanidade ganhou tantos anos de vida em um período tão curto. Em paralelo à redução da mortalidade observamos também o aumento de crianças e adolescentes portadores de condição médicas complexas ou crônicas, assim como, um número crescente de doenças até então pouco prevalentes como autismo e doenças genéticas. Nossa sociedade, neste mesmo período, sofreu grandes mudanças que modificaram valores e a própria estruturação social tais como: a composição familiar, a identidade de gênero, grande liberalidade e exposição a drogas lícitas e ilícitas, assim como, um excessivo apelo e valorização da sexualidade para crianças e adolescentes. Portanto, a perspectiva e os desafios da saúde infantil para este início de século são absolutamente diversos do cenário que tínhamos há 60 anos.
Neste contexto, deve-se destacar que o grande propósito da pediatria é propiciar as condições ótimas de desenvolvimento para que todas as crianças (tanto saudáveis como aquelas com alguma limitação) tenham condições orgânicas e estrutura psicológica para adquirir habilidades e competências visando sua inserção social, tornando-se independentes e produtivas. A sociedade futura de nossa nação será o reflexo e a consequência dos cuidados na educação e saúde que serão oferecidos a essa “nova população pediátrica”. Para tanto, na perspectiva da saúde, a infraestrutura assistencial pediátrica necessita moldar-se contínua e rapidamente aos novos desafios, oferecendo soluções qualificadas e resolutivas, quer seja no atendimento primário, quer seja no ambiente hospitalar. Aqui vislumbra-se um intransferível desafio para pediatras e, especialmente, para a Sociedade Brasileira de Pediatria: identificar e propor linhas de ação a serem adotadas rapidamente pelos gestores de saúde nos diversos âmbitos. Esse desafio já faz parte do DNA do pediatra que, historicamente, é respeitado e admirado por sua ação e envolvimento nos temas de saúde pública. Entretanto, pela dimensão dos desafios, pode-se antever que, neste novo século, o pediatra deverá ser ainda mais instigado a exercer sua liderança.
Portanto, para atender às novas expectativas e continuar sendo essenciais e decisivos na promoção da saúde da criança e do adolescente, os pediatras do século XXI necessitarão ser revigorados com incorporação de novas qualificações. Aliado ao domínio de campos essenciais da especialidade (empatia, conhecimento amplo e habilidades específicas para a prática pediátrica), necessitaremos dominar competências nos campos da inovação, pesquisa, liderança, comunicação e visão administrativa. Não temos tempo a perder, pois, a “nova população pediátrica” com seus desafios já está aqui!