Publicado/atualizado: novembro/2024
Departamento Científico de Gastroenterologia Pediátrica
O glúten é uma proteína vegetal que aparece em grãos como trigo, cevada e centeio, composta de glutaminas. Quando entra em contato com a água, ele forma uma espécie de gel, o que ajuda a dar elasticidade à massa, como em pães e bolos. Por isso, o glúten é importante para dar estrutura e textura aos alimentos. Ele está presente em vários produtos, como pães, bolos, biscoitos, massas, croissants, tortilhas, alguns temperos prontos, cerveja, bebidas com malte e até embutidos.
A dieta sem glúten consiste em eliminar totalmente o glúten dos alimentos, seja substituindo por opções naturalmente sem glúten, como vegetais, arroz, milho e ovos, ou consumindo alimentos processados que não contêm glúten. Em 2013, o Food and Drug Administration (FDA), órgão dos Estados Unidos, estabeleceu que um alimento pode ser considerado "sem glúten" quando tiver menos de 20 partes de glúten para cada milhão (ou 20 miligramas por quilo).
A doença celíaca é um distúrbio sistêmico imunomediado causada pela ingestão de glúten em pessoas geneticamente predispostas. Seus sintomas incluem diarreia, distensão abdominal, perda de peso e manifestações extra-intestinais, como anemia, fadiga e osteoporose. Ela afeta cerca de 1% da população e é diagnosticada por exames específicos, como anticorpos anti-transglutaminase e biópsia do intestino.
A sensibilidade ao glúten não celíaca (SGNC) é uma condição em que a ingestão de glúten causa sintomas, mas sem ser devido à doença celíaca ou à alergia ao trigo. Esses sintomas podem melhorar quando a pessoa elimina o glúten da dieta. Eles podem afetar o sistema gastrointestinal (como dor abdominal, inchaço, constipação ou diarreia) ou ocorrer fora do intestino (como fadiga, dor de cabeça, dores nas articulações e músculos, e até depressão). Para confirmar o diagnóstico, após a melhora dos sintomas com a retirada do glúten, é necessário reintroduzir o glúten na dieta e observar se os sintomas voltam. Idealmente, essa reintrodução deve ser feita sem que o paciente saiba.
As famílias geralmente buscam uma dieta sem glúten porque acreditam que seja uma dieta mais saudável, para perder peso, para melhorar desempenho atlético, por apresentar sintomas gastrointestinais e para controle de algumas condições específicas (autismo e doenças autoimunes, por exemplo).
Alto custo e inconveniência
Vários estudos mostram que seguir uma dieta sem glúten pode aumentar muito o custo dos alimentos. Produtos sem glúten podem ser 2 a 3 vezes mais caros do que os alimentos comuns, feitos com trigo.
Riscos nutricionais
Seguir uma dieta sem glúten pode resultar em falta de nutrientes importantes. Alimentos sem glúten geralmente têm menos minerais, como cálcio, ferro, magnésio e zinco, além de vitaminas essenciais, como a B12, o folato e a vitamina D.
Curiosamente, alguns alimentos sem glúten podem ter componentes que não são tão bons para a saúde. Por exemplo, esses alimentos podem ter níveis mais altos de arsênio, ácidos graxos prejudiciais (gorduras saturadas e hidrogenadas) e um índice glicêmico mais elevado, o que pode afetar o controle de açúcar no sangue e níveis mais altos de colesterol.
Dieta pobre em fibras
Os alimentos sem glúten geralmente têm menos fibras, o que pode aumentar o risco de constipação. Além disso, uma dieta com pouca fibra pode piorar o controle do colesterol, aumentar os triglicerídeos e até afetar a pressão arterial.
Mudança no microbioma intestinal
O trigo é uma das principais fontes de amidos resistentes (como a oligofrutose e a inulina), que ajudam a manter um equilíbrio saudável de bactérias intestinais. Essas bactérias boas são importantes para a digestão e também podem ajudar a prevenir doenças como câncer e doenças cardíacas. Portanto, uma dieta sem gluten pode reduzir a quantidade de bactérias benéficas no intestino.
A dieta sem glúten (DSG) está indicada nas crianças com diagnóstico confirmado de doença celíaca, alergia ao trigo e sensibilidade ao glúten não celíaca, e devem fazê-lo sob supervisão médica.
A ideia de adotar uma Dieta Sem Glúten (DSG) porque acredita-se que ela seja mais saudável, ajude a melhorar o desempenho atlético, favoreça a perda de peso, melhore os sintomas de doenças autoimunes e até beneficie pessoas com autismo ainda precisa de mais pesquisas. Atualmente, não há evidências científicas suficientes para comprovar esses benefícios.