Publicado/atualizado: novembro/2024
Presidente: Alda Elizabeth Boehler Iglesias Azevedo
Secretária: Tamara Beres Lederer Goldberg
Membros: Benito Lourenço, Darci Vieira da Silva Bonetto,Ligia de Fátima Nóbrega Reato, Lilian Day Hagel, Maria Inês Ribeiro Costa Jonas, Marluce Barbosa Abreu Pinto
Porque no Brasil o suicídio é a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, e desde 2002, os óbitos causados por esta prática cresceram 10%. Entretanto, não devemos nos esquecer que entre 10 anos completos e 15 anos incompletos, um número menor de casos, representando ¼ do número evidenciado na segunda metade da adolescência já é descrito, situação que se revela muito preocupante.
Os principais motivos que levam ao suicídio são: depressão, ansiedade, abuso de drogas e álcool, abuso sexual, além da violência doméstica, pais ausentes, baixa autoestima, falta de perspectiva e projeto de vida, frustrações com a própria vida, sentimento de não pertencimento, bullying, pressão social pelo sucesso e pelo corpo perfeito ou vulnerabilidade social intensificados no ambiente escolar.
São muitos os fatores que podem explicar por que os suicídios estão aumentando entre os adolescentes. Porém, o fator de risco mais importante é “desesperança em relação ao futuro”, não vislumbrar um projeto de vida que dê sentido a sua existência. A instabilidade característica da adolescência como um período da vida em que o indivíduo tem as obrigações com a vida adulta, de um lado, abre possibilidades de escolha livre do que se quer fazer no futuro, e por outro, pode se tornar um espaço vazio, no qual o indivíduo não sabe para onde caminhar.. Sabe-se que adolescentes que convivem com mais proximidade e relação afetiva de cumplicidade e segurança aos seus familiares e amigos têm menos propensão ao suicídio. “Vínculos sociais fortes” são fatores de proteção importante. O sentido de vida e os vínculos sociais dão força aos indivíduos mesmo nas situações mais extremas.
Não há idade específica, porque crianças e adolescentes sofrem psiquicamente. Assim, se pode abordar em qualquer idade, mas de formas diferentes. Para crianças é preciso falar da morte, mas de forma lúdica, como através de brincadeiras, pois o brincar é a principal arma dela para viver. Se a criança estiver sofrendo, ao brincar ela conseguirá se expressar mais facilmente e fantasiar. Nas escolas, professores podem propor atividades na aula de artes para a criança se manifestar ou mesmo os pais durante as atividades em família. É necessário um tempo adequado de atividades para as crianças brincarem e socializarem entre si e assim, expressarem os sofrimentos.
É importante que os pais e/ou professores estejam abertos a escutar o que os adolescentes e crianças falam. Quando os pais ou professores escutam, a criança ou adolescente podem comunicar os fatores de risco, como bullying, por exemplo. É preciso estar aberto a escutar e estar atento no comportamento das crianças e adolescentes e para isso é interessante criar espaços e oportunidades para que o diálogo aconteça, de forma respeitosa e afetuosa. Desta forma, o alerta é que não há “receita” que detecte seguramente quando uma pessoa está vivenciando uma crise suicida, nem se tem algum tipo de tendência suicida.. O assunto exige cuidado e não se pode silenciar.
Quando a criança ou adolescente apresenta: a) Discriminação: está sendo ridicularizado pelos colegas ;b) Impulsividade: grita, agride a si próprio ou a outros alunos, paredes, objetos e não sabe controlar seus impulsos c) Perdas recentes não elaboradas: quando perdem parentes e não lidam bem com essa situação.;d) Mudança de comportamento: tanto na fala quanto na própria sociabilidade. Era expansivo fica mais calado; e) A conversa: manifesta o desejo de morrer ou fala em morte com frequência; f) Postura corporal deprimida; g) Solidão: se sente sozinho, não fica enturmado e está sempre isolado de toda turma. h) Escolaridade: dificuldade na aprendizagem com declínio nas notas; i) Drogas: início ou aumento do consumo de álcool ou drogas; k) Depressão: o jovens que apresentam sintomas da doença ou que já estejam ou não em tratamento exigem um cuidado mais atento
O ideal é chamar o adolescente para uma conversa privada e colocar-se a disposição para escutar. Oferecer a oportunidade dele se manifestar e perguntar o que está acontecendo. Procure ouvir com atenção e jamais trate as aflições dele como “frescura”. Depois de ouvir, procure conduzir o diálogo mostrando alternativas claras de saída. Evite frases vagas que não ajudam, como “vai ficar tudo bem” e prefira dizer frases que ajudam, como “eu já passei por situação parecida e posso te entender”.
O fundamental é não ignorar os sinais e se mostrar disponível. Indique e vá com ele aos órgãos e profissionais capacitados a ajudar pessoas com intenções suicidas (veja no final do texto).
As pessoas sob risco de suicídio costumam falar sobre morte e suicídio mais do que o comum, confessam se sentir sem esperanças, culpadas, com falta de autoestima e têm visão negativa de sua vida e futuro. Essas ideias podem estar expressas de forma escrita, verbal ou por meio de desenhos. Não há uma “receita” para detectar seguramente uma crise suicida em uma pessoa próxima, mas a ajuda é fundamental!
A dor é tão profunda e o sofrimento tão sufocador que parece que não há outra saída. Em um ato de desespero e pedido de ajuda, a pessoa que está pensando em tirar a sua própria vida grita por socorro de formas diversas. Preste atenção quando ouvir alguém falar assim: “vou desaparecer”, “vou deixar vocês em paz”, “eu queria poder dormir e nunca mais acordar”, “é inútil tentar fazer algo para mudar, “eu só quero me matar”, “não aguento mais”, “quero sumir”, “quero morrer”, “minha vida não vale a pena”, “não aguento essa dor”, “você vai sentir a minha falta quando eu for”, “vocês vão ficar melhores sem mim”, “era melhor não ter nascido”, ela pode estar querendo te dizer algo e estar se sentindo limitada.
Os pais: Ao identificar um filho com sinais de comportamento suicida, devem encontrar um momento apropriado e um lugar calmo para falar sobre suicídio. Faça perceber que está ali para ouvir e ofereça seu apoio. Se está em perigo imediato, não deixe sozinho.. Se não sabe o que fazer, é preciso acolher e dizer que vai procurar o que fazer, mas nunca deixar sem amparo
A escola: Fechados em círculos sociais cada vez menores, a escola é o pouco que sobra. Com famílias cada vez menores e falta de outros círculos sociais com vínculo fortes, a solidão dos adolescentes só se rompe na escola. O peso da instituição escolar ficou muito maior na vida dos adolescentes, uma vez que a convivência de pais, irmãos e primos, o brincar nas ruas e os vizinhos estão se deteriorando..
Você: É muito importante conversar com alguém que você confie. Não hesite em pedir ajuda! Você pode precisar de alguém que te acompanhe e te auxilie a entrar em contato com os serviços de suporte.
A posvenção é o conjunto de medidas que se deve tomar após a ocorrência de um suicídio na escola, como a assistência à família e aos professores do aluno e à atenção aos colegas mais próximos, especialmente aos que apresentam algum sintoma depressivo. A posvenção deve ser pensada caso a caso. Mas há estratégias de acolhimento que podem nortear as ações. É fundamental deixar claro que não existem culpados e abrir espaços de conversa, em pequenos grupos, nos quais os jovens possam expressar seus sentimentos e discutir o processo de luto. É válido escolher uma pessoa para atender individualmente os alunos, no momento que precisarem. É importante buscar, na medida do possível, a ajuda de especialistas capacitados.