Departamento Científico de Aleitamento Materno
Sim, é uma das etapas desse processo. A amamentação, muitas vezes, é vista como apenas uma forma de alimentação dos bebês, sob o controle dos adultos. Perdemos a percepção de que o aleitamento materno faz parte de uma ação ampla e complexa etapa do desenvolvimento do indivíduo, com repercussão na sua saúde física e psíquica. O Dr. William Sears, famoso pediatra norte-americano, faz recomendações de acordo com essa linha de pensamento: “Não limite a duração da amamentação a um período pré-determinado. Siga os sinais do bebê. A vida é uma série de desmames, do útero, do seio, de casa para a escola, da escola para o trabalho. Quando uma criança é forçada a entrar em um estágio antes de estar pronta, corre o risco de afetar o seu desenvolvimento emocional”.
Para quem acha que a amamentação supostamente “prolongada” pode gerar problemas emocionais ou deixar as crianças muito dependentes, há uma informação interessante: segundo diversas teorias, o período natural de aleitamento materno para a espécie humana se situa entre 2 e 4 anos. Desconhecedoras desse fato, algumas mães promovem o desmame precocemente acreditando contribuir para o processo de amadurecimento de seus filhos. Entretanto, pode ocorrer exatamente o oposto, ou seja, gerar insegurança, dificultando que as crianças se tornem indivíduos independentes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno por 2 anos ou mais, devendo ser a única forma de alimentação da criança nos 6 primeiros meses de vida. Ainda assim, apenas um terço das mulheres no Brasil amamentam seus filhos por 2 anos ou mais. As razões para isso vão desde dificuldades práticas relacionadas à rotina diária, até a crença de que a amamentação além do primeiro ano de vida é danosa para a criança do ponto de vista psicológico.
Sim, existem. O desmame pode ser classificado em quatro diferentes categorias: abrupto, planejado ou gradual, parcial e natural. Neste último, que seria o processo ideal, a criança se autodesmama, sob a liderança da mãe. Costuma ocorrer, gradativamente, entre 2 e 4 anos de idade. Em alguns casos, pode ser súbito, como em uma nova gravidez da mãe, quando o gosto e o volume do leite se alteram, mas muito dificilmente ocorre ainda no primeiro ano de vida. Alguns fatores podem fazer com que o próprio bebê promova uma “greve” na amamentação, antes de completarem 1 ano. Mas é importante não confundir essa situação com o desmame natural. As causas para a rejeição repentina do leite materno, que não deve durar muitos dias, podem ser doenças, alteração do sabor ou do volume do leite, estresse, entre outras.
O desmame abrupto não é recomendável, pois pode gerar na criança um sentimento de rejeição e insegurança, causando um comportamento rebelde. Já para a mãe, a interrupção abrupta do aleitamento materno pode ocasionar ingurgitamento mamário, bloqueio de ducto lactífero e mastite, além de depressão. Mas no caso de necessidade ou mesmo desejo da mãe de desmame precoce, é importante que a mãe/família receba orientação/apoio de um profissional de saúde.
São várias as vantagens do desmame natural. Destacam-se a realização de uma transição tranquila no processo do aleitamento materno, com menos estresse para a mãe e para a criança; o preenchimento das necessidades da criança até que ela atinja a maturidade suficiente para o desmame; o fortalecimento da relação entre mãe e filho; e a diminuição da ansiedade materna com relação ao desenvolvimento da criança.
Entres os sinais indicativos de que a criança pode estar madura para o desmame, pode-se listar os seguintes:
1) Idade maior que 1 ano;
2) Menos interesse pelas mamadas;
3) Aceitação de alimentos variados;
4) Aceitação de outras formas de consolo;
5) Aceitação de não mamar em certas ocasiões e locais;
6) Pouca ansiedade quando encorajada a não mamar;
7) Preferência por outras atividades em vez de mamar;
8) Segurança na relação com a mãe.
Há fatores que facilitam o encorajamento do bebê para o desmame. Entre os principais, estão a segurança da mãe em querer ou dever encerrar a amamentação e o entendimento, por parte da mãe e da família, da complexidade do processo. Também influenciam nesse processo a compreensão e paciência com as reações do bebê; o suporte e a atenção adicionais à criança neste período; a ausência de outras mudanças ocorrendo simultaneamente (retirada das fraldas, mudança de residência, nascimento de irmão, crise importante na família, entre outras) e a realização de um processo gradual, retirando uma mamada do dia a cada semana.
Não. As técnicas para incentivar o desmame variam de acordo com a idade. As crianças maiores, por exemplo, podem participar do planejamento para o fim do aleitamento materno. É possível propor uma data específica e até oferecer recompensa. A mãe pode passar a não oferecer o seio, ainda que não o negue quando solicitado, pode encurtar as mamadas, adiá-las quando possível e evitar certos horários e locais. Outra opção é distrair a criança substituindo as mamadas por brincadeiras. Deve-se ressaltar a importância da participação do pai, sempre que possível