Publicado/atualizado: maio/2023
Departamento Científico de Aleitamento Materno
A sucção ou ato de sugar é um comportamento reflexo do bebê que pode ser observado já no útero materno. Em ultrassonografias, por exemplo, é possível observar alguns bebês chupando o dedinho. Esse reflexo é vital para a sobrevivência, crescimento e desenvolvimento psíquico do bebê. A criança, especialmente em seu primeiro ano de vida, tem necessidade de sugar.
A sucção, utilizada pela criança para obter o alimento, promove a liberação de um hormônio chamado endorfina. Esse hormônio produz um efeito de modulação da dor, do humor e da ansiedade, provocando sensação de prazer e bem-estar ao bebê. A amamentação é suficiente para satisfazer o desejo básico de sucção do bebê. Por isso, é importante que durante a fase em que a criança esteja só mamando no peito, a mãe a amamente sempre que ela solicitar.
Os pais/cuidadores das crianças devem conhecer os benefícios e os malefícios do hábito de usar chupeta antes de decidirem se irão ou não a oferecer a seus filhos. Há inúmeros fatores contrários e favoráveis com relação a ela, o que exige reflexão bem criteriosa. Desta forma, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que os pais/cuidadores tenham uma visão clara e baseada em evidências dos “prós e contras” o uso de chupeta, para que, junto ao seu pediatra, possam tomar uma decisão informada quanto a oferecê-la ou não aos seus filhos. No entanto, além dos seus efeitos sobre o desenvolvimento da criança, deve-se ficar atento às questões de segurança: as partes e acessórios que se desprendem das chupetas podem ser perigosas, pois, caso essas se desprendam sem que o adulto perceba ou esteja por perto, podem causar asfixia ou estrangulamento.
As crianças que usam chupeta mamam por menos tempo. Isso pode acontecer porque sugar o peito é muito diferente de sugar uma chupeta. Para mamar no peito o bebê utiliza músculos diferentes daqueles necessários para sugar a chupeta. Um bebê que mama no peito e usa chupeta pode ter dificuldade de aprender as duas maneiras de sugar e ficar confuso. Quando a “confusão de bicos” acontece, o bebê vai para o peito e chora, fica agitado, se inclina para trás, se afasta do peito empurrando-o, pega e solta o peito toda hora, sem conseguir mamar com tranquilidade. Isso porque o bebê pode estar tendo dificuldade para retirar o leite do peito e, além disso, por estar confuso, pode pegar o peito de uma forma que pode machucar os mamilos da mãe, provocando dor ao amamentar. O bebê passa então a mamar no peito cada vez menos tempo e menos vezes ao dia. Além disso, o bebê gasta energia sugando a chupeta sem receber alimento, o que, somado ao fato de que criança que usa chupeta mama menos no peito da mãe, pode reduzir o seu ganho de peso. A diminuição do número de mamadas e o não esvaziamento adequado do peito, com o passar dos dias, pode fazer com que a mulher produza menos leite.
O bom desenvolvimento da boca e da dentição depende do exercício que a criança faz para sugar o peito. Como sugar a chupeta utiliza músculos diferentes daqueles utilizados para mamar no peito, a falta de atividade dos músculos utilizados para mamar no peito pode levar a problemas na mastigação, na fala, no alinhamento dos dentes e na respiração, entre outros. Além disso, a otite, a famosa “dor de ouvido”, é mais comum em crianças que usam chupeta. Isso acontece porque a sucção da chupeta faz com que o músculo responsável pelo funcionamento da tuba auditiva (canal de comunicação entre o ouvido e a garganta) não seja estimulado de forma adequada, favorecendo o acúmulo de secreção nos ouvidos e, consequentemente, as otites. Otites frequentes podem afetar o desenvolvimento da criança.
A chupeta pode conter fungos e bactérias que causam doenças. Aftas e candidíase oral, conhecida popularmente como “sapinho”, por exemplo, são muito comuns em crianças que usam chupeta. Outras doenças que são muito comuns em crianças que usam chupeta são: respiração ruidosa, vômitos, febre, diarreia, cólicas. Por isso, o uso de chupetas aumenta o risco de uma criança ficar doente e ser hospitalizada.
As crianças choram, balbuciam ou protestam por atenção ou para comunicar suas necessidades e desejos. A criança que usa chupeta acaba chorando/resmungando menos, ou seja, comunicando menos as suas necessidades, solicitando menos a atenção dos adultos ao seu redor. Dessa forma, a criança tem menos oportunidades de interação com os pais/ cuidadores e, como consequência, acabam sendo menos estimuladas, com repercussões no seu desenvolvimento, como na fala, na comunicação e nas habilidades de socialização.
Sim. O uso prolongado da chupeta por mais de 2 anos pode ser substituído, mais tarde, por outros hábitos orais como fumar, comer excessivamente ou outros transtornos compulsivos. Pais/cuidadores justificam a introdução do uso da chupeta para ajudar a acalmar o bebê quando ele está nervoso ou ansioso; a mesma razão atribuída pelos fumantes ao hábito de fumar.
Alguns especialistas acreditam que esse hábito (o uso da chupeta) diminui a chance de Síndrome da Morte Súbita do Lactente. Essa condição não é uma doença específica. Ela acontece quando um bebê com menos de um ano de vida aparentemente saudável morre durante o sono, sem explicações médicas. Alguns profissionais recomendam o uso da chupeta durante o sono como forma de reduzir a chance de a criança ser vítima dessa síndrome. É importante que os pais saibam que a maioria das crianças que utilizam chupeta frequentemente a soltam quando adormece, perdendo, assim, a alegada proteção. Além disso, percebe-se que, ao estimular o desenvolvimento da sucção em bebês prematuros, se favorece o ganho de peso e a redução do tempo de hospitalização de bebês prematuros.
O uso da chupeta pode ser adotado como forma de confortar o bebê quando submetido a procedimentos dolorosos ou estressantes, relacionados a momentos de agitação, irritação ou choro intenso. Por exemplo, situações desse tipo acontecem na hora de colher material para um exame de sangue ou na realização de um procedimento hospitalar. No entanto, nesses casos, é preferível amamentar a criança durante esses procedimentos, sempre que possível, uma vez que os mecanismos envolvidos na redução da dor pela amamentação são múltiplos e incluem sucção, contato pele a pele, calor, balanço, cheiro, voz materna e, possivelmente, substâncias presentes no leite materno que potencializam o efeito da amamentação na redução da dor.
Após conhecer os benefícios e os malefícios do uso de chupeta, é importante que os pais/cuidadores façam uma reflexão sobre quando e como o seu bebê precisa ser acalmado. Como os bebês não falam, eles se comunicam por meio de resmungos, balbucios, choros e gritos. No início, entender essa linguagem do bebê pode ser uma tarefa complicada para os pais, mas, com o passar do tempo, muitos pais sentem-se confiantes em identificar o que o bebê está tentando comunicar através do choro: “estou com sono”, “estou com fome”, “estou com as fraldas sujas”, “quero carinho”, “estou com frio”, “quero colo”, “estou cansado, mas não consigo dormir”, “estou com dor”, “estou com febre”. É importante que os pais sejam capazes de suportar a angústia que causa o choro da criança e de dar um tempo para compreender/descobrir qual o incômodo e/ou a necessidade da criança que causou o choro. No entanto, é comum oferecer chupeta ao bebê tão logo ele comece a resmungar ou na presença de algum fator que entendemos como desconfortável a ele. É comum, também, oferecer chupeta às crianças sem nenhum motivo. É importante lembrar que a chupeta pode fazer com que a criança fique quieta, o que não significa que sua necessidade tenha sido atendida. Ela acaba “se conformando” com o prazer que lhe é oferecido, ainda que temporário. Por isso, é importante tentar entender e decifrar o significado dos choros do bebê.
Para cada família e cada bebê o conjunto de estratégias utilizadas será diferente. Por isso, é tão importante que os pais/cuidadores conversem entre si e definam estratégias para lidar com situações de estresse. Alguns exemplos de estratégias para acalmar bebês e manejar o seu choro são: oferecer o peito sempre que o bebê apresentar sinais de fome (ou seja, quando o bebê chora, abre a boquinha, mexendo a cabeça para um lado e para o outro procurando o peito), pegar o bebê no colo, segurando-o firmemente e o aconchegando, cantar para ele, praticar contato pele a pele, banhá-lo, usar o ofurô, ofertar estímulos, como mordedores, chocalhos ou outras brincadeiras que chamem a atenção da criança e lhe forneçam conforto e carinho.
Se a opção for por oferecer chupeta à criança, recomenda-se que o seu uso seja limitado até 1 ano de idade e sua introdução deve ocorrer após a amamentação estar estabelecida, ou seja, com o bebê mamando bem, ganhando peso por mais de duas semanas e a mãe sem fissuras ou dores no momento de amamentar. Para aqueles que optarem por oferecer a chupeta, uma opção é restringir o seu uso em momentos críticos e, uma vez estabelecido o hábito de usar a chupeta, procurar suporte profissional para a retirada, se este for o desejo. Por fim, é importante ressaltar que o uso de chupeta por crianças que já adquiriram a fala, muitas vezes em idades avançadas como 7, 8 e até mesmo 10 anos, é um sinal de alerta. Os pais precisam refletir sobre o que se passa emocionalmente com elas e qual a função psíquica da chupeta na vida dessas crianças. Cientes do motivo, poderão oferecer a elas uma conduta afetiva que possa ajudá-las na elaboração do problema e, assim, a chupeta poderá ser abandonada.