Publicado/atualizado: outubro/2022
Departamento Científico de Reumatologia
A artrite aguda é a inflamação com dor, inchaço e limitação dos movimentos, acometendo uma ou mais juntas (articulações), ocorrendo frequentemente após infecções, com duração menor que 6 semanas, e resolvendo espontaneamente na maioria dos casos. A artrite aguda precisa ser abordada pelo pediatra e outros especialistas, o reumatologista, o ortopedista, às vezes o hematologista, quando junto com a artrite, ocorrer febre alta ou a criança ficar prostrada e o estado geral piorar.
A artrite aguda pode ocorrer por infecção direta na articulação ou no osso próximo da articulação e pode ser também causada por uma infecção à distância, ocorrendo no intestino, infecção urinária, faringite e até por gripe (influenza) e diversas síndromes respiratórias e doenças exantemáticas da criança como por exemplo a rubéola. Diversas formas de hepatite podem causar artrite e há muitos vírus que estão surgindo que podem causar artrite também, entre estes os vírus transmitidos por mosquitos como a dengue e a infecção Zika, caracteristicamente na doença chamada de febre Chikungunya, onde a artrite pode se prolongar. O câncer infantil também pode se manifestar inicialmente apenas como artrite.
A artrite aguda é diagnosticada pelo pediatra e pelo especialista em Reumatologia. Estabelecer a causa e o tratamento pode ser mais difícil necessitando a realização de exames de sangue para averiguar a inflamação e a infecção. Exames de imagem como radiografias, ultrassom e exames mais complexos podem ser necessários. A ressonância magnética indica mais precisamente o local comprometido. Se houver suspeita de infecção bacteriana, indicam-se exames de cultura para identificar o microorganismo e tratar. Na artrite aguda causada por vírus é necessário fazer exames de sangue de sorologia de acordo com a suspeita ou contato com outras pessoas doentes. Eventualmente, alguns exames de imagem poderão ser solicitados se houver suspeita de artrite por câncer ou tumor, tais como: tomografia por emissão de pósitrons e ressonância magnética (PET/RM), PET associada à tomografia computadorizada (PET/TC) ou ressonância magnética de corpo inteiro.
A criança apresenta dor, inchaço nas juntas, dificuldades para movimentar-se, apoiar-se ou andar. Se for um bebê, fica muito irritado, chora mais quando é manipulado. Pode haver febre, maior que 38 graus, dor em outros locais além da articulação, rigidez no movimento ou contração do membro. A duração, em geral varia de dias até 6 semanas. A artrite aguda pode mudar de lugar, chamada artrite migratória. Por isso, é importante acompanhar e voltar ao mesmo médico nestas 6 semanas ou até que a artrite se resolva. Se nos primeiros dias o quadro não apresentar melhora, o estado da criança piorar, isto pode indicar infecção na articulação ou no osso (osteomielite). Os exames de sangue e de imagem também podem indicar o comprometimento de outros órgãos. Se houver acometimento de muitas juntas, sopro no coração ou alteração no ecocardiograma, há possibilidade de ser febre reumática, causada por infecção de garganta inadequadamente tratada pelo estreptococo. A febre reumática precisa ser tratada com antibiótico injetável no músculo e por tempo prolongado (chamado penicilina benzatina) para evitar novas crises de febre reumática e proteger o coração.
O primeiro passo é identificar a causa da artrite, avaliar se tem infecção concomitante ou se teve infecção recente. O repouso relativo da articulação é necessário, analgésicos (como paracetamol ou dipirona) ou anti-inflamatórios como o ibuprofeno, ou naproxeno, podem ser indicados para controle da dor articular, sendo prescritos pelo especialista. O tratamento deve ser individualizado e sempre conduzido pelo reumatologista pediátrico.
Dependendo dos sinais e sintomas, alguns pacientes podem se beneficiar do uso de anti-inflamatórios não-hormonais, como naproxeno; podendo haver necessidade de medicamentos para proteção do estômago e de antibióticos se houver infecção na articulação ou no osso. Os medicamentos corticosteroides (prednisona ou prednisolona) são preferencialmente indicados no caso da febre reumática com comprometimento do coração. Se for apenas a artrite o tratamento anti-inflamatório se faz com a aspirina, ibuprofeno, naproxeno de uso regular. Neste caso também se faz necessário o tratamento em longo prazo com injeção de penicilina benzatina que é um antibiótico de efeito prolongado, a cada 21 dias.
O acompanhamento da maioria das artrites agudas se faz até os sintomas desaparecerem, o que ocorre dentro de um prazo de 6 semanas. No caso da febre reumática o acompanhamento vai até o final da idade pediátrica (18 anos) por ser necessário prevenir o reaparecimento da doença com o tratamento profilático prolongado com penicilina benzatina e averiguação no acompanhamento, se existem sinais de acometimento das válvulas do coração, sendo também recomendado o acompanhamento conjunto com o cardiologista. Se houver persistência do comprometimento cardíaco e alterações nas válvulas (vistos no ecocardiograma), de forma persistente, o paciente terá que continuar o acompanhamento na clínica de adultos.