Departamento Científico de Nutrologia
Sim. O estilo de vida contemporâneo levou a sociedade a ter necessidade de refeições práticas e rápidas. Isso, associado às facilidades tecnológicas, provocou alterações nos hábitos de vida e no comportamento alimentar de todos. Essa mudança nos costumes alimentares tem repercutido no estado nutricional das crianças e dos adolescentes. Se por um lado, caiu o índice de desnutrição, por outro deixou a população pediátrica mais suscetíveis a problemas como a obesidade, o diabetes e a hipertensão arterial, entre outras doenças da modernidade.
Para prevenir esses efeitos indesejáveis, algumas medidas preventivas podem ser adotadas desde a infância. O foco dessas ações deve ser evitar o desenvolvimento das doenças citadas e outras. Por isso, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), por meio de seu Departamento Científico de Nutrologia, ressalta a importância dos seguintes pontos:
1) Estimular o aleitamento materno como fonte de alimento exclusivo nos primeiros seis meses de vida;
2) Combater o sedentarismo e incentivar a prática de atividades físicas, preferencialmente ao ar livre;
3) Controlar o ganho excessivo de peso, para evitar o sobrepeso e a obesidade;
4) Manter hábitos alimentares com base nas “leis da boa nutrição”, buscando o equilíbrio entre qualidade, quantidade, harmonia e adequação.
A idade pré-escolar, de 2 a 6 anos, é considerada uma fase de extrema importância no que diz respeito ao processo de maturação biológica e ao desenvolvimento sócio-psicomotor. Além disso, nesta fase a criança começa a criar independência e a formar hábitos alimentares para toda vida. Assim, na escola, a criança estabelecerá o primeiro contato com refeições fora de casa. Isso pode expô-la a alimentos que, até então, não faziam parte de suas refeições diárias, como doces, balas, bebidas de alto valor calórico e baixo valor energético e outras guloseimas. Por isso, é importante que escola e família participem da educação alimentar das crianças, criando atitudes positivas frente aos alimentos e à alimentação. Esses grupos e espaços devem encorajar a aceitação da necessidade de uma alimentação saudável e diversificada e fazer com que a criança entenda a relação entre a alimentação e a saúde, desenvolvendo hábitos saudáveis.
Sim. Incentivar a fixação de horário para as refeições é uma das medidas simples que pode melhorar a relação da criança/adolescente com a alimentação. Sem dúvida, ao se criar o hábito do café da manhã, almoço e jantar em família, certamente o relacionamento em casa será melhor e as refeições passarão a ser vistas como momentos de integração e de transmissão de conhecimento, quando os filhos terão acesso a modelos de comportamento e a orientação sobre o que e como comer, por exemplo, consumindo mais frutas, legumes e alimentos frescos em lugar de processados, enlatados e refrigerantes.
Sim. As crianças e os adolescentes aprendem a respeito dos alimentos por suas experiências, mas também observando os outros. Desse modo, a família fornece amplo campo de aprendizagem, no qual a alimentação se torna um dos principais focos de interação entre pais e filhos. Cabe aos mais velhos cuidarem para não criar um ambiente propício à alimentação excessiva ou a um estilo de vida sedentário. Pais que comem demais, muito rápido ou ignoram os sinais de saciedade estão dando exemplo errado aos filhos.
De forma alguma. Não se deve punir ou obrigar a criança a comer determinado alimento. Também não é recomendável substituir o que a criança não quer comer por alimentos não saudáveis, como doces, bolachas recheadas e salgados de pacote. Em lugar isso, deve-se estimular com exemplo de atitudes corretas. As crianças devem ser incentivadas a comerem de forma saudável desde o início da alimentação complementar. Para tanto, é preciso que tenham acesso a alimentos variados para conhecerem os sabores e não terem problemas de recusa mais tarde.
A criança precisa desenvolver seus sentidos de forma a perceber quando tem fome e o momento em que foi saciada, após receber o alimento. Isso é fundamental para que saiba o momento de parar de comer. Os pais devem estar atentos a esse momento para não criarem situações complexas no futuro. Por exemplo, se a criança diz que está satisfeita e não quer comer mais, mas, por sua vez, os pais a mandam “terminar o que está no prato”, esse jovem pode ter a percepção de que sua saciedade não é relevante para a quantidade de comida que precisa consumir. Ou seja, aumenta-se o risco de ter no futuro um adulto com maior dificuldade de manter uma dieta equilibrada.
Se uma criança recusa um determinado alimento importante para seu desenvolvimento, use a criatividade para que aos poucos ela o incorpore ao seu cardápio. Exposições repetidas aos alimentos de forma divertida e educativa são um caminho para superar essa barreira. Assim, não desanime com uma primeira reação negativa ao alimento. Ofereça-o em outra apresentação. Por exemplo: se o problema é com o espinafre numa salada, use-o como ingrediente de um refogado ou em uma omelete ou torta salgada.
As preferências alimentares das crianças e dos adolescentes conduzem ao consumo de alimentos com quantidade elevada de carboidrato, açúcar, gordura e sal. Elas também manifestam um comportamento onde o consumo de vegetais e frutas é baixo. Geralmente, essa atitude tem origem na socialização alimentar da criança e, em grande parte, depende dos padrões da cultura alimentar do grupo social ao qual ela pertence. Ou seja, fatores como a exposição à mídia, à propaganda, o exemplo dos parentes e mesmo a postura dos círculos de amigos podem interferir nas escolhas alimentares da criança e do adolescente.
Lembre-se: criança com fome, come! Por isso, nunca substitua uma refeição por mamadeiras ou alimentos fora do contexto, como bolos, sanduiches, salgados, biscoitos e chocolates. Esses alimentos, além de não fornecerem todos os nutrientes desejados, saciarão a fome da criança e prejudicarão seu apetite para a próxima refeição.
Para vencer a resistência de crianças e adolescentes e fazê-las adotarem um estilo de alimentação saudável, é necessário usar o máximo de sua criatividade. Para a SBP, é importante seguir os passos adiante:
Muita cor e diversão: ofereça às crianças cardápios coloridos e servidos de forma divertida. Por exemplo, crie desenhos ao servir a comida no prato.
Tolerância na medida: aceite um pouco de "bagunça" à mesa. Deixe a criança pegar os alimentos com as mãos e brincar com eles. Com esse comportamento, ela desenvolve uma atitude de cumplicidade com o alimento. Não se esqueça que na fase pré-escolar, quando se aprende o uso dos cinco sentidos, os alimentos se tornam uma boa e saudável fonte de descobertas.
Brinque com a comida: se seu filho já cresceu um pouquinho, leve-o para a cozinha e mostre como cozinhar pode ser divertido. Faça pratos coloridos e monte formas variadas, como bolinhos, tortas, enrolados, panquecas e por aí vai. Solte a imaginação!
Varie o cardápio: misture alimentos que a criança gosta com outros que ainda não conhece. Alguns pratos costumam fazer a alegria das crianças e ajudam a diversificar as refeições. São opções desse tipo, omeletes servidas com seleta de legumes e arroz; as tradicionais e saborosas tortas de liquidificador (recheadas com carne ou frango e quatro tipos de legumes); as panquecas com carne moída, mandioca cozida e picada, vagem em tiras e tomates em cubos (depois de enroladas, polvilhe queijo ralado e gratine no forno).
Exercite a perseverança: fazer boas escolhas alimentares é um processo complexo e tem consequências em curto e longo prazos para a saúde. Não é fácil, mas uma educação alimentar bem-feita na infância fará das crianças e adolescentes, adultos mais saudáveis, vivendo com mais qualidade.