Publicado/atualizado: outubro/2022
Departamento Científico de Reumatologia
A síndrome da hipermobilidade articular é um conjunto de sinais e sintomas frequentes onde as articulações (juntas) possuem movimentos mais amplos (maior amplitude) geralmente sem nenhuma outra doença associada.
Os sintomas da Síndrome da Hipermobilidade Articular podem ser parecidos àqueles também presentes em doenças genéticas, como a síndrome de Ehlers-Danlos (SED), a síndrome de Marfan (SM), a síndrome de Stickler (SS) e a osteogênese imperfeita (OI), sendo que em cada uma destas doenças hereditárias possui critérios clínicos e de avaliações genéticas muito bem definidas, que as diferencia significativamente da Síndrome da Hipermobilidade Articular .
A Síndrome da Hipermobilidade Articular é bastante comum afetando de 10-20% das crianças e adolescentes, em articulações únicas ou em várias delas.
É mais comum no sexo feminino, em crianças e adolescentes, principalmente na Ásia e oeste da África e tende a regredir com o aumento da idade, possuindo também certa característica hereditária
Clinicamente pode ser apenas um achado sem que haja qualquer tipo de sintoma, ou podem se queixar principalmente de dores articulares ou dores em regiões periarticulares (tendões, ligamentos), mais notadamente após esforço ou exercício físico e mais comumente à noite. Raramente ocorrem subluxações ou fraturas nestas crianças, contrariamente àquelas com distúrbio hereditário do colágeno.
Sintomas como estalidos articulares à movimentação geralmente não são preocupantes, a não ser quando são propositais e se tornam constantes, o que pode levar a traumas articulares de repetição causando danos nas articulações.
Outros sintomas menos frequentes que podem estar presentes nestas crianças e adolescentes, são cansaço generalizado (fadiga), dores abdominais, dores de cabeça, urgência para urinar a todo instante, síndrome do intestino irritável (como diarréia frequente), alterações do sono e do humor.
O diagnóstico de Síndrome da Hipermobilidade Articular é clínico, realizado a partir da história clínica e exame físico. Não existem provas laboratoriais ou exames de imagens que possam fornecer o diagnóstico.
Assim, o exame físico detalhado feito pelo médico associado a critérios clínicos que o reumatologista pediátrico aplica ao fazer a consulta médica, são suficientes para realizar o diagnóstico.
O tratamento deve ser sempre individualizado, levando-se em conta as queixas sintomáticas clínicas e achados de exame físico. Estes jovens devem ser bem orientados no sentido educacional quanto à sua hipermobilidade, explicando as possíveis consequências de práticas esportivas, recreativas e de vida diária, com intuito de se evitar danos musculares, articulares e ósseos mais graves.
Prover a criança e o adolescente de autoconfiança e encorajá-los às boas práticas de exercícios físicos devem ser os objetivos de todo profissional de saúde que participa dos cuidados destes jovens, inicialmente ensinando-os presencialmente, e com o decorrer do tempo, fazendo com que criem autonomia para se exercitarem sozinhos assim que possível.
O manejo da dor, caso esta estiver presente, sempre que possível não deve ser feito com medicamentos, mas sim com outras práticas tais como alongamentos musculares, massagens, uso de terapias térmicas (gelo ou calor local), práticas de relaxamento e outras. Caso tenha que se utilizar algum medicamento, a preferência será sempre para analgésicos comuns como paracetamol ou dipirona. Caso as dores persistam, a procura do médico deve ser providenciada.
De uma maneira geral as queixas relacionadas à Síndrome da Hipermobilidade Articular se resolvem espontaneamente à medida do desenvolvimento, diminuindo progressivamente com o decorrer do avanço da idade, principalmente com a melhoria do crescimento e fortalecimento físicos e dos hábitos de exercícios adequados.
Crianças e adolescentes com Síndrome da Hipermobilidade Articular devem ser orientados com relação à prática de esportes que exijam maior flexibilidade articular, como ginástica olímpica e dança competitiva, alertando que podem determinar lesões musculoesqueléticas no curto e longo prazo, e devem ser realizadas com supervisão de profissionais da medicina esportiva, como técnicos e professores de educação física.