Publicado/atualizado: janeiro/2018
Departamento Científico de Gastroenterologia Pediátrica
Na imensa maioria das vezes a constipação intestinal crônica é tida como um transtorno funcional, ou seja, não há uma doença orgânica detectável. Em muitos casos, tem início no primeiro ano de vida, ainda antes da fase de treinamento evacuatório e retirada das fraldas. Note-se que a constipação intestinal é uma entidade frequente na população pediátrica com prevalência estimada entre 4-30%, sendo que predomina em pré-escolares, sem predileção pelo sexo nessa idade.
A constipação intestinal compreende evacuações em frequência menor do que três vezes por semana, percebendo-se o aumento da consistência das fezes, que tornam-se ressecadas e duras. Há casos em que a criança evacua diariamente de forma incompleta, fezes muito ressecadas, em cibalos (“bolinhas duras” como fezes de cabrito), com muito esforço e dor, que são igualmente classificados como constipação intestinal. Algumas crianças permanecem muitos dias sem evacuar e eliminam fezes extremamente volumosas e calibrosas denominadas fecalomas, que, por vezes, determinam entupimento do vaso sanitário.
Sim. A insegurança, desconforto e dor para completar o ato evacuatório geram em muitas crianças um comportamento denominado como retentivo. Elas se recusam a sentar no vaso sanitário ou pinico e acabam por expelir as fezes em lugares diferentes, como atrás de cortinas ou portas. As fezes muito duras podem, por vezes, machucar o ânus e determinar fissuras, com consequente dor e sangramento. Outra complicação importante da constipação intestinal crônica é a presença do escape de fezes nas roupas íntimas das crianças acometidas, o que pode gerar importante problema familiar e social, especialmente no ambiente escolar.
Quando os familiares detectam esse problema em fase inicial devem entrar em contato com o pediatra para que algumas medidas sejam implementadas. Quanto mais se retarda o início do tratamento da constipação, maior é o tempo necessário para restituir um hábito intestinal normal.
Em primeiro lugar, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), por meio de seu Departamento Científico de Gastroenterologia Pediátrica, ressalta que o aleitamento natural nos primeiros meses exerce papel preventivo quanto a ocorrência de constipação intestinal. De forma complementar, orienta-se para crianças pequenas a ingestão de fórmula láctea ou leite de vaca em quantidade limitada às necessidades diárias, evitando-se o excesso de mamadeiras. Dessa forma, as crianças ficam mais propensas a aceitar uma dieta mais diversificada, com maior teor de fibras, o que inclui frutas, grãos, leguminosas, hortaliças e cereais. Alguns farelos como de trigo ou aveia podem ser adicionados como auxiliares. Para crianças maiores, sugere-se evitar a ingestão de sucos coados, refrigerantes, produtos com altos teores de açúcares e baixo teor de fibras, bem como de guloseimas e alguns tipos de bolachas. Já as crianças que já adquiriram o controle esfincteriano devem ser estimuladas a evacuar 1-2 vezes ao dia, após alguma refeição.
Depende, mas a definição é de responsabilidade do médico. A critério do pediatra poderá ser necessário utilizar, por algum tempo, tratamento com laxantes com o objetivo de tornar as fezes mais macias e volumosas, produzindo estímulo adicional para evacuação. Tenta-se, dessa forma, evitar a instalação do ciclo “medo, dor e retenção”.
O que é importante destacar é que o sucesso do tratamento da constipação requer tempo, perseverança e contato afinado entre família e pediatra. O pediatra gastroenterologista deve ser envolvido nos casos mais graves que não respondem bem ao tratamento clínico, ou que sejam de caráter recidivante.