Publicado/atualizado: outubro/2022
Departamento Científico de Reumatologia
A doença de Kawasaki é uma vasculite, ou seja, uma inflamação dos vasos sanguíneos, cuja principal característica é o início com febre alta e prolongada e o risco de dilatações (aneurismas) nas artérias do coração, chamadas de artérias coronárias.
É uma doença rara, porém uma das vasculites mais comuns da infância, sendo quase exclusivamente uma doença de crianças. Cerca de 85% dos casos ocorrem em crianças menores de 5 anos, principalmente entre 18 e 24 meses de idade.
Ainda não se sabe a causa exata da doença de Kawasaki, embora haja suspeitas de que algumas infecções possam causá-la, em crianças com tendência genética e com funcionamento desordenado do seu sistema de defesa. Apesar da suspeita de ser causada em parte por alguma infecção, não é uma doença contagiosa e nem transmissível de uma criança para outra.
Na doença de Kawasaki ocorrem três fases de sintomas.
O sintoma mais característico e que ocorre no início da doença, é uma febre alta, persistente, que dura pelo menos cinco dias, sem uma causa aparente que a explique. Outras alterações como conjuntivite (olhos vermelhos, porém sem saída de pus); manchas vermelhas pelo corpo; lábios vermelhos e rachados, língua vermelha (chamada de língua em morango ou framboesa), inchaço e vermelhidão nas mãos e pés, assim como ínguas inchadas no pescoço, podem ocorrer.
Algumas crianças também podem apresentar além da febre, sintomas como irritabilidade, dores de cabeça, artrite (dor e inchaço nas articulações) e uma vermelhidão na cicatriz da vacina de BCG no braço.
Nem sempre todos estes sintomas estão presentes e eles também podem aparecer em sequência. Por isto é importante relatar ao médico durante a consulta, todas as alterações que a criança apresentou ou apresenta, mesmo que ache que não tem importância, e se possível, registrar as fotos das manchas na pele e alterações nos lábios, boca, mãos e pés, que podem desaparecer antes do atendimento médico.
Após cerca de 7 a 10 dias, ocorre uma descamação da pele principalmente nas pontas dos dedos, em volta das unhas e nas áreas de fraldas e, aumenta a contagem das plaquetas do sangue (medida por um exame de sangue chamado hemograma); é nesta fase que podem aparecer as complicações cardíacas.
Por último, vem a terceira fase da doença de Kawasaki, na qual a contagem de plaquetas e exames de inflamação ficam normais, e onde teremos a regressão total ou parcial das alterações coronarianas.
O diagnóstico da doença de Kawasaki é feito com base na avaliação médica. Não existe um exame específico para o diagnóstico, mas exames de sangue e de urina podem e devem ser feitos, bem como o exame de ecocardiograma para avaliar o coração e as artérias coronárias nas 3 fases da doença e, principalmente naquelas crianças que não apresentam todos os sintomas mais característicos da doença de Kawasaki.
O pediatria é geralmente o médico que suspeita do diagnóstico de doença de Kawasaki, e encaminha para o reumatologista e o cardiologista pediátrico, os quais acompanham a criança até que todos os sintomas e alterações dos exames tenham se resolvido.
O tratamento da doença de Kawasaki tem como objetivos reduzir a inflamação dos vasos sanguíneos e de evitar os aneurismas das coronárias, através da administração de um soro com a imunoglobulina venosa e aspirina pela boca. Felizmente, com o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, a porcentagem de crianças que complicam com aneurisma das coronárias, reduz de 25% para menos de 4%!
No entanto, alguns poucos pacientes não melhoram apenas com este tratamento, sendo necessária nova dose de imunoglobulina, corticoides ou outros remédios para controlar a função alterada do sistema de defesa (imunossupressores).
As crianças que tiveram doença de Kawasaki geralmente evoluem bem, sem sequelas e levam uma vida normal como as outras, sendo recomendado, como para todos, um estilo de vida saudável. Apenas nos pacientes que tiveram alguma alteração nas artérias coronárias, o acompanhamento e o tratamento porventura necessário, ficam na dependência do tamanho das lesões das coronárias que tenha permanecido e de sua repercussão no funcionamento do coração.