Publicado/atualizado: junho/2023
Departamento Científico de Oncologia
Os linfomas representam um tipo de câncer do sistema linfático. Quando o linfoma surge, ele afeta as diferentes estruturas e células que compõem o sistema linfático, incluindo células que fazem parte do sistema de defesa do nosso organismo. O Dia Mundial de Conscientização sobre Linfomas, 15 de setembro, foi instituído por iniciativa global no ano de 2004, objetivando esclarecer a população sobre a importância do diagnóstico e tratamento precoces, além de divulgar os sinais e sintomas de alerta para doença.
O sistema linfático se distribui por todo o corpo, recolhendo o líquido que se acumula nos tecidos, filtrando-o e reconduzindo-o à circulação sanguínea. Esse sistema também participa da defesa imunológico do corpo, que ajuda a combater infecções e algumas outras doenças. É formado por capilares linfáticos (menores vasos condutores do sistema linfático), vasos linfáticos, ductos linfáticos (ducto torácico e ducto linfático direito) e linfonodos (gânglios linfáticos ou ínguas). O baço (órgão localizado atrás das costelas inferiores no lado esquerdo do corpo), as tonsilas (coleções de tecido linfático na parte de trás da garganta) e o timo (pequeno órgão atrás da parte superior do osso do peito e na frente do coração), são três órgãos intimamente relacionados com o sistema linfático. Nesses órgãos se observa a presença de grande quantidade de tecido linfoide, que, dentre outras características, destaca-se pela presença de linfócitos (um tipo de glóbulo branco).
Correspondem ao terceiro câncer mais comum nas crianças e nos adolescentes, correspondendo aproximadamente a 15% de todas as doenças malignas nesta faixa etária.
No Brasil, estudo baseado nos registros de câncer de base populacional observou incidência geral dos linfomas de 15,5 casos por milhão, e nos adolescentes, de 47,4 casos por milhão.
Os linfomas são divididos em duas grandes categorias, o linfoma não Hodgkin (LNH) e o linfoma Hodgkin (LH), cada um com manifestações clínicas e tratamentos distintos. Nas crianças o LNH representa 60% dos casos e o LH, 40%.
Os tipos mais comuns de LNH em crianças e adolescentes são diferentes daqueles em adultos. Quase todos os subtipos de LNH que ocorrem na faixa etária pediátrica são considerados linfomas de alto grau ou agressivos, o que significa dizer que tendem a crescer rapidamente.
Fator de risco é qualquer condição ou problema que afete a chance de contrair uma doença, como o câncer por exemplo. Diferentes tipos de câncer têm fatores de risco distintos. Entretanto, ter um ou vários fatores de risco não significa que você definitivamente terá câncer.
Clinicamente as crianças com LNH apresentam a doença mais generalizada que as com LH. A sintomatologia varia com o subtipo da doença e com as áreas envolvidas. A doença geralmente se apresenta com linfonodomegalias (ínguas aumentadas) não dolorosas ou com sintomas devido à compressão de estruturas vizinhas com edema facial, dificuldade respiratória, amígdalas assimétricas ou dor abdominal. Hepatomegalia (aumento do fígado) e/ou esplenomegalia (aumento do baço) podem estar presentes na doença mais avançada.
Na maioria dos casos a manifestação clínica inicial é de linfonodomegalia (gânglios aumentados) periférica, indolor, preferencialmente na região cervical (pescoço) ou supraclavicular, formando em geral conglomerados. Outros linfonodos (gânglios) podem estar aumentados como os da axila e/ou da virilha. Pode ainda ser observado nesses pacientes sudorese noturna excessiva, febre, coceira na pele e perda de peso maior que 10% sem causa aparente.
A detecção é realizada pelos exames clínicos (sinais e sintomas da doença), exames laboratoriais de imagem, visando realizar além do diagnóstico, o estadiamento da doença.
Entre os exames indicados está a biópsia, em geral do gânglio linfático (de preferência, a retirada do gânglio inteiro), que será encaminhada para análise anatomopatológica (analisa células e tecidos em busca de alterações que possam ser relacionadas ao diagnóstico de doenças), imuno-histoquímica (exame que reconhece antígenos, permitindo identificar e classificar células específicas) e/ou imunofenotipagem (exame que permite observar quais tipos de células estão presentes no material coletado e qual a porcentagem de cada grupo), visando definir o tipo do linfoma, bem como seu subtipo histológico.
Outros exames indicados são tomografia computadorizada, ressonância magnética e em alguns casos a punção lombar. A biópsia (retirada pequena amostra da medula óssea) e/ou o mielograma (aspiração da medula óssea por meio de uma agulha) é necessária para definir se a doença se estende também à medula óssea em alguns tipos de linfomas.
O tratamento é baseado no tipo histológico e na extensão clínica da doença, ou seja, quanto a doença está espalhada.
A maioria dos linfomas é tratado com quimioterapia, associação de imunoterapia e quimioterapia, ou radioterapia. A quimioterapia consiste na combinação de duas ou mais drogas, administradas por via oral ou intravenosa. A imunoterapia refere-se ao uso de medicamentos que têm um alvo específico para um componente que há nas células do linfoma. A radioterapia é uma forma de radiação usada, em geral, para erradicar ou reduzir a carga tumoral em locais específicos, para aliviar sintomas ou também para reforçar o tratamento quimioterápico, diminuindo as chances do retorno da doença em localizações mais propensas à recaída.
Em alguns casos específicos pode ser necessário realizar o transplante de células tronco hematopoiéticas para pacientes em remissão, ou que apresentem recidiva do linfoma durante ou após o tratamento.
Atualmente para os pacientes com LNH em estádios iniciais (doença mais localizada) a taxa de sobrevida livre da doença em 5 anos é 85-95%, e para aqueles com estádios mais avançados (doença mais espalhada) varia de 70-90%.
Para o LH com os atuais protocolos de tratamento as taxas de sobrevida livre da doença variam de 83% a 92%, de acordo com o grupo de risco.
Em resumo, nas crianças e nos adolescentes com linfomas, as taxas de sobrevida livre de doença são elevadas se adequadamente diagnosticados e tratados em centros de referência em oncologia pediátrica.