Voltar ao Portal SBP
Refluxo gastroesofágico

Publicado/atualizado: janeiro/2018

Departamento Científico de Gastroenterologia

  • O que é o refluxo gastroesofágico?

O refluxo gastroesofágico (RGE) consiste na passagem do conteúdo do estômago  para o esôfago, com ou sem exteriorização em forma de regurgitações e/ou vômitos.    

É um evento fisiológico normal que ocorre em todos os indivíduos, principalmente em bebês , nos quais resolve espontaneamente no primeiro  ano de idade, na maioria dos casos.    

Pode ser um processo considerado normal, fisiológico, que ocorre várias vezes ao dia em lactentes, crianças, adolescentes e adultos, quando não ocasiona sintomas.

O refluxo fisiológico do lactente raramente inicia antes de 1 semana de vida ou após os 6 meses. 

O RGE é a condição que mais comumente acomete o esôfago e uma das queixas mais frequentes em consultórios de Pediatria e de Gastroenterologia Pediátrica.

 A doença do refluxo gastroesofágico – DRGE -  ocorre quando o refluxo causa sintomas ou complicações, que se associam a problemas  e a alterações na qualidade de vida do paciente    

  • Trata-se de um processo comum?

Sim. Todas as pessoas (adultos e crianças) apresentam um pouco de refluxo em certos momentos do dia, principalmente após as refeições. São períodos curtos, considerados normais. Durante os primeiros meses de vida, os bebês comem com muita frequência, estando quase sempre no período “após a refeição”. Por terem alimentação apenas líquida (leite) e, principalmente nos amamentados exclusivamente ao seio, ingerirem grande volume, apresentam mais episódios de refluxo, que pode ficar no esôfago, ir até a garganta ou sair pela boca. Neste caso, teremos o vômito ou a regurgitação.  Estes episódios aumentam muito entre dois e quatro meses e diminuem com o crescimento; a maioria absoluta resolve até o primeiro ano de vida.

  • O refluxo pode ser considerado normal entre as crianças?

Sim. É normal vomitar e regurgitar nos primeiros meses de vida. Se a criança estiver ganhando peso adequadamente e não tiver sintomas são chamados “vomitadores felizes”, pois vomitam ou regurgitam e estão sempre bem, sem sintomas e crescendo normalmente. Portanto, o refluxo é essencialmente uma consequência de mecanismos normais de acontecimentos normais da vida do bebê e em alguns casos, a minoria merece tratamento.

  • Os vômitos e as golfadas são tipos de refluxo?

Todos os bebês podem ter facilidade de regurgitar, ou seja, retornar o que está no estomago para a boca. As famílias chamam de “golfadas”, quando são em pequena quantidade e, às vezes, nem implicam em esforço da criança para este retorno. Se esse esforço surge geralmente são chamados de vômitos.  Estas duas manifestações podem ser chamadas de refluxo.

  • Os bebês menores estão mais expostos a essa manifestação?

A grande maioria dos bebês regurgitam, sobretudo os menores de seis meses, sendo absolutamente normal nesta fase do desenvolvimento. Isto faz com que usemos o nome de Refluxo Fisiológico ou ainda Regurgitação do lactente. Esse processo acontece porque ele ainda apresenta imaturidade nos principais mecanismos anti-regurgitação, o que se associa ao fato de ficar na posição mais deitada e sempre ingerir maior quantidade ou volume de alimentos.

  • Quando o refluxo deixa de ser um processo normal e se torna uma doença?

O refluxo se torna doença quando começa a atrapalhar o crescimento e o desenvolvimento normal da criança ou quando piora a qualidade de vida do lactente. Nestas situações, sua presença está relacionada à perda de peso ou ainda dificuldades para ganho de peso, choro, irritabilidade, recusa alimentar, anemia e vômitos com sangue. Todos esses pontos podem ser sintomas de refluxo-doença. Isso acontece porque o ácido que volta do estômago está vencendo os mecanismos de defesa e está fazendo mal para o esôfago ou provocando alguma lesão e desencadeando os sintomas.

  • O que o ácido pode causar?

A presença do ácido no esôfago por muito tempo pode ocasionar sua inflamação (esofagite), que pode se manifestar com dor, queimação (azia) e provocar vômito com sangue. Há relatos de episódios de dor intensa, o que impede a criança de comer. Detalhe: se retornar este conteúdo ácido até a garganta ou a região de entrada do ar para respiração, a criança pode desenvolver uma pneumonia de aspiração. Assim, o refluxo-doença, ou a “doença do refluxo gastroesofágico”, ao contrário do refluxo fisiológico, necessita de tratamento e, em casos específicos, exames diagnósticos.

  • Quem tem maiores chances de apresentar o refluxo-doença?

Existem alguns grupos com maior risco para apresentar a doença do refluxo (DRGE). Entre eles, estão os formados por crianças que tem problemas neurológicos, prematuros, obesos e portadores de doenças pulmonares, como a fibrose cística ou displasia broncopulmonar. Também estão mais suscetíveis os que apresentam ou tiveram malformações congênitas do sistema digestório (hérnia hiatal, hérnia diafragmática, atresia esofágica, fistula traqueoesofágica).

  • O que fazer, caso suspeite que os episódios de refluxo em seu filho sejam patológicos?

Caso seu filho se sinta desconfortável, mais choroso que o usual, ganhe pouco peso ou apresente outro sinal de sofrimento, leve ao pediatra, o médico mais indicado para avaliar a situação e fazer o seu diagnóstico. É importante lembrar que existem outras causas de choro e irritabilidade que podem coincidir com a presença de golfadas ou vômitos. Isso apenas reforça a necessidade de levar a criança para uma consulta com o pediatra para tirar todas as dúvidas e receber os esclarecimentos necessários. 

  • Há tratamento para o refluxo-doença?

Se o bebê tem sintomas realmente decorrentes do refluxo ácido que atrapalham o crescimento, a alimentação  ou o bem-estar , as vezes pode ser necessário o tratamento..

O tratamento pode ocasionar efeitos colaterais, por isso deve ser bem avaliado antes de começar.  

Raramente é necessário tratamento medicamentoso em bebês normais, que estão crescendo.

Algumas crianças maiores, principalmente com outras doenças concomitantes, necessitam tratamento. 

Porém, cada criança deverá ser avaliada pelo seu médico individualmente, pois há diferentes tipo de tratamento e de resposta.  Não inicie ou faça tratamentos sem a supervisão de seu pediatra!