Memória

A importância do Hospital Pequeno Príncipe para os pacientes infantis de Curitiba

Nos idos de 1917, Curitiba, capital do Paraná, sofria com a falta de saneamento básico, do acesso da população a informações sobre cuidados com a saúde e, consequentemente, com a morte precoce principalmente de crianças e bebês. Mortes essas evitáveis, como coqueluche, sarampo e infecções gastrointestinais.

Um grupo de mulheres, o Grêmio das Violetas, se reuniu neste mesmo ano, 1917, e conseguiu levar até a cidade uma filial da Cruz Vermelha. Dois anos depois, surgiu o Instituto de Higiene Infantil e Puericultura da Cruz Vermelha, sendo, assim, um endereço fixo e de referência para consultas dedicadas a famílias de baixa renda.

Com a Cruz Vermelha liderando campanhas de arrecadação de verbas, as obras do Hospital das Crianças foram iniciadas em 1922, tendo a sua inauguração em 1930. O hospital passa a ser administrado, além da própria Cruz Vermelha, pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR), tornando-se um local de estágio para os cursos de Medicina e Farmácia, fazendo com que várias especialidades fossem oferecidas ao público pediátrico.

Ainda na década de 30, os médicos César Pernetta, Raul Carneiro e Osíris Rego Barros ficaram responsáveis pelas enfermarias recém-inauguradas. A expansão do hospital fez que com que aumentasse sua capacidade de atendimento, permitindo que, apenas três anos depois de sua inauguração, o Hospital realizasse sua primeira cirurgia, uma laparotomia conduzida pelos Drs. Oswaldo Faria da Costa e Reinaldo Machado.

Outro marco importante protagonizado pelo Hospital foi ser a sede das reuniões da Sociedade de Pediatria do Paraná, criada em 25 de março de 1934 pelos próprios médicos da instituição.

O controle do Hospital das Crianças mudou de mãos. Saiu da Cruz Vermelha e passou para a Faculdade de Medicina; depois o governo federal assumiu seu controle. Enquanto isso, a capacidade da enfermaria subiu para 60 leitos e a instituição continuou atingindo outros marcos importantes, como a criação, já na década de 40, do popularmente famoso soro caseiro, amplamente conhecido pelos brasileiros, pelo Dr. César Pernetta.

Enquanto a capacidade de leitos era ampliada, o Hospital inaugurava o Pavilhão das Doenças Infecciosas. Outros Pavilhões foram criados ao longo das décadas de 50 e 60, como o de Ortopedia, Hemoterapia e Oncologia, enquanto a instituição lutava por sua sobrevivência, pois as verbas governamentais não eram suficientes para suprir todas as despesas. Voluntários criaram a Associação Hospitalar de Proteção à Infância Dr. Raul Carneiro em 1956 para ajudar na captação de recursos para Hospital, que passou a se chamar Hospital de Crianças César Pernetta.

Em 1971, o prédio do Hospital Pequeno Príncipe foi construído pela Associação em um terreno anexo ao do Hospital das Crianças, sendo considerado o primeiro voltado exclusivamente para o atendimento pediátrico. A primeira Unidade de Terapia Intensiva também exclusiva a esse pública foi inaugurada com quatro leitos. Hoje em dia, são 68 para Geral, Cirúrgica, Neonatal e da Cardiologia.

No final da década de 70, mais precisamente em 1979, o governo estadual cedeu o controle em comodato dos hospitais para a Associação Hospitalar e os serviços das duas instituições passam a ser unificados.

Novas UTIs são inauguradas, como a Neonatal, e programas para atender o paciente como um todo são criados, como Família Presente.

Os anos 2000 continuam sendo de muito trabalho e conquistas. Em 2003, foi criado o Instituto de Ensino Superior Pequeno Príncipe (IESPP), que passou a se chamar Faculdades Pequeno Príncipe; o primeiro curso de graduação oferecido foi Enfermagem. Em 2004, foram realizados o centésimo transplante hepático e o primeiro transplante cardíaco no Pequeno Príncipe. Em 2014, as Faculdades abriram sua primeira turma do curso de Medicina. 

Em 2006, foi criado o Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, o que possibilitou novas abordagens e inovações, como a parceria das Faculdades Pequeno Príncipe com o Instituto na criação de programas de mestrado e doutorado em Biotecnologia Aplicada à Saúde da Criança e do Adolescente.

Outros serviços foram inaugurados ou ampliados, como Oncologia e Hematologia e a nova unidade de Transplante de Medula Óssea (TMO), em meio à comemoração de seu centenário, em 2019.

Até hoje, o perfil do Hospital Pequeno Príncipe é filantrópico, por isso continua captando verbas e cooptando apoiadores. Em entrevista ao jornal Gazeta do Povo em setembro deste ano, Ety Cristina Forte Carneiro, filha de Ety da Conceição Gonçalves Forte, presidente voluntária da Associação Hospitalar de Proteção à Infância Dr. Raul Carneiro desde a sua fundação em 1966, afirmou que para manter o único hospital do Paraná que realiza procedimentos complexos pelo SUS usa a mente de uma gestora empresarial para a instituição sem fins lucrativos, pois mesmo com o reembolso do SUS há um déficit para cobrir as despesas do Hospital e manter o Instituto de Pesquisa. Por isso, a Associação tem parcerias com o setor privado e recursos via leis de incentivo.