Publicado/atualizado: julho/2023
Departamento Científico de Gastroenterologia
Constipação intestinal é um distúrbio gastrointestinal funcional, ou seja, são manifestações clínicas crônicas ou recorrentes que não são ocasionadas por alterações bioquímicas ou anatômicas. A constipação intestinal funcional ocorre em cerca de 20% das crianças e adolescentes. Representa mais de 95% dos casos de constipação intestinal crônica. Entretanto, existem outras causas de constipação intestinal que poderão ser reconhecidas pelo pediatra ou gastroenterologista pediátrico.
Em geral, a constipação intestinal funcional tem como manifestações principais a eliminação de fezes duras com dor ou dificuldade.
As fezes duras podem variar do formato de pequenas bolinhas até fezes grossas e ressecadas com rachaduras que, às vezes, entopem o vaso sanitário.
Com o passar do tempo, a constipação intestinal pode ir se agravando e aparecer outras manifestações:
Pode ter início em qualquer idade. Alguns marcos são considerados importantes: interrupção do aleitamento natural exclusivo, introdução de novos alimentos além do leite, época do treinamento esfincteriano. Vale lembrar que frequentemente o histórico de constipação intestinal funcional é muito longo. Várias crianças chegam para avaliação médica com idade de 5 ou 6 anos, com histórico de início no primeiro ano de vida.
Em geral, o médico leva em consideração apenas as manifestações clínicas e o do exame físico. Existem regras internacionais para a caracterização da constipação intestinal funcional. O médico avalia se existem sinais de alarme que exigem a realização de outros procedimentos para o diagnóstico exato, principalmente quando a natureza da constipação intestinal não é funcional.
Se houver incontinência fecal por retenção de fezes (fecaloma) o primeiro passo é tomar medidas que assegurem a eliminação de todas as fezes retidas e impctadas. O médico irá indicar qual o melhor procedimento.
Na sequência, deve ser prescrito medicamento laxante, que proporcione evacuações de fezes com consistência normal, sem dor ou esforço. Espera-se interromper o círculo vicioso mantido pela dor, comportamento de retenção e acúmulo de fezes no interior do intestino.
O tratamento pode se estender por períodos variáveis e a recorrência de incontinência fecal, em geral, indica falta de adesão ao tratamento ou sua interrupção prematura.
Na dieta, é importante assegurar o consumo de alimentos fontes de fibra alimentar e ingestão de volume de líquidos apropriado. Nos casos graves de constipação intestinal, estas medidas não são capazes de proporcionar recuperação clínica. No entanto, devem ser consideradas como parte do tratamento de manutenção como um hábito saudável de vida que deve ser incorporado de maneira definitiva.
Ao contrário do que muitos imaginam, não existe nenhuma cepa de probiótico que contribua na prevenção ou no tratamento e manutenção do hábito intestinal normal, representando, quando utilizado, despesas desnecessárias para a família. Teoricamente, pode ser considerado pela família com sendo mais saudável do que os laxantes o que pode reduzir a eficácia do tratamento.
A interrupção da administração do laxante deve ser feita de forma gradativa. Em geral, são necessários pelo menos 2 meses, mas muitos pacientes necessitam tratamento por períodos muito mais prolongados. É importante desmistificar riscos atribuídos aos laxantes. Os que são usados mais frequentemente pelo pediatra, não costumam trazer problemas nos tratamentos de longo prazo. Muitas vezes ocorrem recorrências quando o laxante é suspenso.
A crianças com constipação intestinal funcional deve ser reeducada para novos hábitos que devem ser mantidos por toda a vida, ou seja, adotar um estilo de vida saudável, incluindo dieta rica em fibras alimentares, consumo de volumes apropriados de líquidos sem energia (água sim, refrigerantes e outros produtos com energia, não) e evitar o sedentarismo, implementando um programa de atividade física compatível com sua idade.
Lembrar sempre que aleitamento natural e a introdução alimentar saudável nos primeiros meses de vida se associa com menor risco de constipação intestinal funcional.