Ralf Korbmacher é um Arquiteto de Identidades criado e formado no Brasil. Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela USP, desenvolveu sua carreira como criador de marcas em grandes multinacionais de branding e publicidade, trabalhando nas Américas, na Europa e no Oriente Médio com marcas de entidades como Bradesco, Barclay’s, Abril, Telefónica, Verizon, Holcim, Austrian Airlines, Chevron, Repsol, Carrefour, Mubadala, Emaar e Etihad Railways; de equipes como Real Madrid e Atlético de Madrid; e de cidades como Madrid e Saadiyat. Ralf vive atualmente em New York, mas trabalhou com a Diretoria da sbp em São Paulo e no Rio de Janeiro no desenvolvimento da nova marca.
As marcas hoje se entendem como bens coletivos. No caso de uma entidade associativista, essa propriedade é literal. O desafio é garantir que não só a direção eleita — que trabalhou no processo estratégico e na seleção das expressões criativas — se veja representada no resultado final, mas também 40 mil pediatras brasileiros. A marca da sbp não é uma marca para vender um produto ou serviço — ainda que, em algumas circunstâncias, o faça. É uma marca para representar um ideário coletivo, uma razão de ser. Esse é, na minha opinião, o maior desafio num processo dessa natureza.
Descobri a magnitude da responsabilidade do pediatra. São agentes que buscam garantir a cada indivíduo, na idade que mais importa, uma oportunidade para florescer como ser humano. E que, para que isso seja possível, têm que trabalhar também com os adultos implicados na construção desta oportunidade. Eu não conheço profissão com responsabilidade maior.
Aparece nos “Ps” com múltiplos estilos tipográficos, que juntos configuram um “P maior”. O importante é que cada “P” tem, por assim dizer, personalidade própria. A sbp é um reflexo em grande escala da família como unidade-base da sociedade — ou “tecnologia social” com milênios de êxito, como foi discutido nas sessões de trabalho. Tal como acontece nas famílias, por mais que haja valores e propósitos compartilhados — e, às vezes, material genético —, cada integrante é um indivíduo com personalidade, aspirações e inquietudes próprias. O objetivo foi celebrar essa aparente contradição. É uma tensão positiva que argumenta que a diversidade de um coletivo pode ser mais eficaz na consecução de (grandes) objetivos comuns que um coletivo no qual a individualidade é eliminada ou omitida do discurso ou representação. Acredito que essa mensagem de "integração na diversidade" é importante nos tempos que correm — não só no Brasil, mas no mundo todo — e para o futuro que nos espera.
Acredito que é uma ruptura no sentido de que deixou de representar o óbvio — a família no símbolo anterior, ou mesmo o bebê do Hospital dos Inocentes, no primeiro logo da entidade. A continuidade vem justamente pela transformação do “óbvio em inusitado” (Dante), visto que o conceito de família foi traduzido como pedra angular — a nível conceitual — da marca. É a família dos que cuidam das famílias. Ao invés de representar o núcleo familiar, representa-se o conceito da família de pediatras com o motif dos Ps — um motif, por sinal, que pode estender-se ad infinitum. Nesse sentido, acredito que representa não só continuidade (e expansão), mas perspectiva para um futuro no qual os associados se sintam mais representados na marca e cada vez mais integrados à “família de pediatras".
Todo trabalho de desenvolvimento de marca inclui recomendações quanto aos conceitos subjacentes e às precauções a observar na aplicação verbal e gráfica da marca. Mas não são receitas, são orientações. As grandes marcas são construídas com doses equilibradas de repetição — para fixar os conceitos mais importantes, estabelecer a identidade, garantir o reconhecimento da entidade através do material visual, do tom-de-voz, etc — e renovação. O importante é nunca perder de vista os princípios e as ambições que fundamentaram a proposta aprovada, e deixar que o talento daqueles que vão “educar” e “vestir” essa nova “criança" — a nova marca — proporcione as melhores oportunidades para que ela se torne muito mais do que todos possamos imaginar hoje.
Gostaria de reforçar a importância do conceito de família. Durante uma das sessões de trabalho, saiu o gesto de um abraço. A partir daí, fechou-se o círculo por associação, na família. Agora parece óbvio, mas as melhores ideias-força são mesmo assim. Espero que a mensagem seja tão contagiante entre os pediatras brasileiros como foi para nós que estivemos diretamente implicados no processo. Espero também que os associados venham a sentir-se parte de uma grande família. Foi uma honra e um prazer trabalhar com a direção da sbp, e espero que esses sentimentos sejam também evidentes no trabalho realizado.