Publicado/atualizado: janeiro/2024
Departamento Científico de Prevenção e Enfrentamento das Causas Externas na Infância e Adolescência
Presidente: Luci Pfeiffer
Secretária: Adriana Rocha Brito
Conselho Científico: Márcia Maria Fonseca Barreto, Marco Antônio Chaves Gama, Maria de Fátima Fernandes Géa, Rachel Niskier Sanchez, Sarah Saul
Texto revisado e atualizado por: Adriana Rocha Brito e Luci Pfeiffer
Sim. Embora possa ser um desafio para os pais, viajar com crianças pode ser um evento bem divertido e deixar recordações agradáveis da infância e adolescência de seus filhos. Porém, para que estas lembranças não se tornem pesadelos, são necessários alguns cuidados especiais.
Os acidentes de trânsito representam a primeira causa de morte em crianças que viajam. Por isso, recomenda-se cuidados especiais para transportá-las de forma segura, em assentos adequados para idade e tamanho, que não podem ser esquecidos.
Além disso, deve-se se ficar atento com os locais de visitação. Por exemplo, a segunda causa de morte em viajantes jovens são os afogamentos. Assim, para prevenir essas situações sugere-se que as crianças sejam supervisionadas atentamente o tempo todo e, em viagens por água, que usem coletes salva vidas recomendados pela marinha brasileira. Nas brincadeiras aquáticas o colete é fundamental bem como as sapatilhas/calçados apropriados.
Faça uso sempre dos dispositivos de retenção para o transporte de crianças, durante toda viagem, como os bebês-conforto ou conversível, para crianças de até 13 quilos, sempre virado para trás até um ano de idade. Em alguns países a recomendação é para manter esta posição do dispositivo virado para a traseira do veículo até dois anos de idade. Para o bebê que nasceu prematuro, testes devem ser feitos para saber que tipo de dispositivo de retenção, ou bebê-conforto ele tem condições de usar, bem como quanto tempo ele vai suportar neste assento.
A cadeirinha de segurança está indicada para crianças de 1 até 4 a 5 anos, passando para cadeiras maiores até 7 anos de idade ou assentos elevadores, os mantendo até 10 a 12 anos de idade. Somente após os 10 anos de idade, com peso acima de 36 quilos e com o mínimo de 1,45 m de altura pode ser utilizado o cinto de três pontas do carro e a criança ser colocada no banco da frente do automóvel (Art. 64, Lei n. 14.071, DF. 2021).
O destino e o caminho para que se chegue a ele devem ser definidos dentro das normas de segurança para a criança e o adolescente. Existem passeios que não estão indicados para crianças de baixa idade, por exemplo, pelo calor excessivo, ou pelos riscos do transporte ou do ambiente. Além de ficar atento aos riscos possíveis, organize um pequeno checklist com providências que devem ser tomadas antes de embarcar no carro, ônibus, navio ou avião.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), por meio do seu Departamento Científico de Prevenção e Enfrentamento das Causas Externas na Infância e Adolescência, faz as seguintes recomendações:
1) Fazer consulta com o pediatra de 1 a 2 meses antes, sendo recomendável o mesmo com o dentista;
2) Solicitar ao pediatra um relatório médico e histórico de vacinas e indicação de medicamentos, com destaque para antitérmico, antialérgico, antiemético, antisséptico, pomada para picadas de insetos, curativos adesivados, protetor solar, repelente e álcool em gel;
3) Não esquecer as medicações de uso pessoal e contínuo;
4) Rever e atualizar as vacinas (verificar as obrigatórias no local de destino e realizá-las com pelo menos 2 semanas de antecedência);
5) Observar cuidados de prevenção para doenças infectocontagiosas (malária, parasitoses intestinais, tuberculose, dengue e outras arboviroses), sobretudo em áreas endêmicas ou com menos infraestrutura;
6) Orientar o adolescente sobre infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e situações de risco ou impróprias, como violência sexual e uso de álcool e drogas;
7) Fazer um Curso Suporte Básico de Vida (BLS) antes da viagem, que pode ser útil em situações de emergência;
8) Preparar a bagagem de modo meticuloso, evitando exageros ou faltas, trazendo a criança ou adolescente para participar ativamente;
9) Não esquecer os documentos pessoais de todos, assim como o cartão do seguro/plano de saúde ou a receita do pediatra caso haja necessidade de medicação de uso contínuo;
10) Verificar se as mensalidades do seguro/plano de saúde estão em dia e qual sua cobertura, bem como identificar no caminho e no local de destino onde fica o hospital mais próximo;
11) Verificar a extensão da cobertura do seguro viagem;
12) Avaliar e preparar as atividades relacionadas com a viagem, com atenção especial às crianças com deficiências e/ou com doenças crônicas;
13) Se a viagem é para passeio, escolham locais que sejam adequados à idade e interesses das crianças e dos adolescentes.
Para tentar prevenir determinadas situações, busque orientações com seu pediatra quanto à alimentação, higiene e horários para passeios etc.
Ao chegar no local de estadia, fazer uma varredura completa na área. Procure por perigos e riscos de acordo à idade das crianças (objetos afiados, pedaços metálicos salientes). Verifique também o estado de janelas, portas, varanda, boxes, iluminação, fios elétricos e trancas, se dão a segurança necessária.
Solicite berço e banheira para as crianças menores, verificando previamente se cumprem as normas de segurança, já colocadas neste site. Faça os ambientes se tornarem “à prova de crianças”: cubra tomadas; trave gavetas e vasos sanitários; remova do alcance das crianças os copos e utensílios que podem quebrar e lhes causar lesões, também as facas, fósforos, isqueiros, acendedores, máquinas de café, cosméticos, produtos de higiene e limpeza.
As crianças devem estar orientadas a não abrir as portas de entrada se não tiver um adulto por perto. Além disso, as atividades dos filhos neste local deverão ser sempre supervisionadas por um adulto. Caso haja serviço de recreação, procurem saber quem ficará com as crianças, qual o preparo destes monitores e quais as atividades por faixa etária e em que ambientes ocorrerão. Identifiquem ainda os lugares onde vão se alimentar e brincar, buscando informações sobre sua limpeza, manutenção, medidas de segurança e supervisão. Conheçam e avaliem as áreas de lazer, se seguem as normas básicas de segurança, desde o tipo de piso, estrutura dos brinquedos, distância entre eles, modos de uso, se separados por idade e controle de uso pelos monitores.
Registre-se que os perigos locais devem ser avaliados, seja na área rural, praia, metrópole, ecoturismo, e, especialmente quanto à prática de esportes radicais.
1) Desconforto no ouvido: pode ocorrer em todos, durante o voo, na decolagem e no pouso, devido à pressão no ouvido médio enquanto tenta manter a pressão do ar, que está em rápida mudança. Para reduzir o efeito, as crianças devem ser encorajadas a engolir, bocejar ou mascar chiclete (só em idade apropriada!). Bebês podem ser amamentados ou sugar mamadeira para auxiliar a manter o ajuste de pressão nos ouvidos.
2) Enjoo do viajante: causado pelo “conflito” entre o olhar e o mecanismo de equilíbrio que está no ouvido médio (o ouvido interno detecta o movimento externo, mas os olhos não, por não ser um movimento próprio e estarem focados no carro ou em outro veículo, ou mesmo no interior de um avião). Estes sinais mistos chegam ao cérebro e podem causar náusea, tontura, vômitos, palidez e suor frio. Para prevenir este mal-estar, sugere-se que não se tente manter um foco fixo do olhar, como ler. Em algumas situações o olhar mais à distância em viagens em estradas ou mesmo o fechar de olhos ou ocupar a criança com algo divertido pode diminuir e até desaparecer os sintomas. Fazer refeição leve antes de sair, ingerir alimentos de fácil digestão, evitando gorduras e comer durante viagens curtas. Se o enjoo começou a se manifestar na criança ou adolescente, ofereça algo salgado para mastigar, como bolachas e procure fazer paradas frequentes onde ela possa sair do veículo e brincar; na estrada, estimule-os a olhar para fora, mantendo a janela aberta, sendo que um encosto de cabeça pode minimizar os movimentos.
3) Jet Lag: pode ser sentido após viagens de longa duração, quando leva um tempo para o relógio interno recuperar o atraso ou adiantamento em relação à hora da origem. Os sintomas são de cansaço, porque o corpo ficou acordado por mais tempo que o normal, algumas vezes dores de cabeça, desconforto gástrico e até insônia. Para lidar com isso, tentar ajustar os horários de sono da família uns 2-3 dias antes, descansando bastante antes da viagem; e dormir o quanto puder durante o trajeto. São bons cuidados estimular a criança a alongar o corpo regularmente e levá-la andar pelo corredor do avião. Após a chegada, realizar atividades externas, em locais iluminados e aproveitar a luz do dia, e, permitir que descansem se estiverem muito cansadas, com a proposta de seguir o horário local do destino progressivamente.