Publicado/atualizado: janeiro/2018
Departamento Científico de Gastroenterologia Pediátrica
A lactose é o açúcar de quase todos os leites. Quando ingerimos, esta substância é quebrada em dois açúcares menores (galactose e glicose), os quais são absorvidos no intestino delgado, alcançam a corrente sanguínea e, então, são utilizadas como fonte de energia pelas células. A lactase é a enzima que faz esta quebra. A lactose não é digerida quando há deficiência parcial ou total da lactase, alcançando o intestino grosso (cólon). Desse modo, as bactérias do cólon metabolizam a lactose absorvida em gases que são responsáveis pelos sinais e sintomas da intolerância à lactose.
As manifestações clínicas são mais ou menos intensas, dependendo da quantidade de lactose ingerida, transito intestinal, idade do paciente e expressão do gene responsável pela síntese de lactase. Aparecem entre 30 minutos a duas horas após a ingestão de laticíneos. As mais comuns são: inchaço abdominal, cólicas, gases, flatulência, diarreia, assaduras, náuseas, vômitos, câimbras e algumas vezes constipação intestinal.
Existem três tipos de intolerância à lactose de causas diferentes. Abaixo, estão os detalhes gerais que caracterizam cada um desses grupos:
1) Hipolactasia do “tipo adulto”: ocorre na maioria da população mundial adulta, com incidência variável dependendo da localização e raça. Apenas 2% apresentam sintomas graves de intolerância à lactose, que se inicia após os 3 anos de idade, podendo ser observados progressivamente em pessoas mais velhas. Ressalte-se que a intolerância à lactose em pessoas com hipolactasia do tipo adulto é uma doença de natureza genética e ocorre em pessoas com predisposição;
2) Intolerância congênita à lactose: forma muito rara, que impede o aleitamento materno exclusivo e se manifesta logo após o nascimento. O recém-nascido tem que ser alimentado com uma fórmula para lactentes sem lactose. Trata-se de uma doença genética.
3) Intolerância secundária à lactose: doença adquirida devido a algumas entidades que causam lesões ao intestino delgado. Ocorre deficiência temporária de lactase, que, após períodos de tempo variáveis, retorna aos valores normais, uma vez controlados os fatores desencadeantes. Entre eles estão: diarreia causada por gastroenterite viral, giardíase, alergia ao leite bovino e doença de Crohn. Também pode ocorrer em bebês prematuros, ainda incapazes de produzir lactase em quantidade suficiente.
Para ser feito o diagnóstico desta intolerância alimentar podem ser adotados os seguintes procedimentos:
1) Métodos clínicos: retira-se todos os alimentos com lactose da dieta e os sintomas acabam em dias ou semanas. Trata-se do procedimento mais empregado;
2) Teste respiratório para pesquisar eliminação de hidrogênio em amostras de ar expirado: na sua execução, a lactose não absorvida é fermentada no cólon, levando à produção de hidrogênio. Parte deste gás é absorvido pelo intestino, alcança a corrente sanguínea e é eliminado no ar expirado dos pulmões em concentrações aumentadas;
3) Teste de tolerância à lactose: após a ingestão de lactose, pessoas sem esta doença apresentam elevação da glicemia (glicose formada pela quebra da lactose) a valores maiores que 20 mg/dL em relação ao jejum. Estas variações não são observadas nos intolerantes;
4) Teste genético: quando se suspeita de intolerância primária ou congênita à lactose é possível avaliação gênica para detectar a presença de mutações que proporcionam a característica de persistência da produção de lactase e tolerância à lactose.
O tratamento consiste na redução da ingestão de lactose presente em laticínios. Este procedimento costuma ser suficiente. Quanto mais intolerante for a pessoa, menor deve ser a quantidade do açúcar ingerido para que não ocorram sintomas. Saber se o alimento tem lactose e em qual teor é fundamental para o paciente. Para os casos mais graves, encontra-se leite e outros produtos com redução de 80% a 90% da lactose. No Brasil, muitos alimentos industrializados não têm informação sobre a presença de lactose e seu teor.
Existem medicamentos com a enzima lactase para o uso quando for preciso ingerir lactose em situações especiais. Esta enzima é encontrada em apresentações de pó, pílulas ou liquido e deve ser ingerida logo antes do alimento para a digestão da lactose.