Publicado/atualizado: março/2023
Departamento Científico de Endocrinologia Pediátrica
A diabetes melito é uma doença na qual o nível de um açúcar, chamado glicose, está alto no sangue. Isso ocorre pela deficiência de insulina, uma substância (hormônio) produzida pelo pâncreas (órgão localizado no abdômen, atrás do estômago).
A principal função da insulina é fazer com que o açúcar proveniente dos alimentos possa entrar nas células e seja transformado em energia. Na diabetes, o açúcar absorvido pelo intestino e levado para o sangue não consegue entrar nas células devido à falta de insulina. Sem poder entrar nas células, o açúcar aumenta sua quantidade no sangue, causando a hiperglicemia (glicose elevada no sangue), que é a principal manifestação da doença.
Existem vários tipos de diabetes melito. Os dois tipos principais são o 1 e o 2. Além deles, existem outros como, por exemplo, o causado por medicamentos, por doenças e pela gravidez (diabetes gestacional).
A diabetes melito que mais acomete crianças e adolescentes é o do tipo 1. Ele é uma doença autoimune, causada pela produção de anticorpos que levam à destruição das células do pâncreas que produzem insulina. Por isso, o portador desse tipo de diabetes necessita do uso de insulina para mantê-lo controlado. A diabetes melito tipo 2 é mais frequente em adultos, acima de 35-40 anos. No entanto, recentemente, tem-se observado um aumento do número de adolescentes com esse tipo de diabetes. Isso decorre da crescente prevalência de obesidade nessa faixa etária. Na diabetes melito tipo 2, a produção de insulina está presente, mas é incapaz de manter a glicemia normal. Por isso, muitas vezes ele pode ser tratado com antidiabéticos orais (comprimidos que ajudam a insulina a trabalhar).
O açúcar que não pode entrar nas células devido à falta de insulina vai aumentando sua quantidade no sangue (hiperglicemia) até chegar a um ponto em que o excesso tem de ser colocado para fora pela urina. Isso faz com que a pessoa passe a urinar várias vezes ao dia e em grande quantidade. Para compensar essa perda de água pela urina, a sede aumenta e a pessoa passa a beber mais água. Como as células não podem usar o açúcar, o organismo tem de usar gordura em substituição à glicose, o que leva a perda de peso. Então, as principais manifestações que fazem pensar que uma criança ou adolescente tenha diabetes são: muita sede, muita fome, perda de peso e aumento da frequência e de quantidade de urina.
Sim. Crianças e jovens, como recém-nascidos e lactentes, não conseguem expressar os sintomas clássicos da diabetes. Por isso, o reconhecimento dos sintomas é mais tardio e, muitas vezes, o diagnóstico só é feito quando a criança já apresenta cetoacidose diabética (complicação grave da hiperglicemia não tratada). Sendo assim, os médicos devem estar atentos para manifestações que sugiram diabetes nessa faixa etária. Por exemplo: fome inexplicável, choro ao terminar a mamadeira oferecida no volume habitual, querer beber água do banho ou sugar a toalha molhada, troca mais frequente de fraldas, fraldas que ficam mais pesadas, perda de peso ou ganho insuficiente de peso, etc.
Como vimos, a diabetes tipo 1 acomete principalmente crianças, mas também pode ocorrer em adultos jovens. Por isso, não se deve utilizar o termo “diabetes juvenil”.
Embora a diabetes tipo 2 ocorra predominantemente em adultos, recentemente tem-se observado um aumento de adolescentes com esse tipo de diabetes devido ao aumento do número de crianças obesas nessa faixa etária. Então, a prevenção ao excesso de peso em crianças é importante para evitar que venham desenvolver a diabetes tipo 2, uma doença, no passado, restrita aos adultos.
Como qualquer doença crônica, que requer tratamento para o resto da vida, esse é um diagnóstico difícil para os pais e para a criança. Mas a diabetes melito é uma doença que, se adequadamente tratada, permite à criança ter uma vida normal. O tratamento na criança deve ser feito por um Endocrinologista Pediátrico, juntamente com uma equipe multidisciplinar, composta por nutricionista, psicólogo, enfermeiro e educadores em diabetes. Trata-se de um procedimento oferecido gratuitamente e com qualidade pelos serviços especializados, presentes nos ambulatórios da maioria das faculdades de medicina em todo o País. Normalmente, a diabetes melito tipo 1 é tratado pela combinação de: reposição de insulina, atividade física regular, alimentação saudável e monitoração domiciliar da glicemia.
O tratamento da diabetes modificará um pouco o cotidiano da criança. Essas modificações serão mais sentidas no período logo após o diagnóstico, quando tudo ainda é novo. Mas, com o tempo, a “poeira baixará” e, com ajuda da equipe médica, orientando, educando e dando suporte, logo essas alterações, a princípio novas, entrarão na rotina. Os principais fatores que interferem no cotidiano da criança com diabetes são: necessidade de checar glicemia várias vezes ao dia, não poder comer “tudo o que quiser na hora que desejar” e ter de aplicar a insulina (injeção subcutânea) algumas vezes por dia.
A criança e o adolescente permanecem na escola grande parte do seu dia. Por isso, o diretor, professores e funcionários devem receber, por escrito, informações de que aquele aluno tem diabetes e quais as possíveis complicações que podem ocorrer na escola. Assim, devem ser informados sobre hipoglicemia (açúcar baixo no sangue) e hiperglicemia (açúcar alto no sangue) e também terem os telefones dos pais e de alguém da equipe médica para que possam entrar em contato, se necessário.
Sim. A diabetes melito tipo 1 é uma doença tratável, como são muitas outras em medicina, como a hipertensão arterial e a dislipidemia. Embora não exista uma cura, vários progressos já ocorreram nos últimos anos: insulinas mais modernas e eficazes, agulhas que possibilitam injeções indolores, monitores domiciliares de glicemia, monitores de glicemia que não necessitam furar o dedo, bombas de infusão de insulina, insulina inalável. Além disso, milhares de pesquisadores em todo o mundo estudam a diabetes, tanto para preveni-lo como para melhor tratá-lo e até mesmo curá-lo. Portanto, vamos aproveitar os recursos existentes e levar uma vida normal (brincar, estudar, trabalhar, namorar, casar, ter filhos). Caso alguma novidade surja, você estará em perfeitas condições de saúde para aproveitá-la.