Publicado/atualizado: janeiro/2023
Relator: Tulio Konstantyner
Membros do Departamento Científico de Nutrologia SBP 2022 – 2024: Fabiola Isabel Suano de Souza, Hélcio de Sousa Maranhão, Elza Daniel de Mello, Fernanda Luísa Ceragioli Oliveira, Jocemara Gurmini, Liliane Maria Abreu Paiva, Mara Alves da Cruz Gouveia, Tulio Konstantyner.
Estudos em adultos demostraram que dietas vegetarianas bem planejadas promovem benefícios à saúde, como controle do peso corporal e da pressão arterial, menor incidência de diabetes mellitus, dislipidemia, câncer e infarto. Entretanto, estudos com crianças e adolescentes não são unânimes, quanto aos seus benefícios.
Por outro lado, as dietas vegetarianas, que são definidas de acordo com o grau de restrição de produtos de origem animal (carnes, peixes/frutos do mar, leites e derivados, ovos e mel), podem acarretar riscos nutricionais à saúde, quanto mais restritivas elas forem. Aquelas que não combinam cereais com leguminosas, leite, ovos e alimentos enriquecidos, podem levar a deficiências e excessos nutricionais específicos, principalmente em crianças e adolescentes.
Os riscos nutricionais associados às dietas vegetarianas na faixa etária pediátrica são a ingestão excessiva de carboidratos e fibras e a ingestão insuficiente de minerais (ferro, zinco, cálcio e iodo) e vitaminas (A, B2, B9, B12 e D), ácido graxo essencial ômega-3 e aminoácidos essenciais (especialmente a lisina). Eles ocorrem principalmente por dois motivos: (1) restrições oferta e menor disponibilidade de nutrientes em alimentos de origem vegetal e (2) nos períodos de alta demanda de nutrientes e energia relacionados à maior velocidade de crescimento físico e desenvolvimento neuropsicomotor.
Guias alimentares fornecem orientações sobre o consumo, substituição de alimentos, formas de preparo das refeições e dicas culinárias para promover nutrição adequada de lactentes, crianças e adolescentes em dietas vegetarianas. Entretanto, as lacunas ainda existentes no conhecimento científico sobre os riscos e benefícios, as dificuldades operacionais de preparar as refeições, as frequentes limitações socioeconômicas das famílias e o risco de danos irreversíveis levam as sociedades de nutrição e pediatria a não recomendar essas dietas na faixa etária pediátrica, principalmente as veganas (as mais restritivas).
Como forma de auxiliar a adequada ingestão de nutrientes, a suplementação medicamentosa tem papel importante, mas deve estar condicionada à disponibilidade de acesso e ao consumo de alimentos fonte, a forma de preparo da alimentação, ao uso ou não de suplementos alimentares (fórmulas infantis e alimentos fortificados) e a presença de leite materno de mãe nutricionalmente saudável na alimentação de lactentes.
Além disso, uma boa conversa, entre familiares, pediatra nutrólogo e nutricionista, é recomendada para a tomada decisão assertiva quanto à escolha alimentar de nossos filhos. Há possibilidades de adoção de dietas vegetarianas, mas também há riscos à saúde, que devem ser conhecidos, ponderados e prevenidos, de acordo com as necessidades de cada faixa etária.