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Intoxicações exógenas

Publicado/atualizado: janeiro/2024

Departamento Científico de Prevenção e Enfrentamento das Causas Externas na Infância e Adolescência

Presidente:                   Luci Pfeiffer

Secretária:                   Adriana Rocha Brito

Conselho Científico:   Márcia Maria Fonseca Barreto, Marco Antônio Chaves Gama, Maria de Fátima Fernandes Géa, Rachel Niskier Sanchez, Sarah Saul

Texto revisado e atualizado por: Adriana Brito, Luci Pfeiffer e Carlos Eduardo Mello da Silva (Presidente do Departamento Científico de Toxicologia e Saúde Ambiental)

  • O que significa "intoxicação exógena"?

Trata-se do aparecimento de sinais e sintomas devido ao contato com substâncias químicas que prejudicam o organismo das pessoas, podendo provocar danos graves e até a morte.

  • Quais os principais agentes causadores de intoxicações em crianças?

De modo geral, qualquer substância, se utilizada na quantidade incorreta, de forma inadequada ou mesmo se estiver fora da data de validade pode causar intoxicação.

  • Quais os fatores que podem contribuir para a ocorrência deste acidente?

Em crianças, geralmente ocorre de forma acidental e no ambiente doméstico. As crianças de 1 a 4 anos de idade são as mais afetadas. Os motivos principais de prevalência nesta faixa etária se constituem no maior tempo em que estão dentro de casa e, esta casa não estar segura para as características desta faixa etária, quando não conhecem os riscos e, a exploração do ambiente e imitação do mundo adulto são seu modo de se desenvolver.  Na falta de cuidados de prevenção, acabam expostas a um grande número de perigos, como: produtos tóxicos disponíveis e armazenados de forma incorreta; as embalagens inseguras desses produtos; e a pouca informação que pais e responsáveis têm sobre a importância e as formas de prevenção de acidente.

  • Quais são os produtos que existem em casa e que podem gerar problemas?

Em casa, vários produtos podem causar intoxicação nas crianças. Entre eles: medicamentos, produtos de limpeza, inseticidas, tintas, graxas, xampus, cremes e cosméticos diversos, bebidas alcoólicas, dentre outros. Há, ainda, o risco de intoxicações dentro de casa e no jardim, por conta de contato com plantas tóxicas e animais peçonhentos, como cobras, aranhas, escorpiões, lacraias e abelhas.

  • Como suspeitar que a criança está intoxicada?

A intoxicação causa sinais e sintomas de fácil identificação em crianças e adolescentes. Os principais sintomas são:

1) Vômito;

2) Salivação excessiva;

3) Sonolência, desorientação;

4) Dificuldade de respirar;

5) Desmaio;

6) Convulsão;

7) Lesão, queimadura ou vermelhidão na pele, boca e lábios;

8) Cheiro característico de algum produto na pele, roupa, piso ou objetos ao redor;

9) Alteração súbita do comportamento ou do estado de consciência.

  • Como o responsável deve proceder em caso de intoxicação?

Os pais e cuidadores devem ficar atentos e ao suspeitar e/ou perceber o aparecimento de sinais e sintomas devem procurar imediatamente ajuda em serviço médico de emergência e, se identificado o agente suspeito de ter causado a intoxicação, levar o frasco e a embalagem junto.

  • Como os pais podem ajudar na prevenção às intoxicações?

1) Manter medicamentos em locais fechados e fora do alcance das crianças (evite mantê-los em bolsas, ou guardá-los em “mesinhas de cabeceira” ou gavetas de armários abaixo de 1,5 metro). Evite tomar estes medicamentos em frente à criança, e, mostrar o lugar onde estão guardados;

2) Não usar medicamentos vencidos ou sem orientação médica, ler com atenção as instruções da receita e da bula e, ao medicar uma criança, não dizer que é bala ou outra guloseima;

3) Dar preferência a embalagens de medicamentos que tenham tampas de segurança, pois embora não garantam que a criança não abrirá a embalagem, dificultam bastante, muitas vezes a tempo de que alguém intervenha;

4) Não oferecer embalagens ou frascos contendo medicamentos para uma criança brincar. Afinal, remédio não é brinquedo!

5) Guardar/armazenar produtos de limpeza em armários fechados e longe do alcance das crianças;

6) Nunca colocar remédios, substâncias de limpeza e tóxicas em garrafas de refrigerante ou em embalagens de outros produtos. Deixe-os sempre em suas embalagens originais e, de preferência, longe do local onde são guardados alimentos;

7) Não comprar produtos de limpeza de origem clandestina, por não se ter certeza da segurança de seus componentes e, por virem em embalagens PET ou reaproveitadas, levando a enganos no uso;

8) Não utilizar venenos para ratos (raticidas) na forma de iscas, pó ou granulado em locais onde crianças e animais de estimação possam alcançá-los e comê-los. Lembrem-se: o raticida mais conhecido é o “chumbinho,  e é ilegal o seu comércio, sendo um produto muito tóxico que pode causar até a morte;

9) Procurar ter conhecimento da toxicidade das plantas e do local onde se encontram (proximidades de sua residência, escola, local de trabalho, de lazer etc.), evitando levar mudas tóxicas ou desconhecidas para sua casa, local de lazer, de trabalho ou onde se encontram crianças;

10) Plantas ornamentais como flores, sementes ou frutos atraentes, com espinhos ou grandes quantidades de exsudato (látex) não devem ser colocadas em locais onde há circulação de crianças;

11) Para evitar picadas de animais peçonhentos (cobras, escorpiões, aranhas, etc.) é importante evitar levar crianças a locais onde esses animais possam estar presentes e, se necessário, fazê-las usar sempre calçados altos, de preferência  botas; orientar e não permitir a criança colocar as mãos em buracos, montes de telhas, tijolos ou folhagens; não deixar acumular vegetação ou entulhos nos jardins e quintais.  

  • Como envolver as crianças na prevenção a esses problemas?

As crianças também precisam se alertadas quanto aos riscos da intoxicação e quais são os animais peçonhentos, se explicando a elas, com linguagem apropriada de acordo à idade, os cuidados que precisam ser tomados. É uma medida simples que pode diminuir os riscos e criar uma cultura de prevenção, porém sempre é possível que a curiosidade, impulsividade e espelhamento no adulto supere estas orientações.

Uma dica interessante: o Polo de Jogos e Saúde (do Multimeios/Icict/Fiocruz) e o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox/Fiocruz) criaram um jogo digital para crianças, chamado “Quem deixou isso aqui?”. Nele, a personagem central deve ser mantida longe de coisas que podem intoxicá-la. Você pode acessar o jogo para brincar com seu filho no endereço: https://sinitox.icict.fiocruz.br/jogo.

  • Em caso de suspeita de intoxicação, o que deve ser feito?

Se a criança estiver desmaiada ou com convulsão, ligue imediatamente para o 192 e tente manter as vias aéreas desobstruídas e, se não estiver respirando, se possível, manter a oxigenação com respiração boca a boca. Também pode-se recorrer aos Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox), que são unidades que orientam a população sobre os procedimentos a serem seguidos nos casos de intoxicação. Existem CIATox em todas as regiões brasileiras. Eles atendem pelo número 0800 722 6001 – este é um número para se ter em fácil acesso sempre! Informe-se também sobre os contatos do Centro de Informação / Assistência Toxicológica de sua região. De qualquer modo, é relevante ficar atento às seguintes recomendações:

1) Tente identificar o produto que causou o acidente e a quantidade ingerida;

2) Não ofereça leite, água ou outros líquidos;

3) Não provoque vômitos sem orientação, especialmente se a criança tiver ingerido soda cáustica, querosene, ácidos, alvejantes, desinfetantes, removedores, gasolina;

4) Em caso de contato com pele ou olhos, lave o local com água em abundância;

5) Retire roupas impregnadas com o produto;

6) Leve a criança ao serviço médico mais próximo e junto a embalagem, o rótulo ou a bula do produto suspeito.

É fundamental estar atento para a possibilidade do uso de medicamentos e/ou outros tóxicos pela criança maior e adolescente como forma de tentativa de suicídio, o que requer, além do tratamento médico dos efeitos da intoxicação, o acompanhamento interdisciplinar do pediatra, da psicologia e psiquiatria para garantia do bem-estar e segurança da criança ou adolescente.