Dr. Luciano Borges Santiago – presidente do DCAM-SBP
A participação e o apoio do pai no aleitamento materno são fundamentais para a mulher e filho. Ela faz a mãe se sentir mais completa e segura, trazendo benefícios à lactante, ao lactente e à família como um todo. A afirmativa é do novo presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (DCAM-SBP), dr. Luciano Borges Santiago.
Em entrevista ao SBP AmamentAÇÃO, dr. Luciano reforça a importância do pediatra incentivar e orientar, cada vez mais, os pais no processo do aleitamento materno e das consultas de puericultura. Ele fala também sobre a proposta de ampliação da licença-paternidade, a qual é tema de 36 projetos em tramitação na Câmara dos Deputados e no Senado.
“Não existe investimento em saúde que dê mais retorno do que investir em aleitamento materno. Uma publicação da revista Pediatrics, da Academia Americana de Pediatria (AAP), deixa claro: a cada US$ 1,00 investido em amamentação o retorno é de US$ 2,00 a US$ 3,00”, explica.
Nessa conversa, dr. Luciano destaca ainda o plano de trabalho do DCAM-SBP para os próximos três anos, cujas metas incluem maior aproximação com o Ministério da Saúde; a atualização da seção de aleitamento materno no Tratado de Pediatria; o desenvolvimento de um novo curso EAD sobre Aleitamento Materno para os pais/familiares/leigos; e o desenvolvimento de um projeto de reconhecimento do pediatra que incentivar a amamentação em seu consultório no dia a dia, que está em análise. Confira a seguir.
SBP AMAMENTAÇÃO – O tema da SMAM desse ano trouxe como mensagem central a relevância do apoio e do incentivo à família que está amamentando. Por que é importante abordar o pai como um dos responsáveis pelo sucesso do aleitamento materno?
Dr. Luciano Borges Santiago – A sociedade costuma delegar ao homem a responsabilidade de ser apenas o provedor financeiro, o que acaba isentando-o de uma participação direta na criação e nos cuidados com os filhos e, consequentemente, da amamentação. No entanto, pesquisas mostram que o pai exerce um importante papel na duração do aleitamento materno. A mãe se sente mais segura e apoiada quando o pai incentiva a amamentação, o que traz benefícios à lactante, ao lactente e à família como um todo.
SBP AMAMENTAÇÃO – Com base no tema deste ano, qual a contribuição que os pediatras podem dar durante as consultas no que diz respeito ao aleitamento materno?
LBS – Os pediatras devem incentivar a participação cada vez maior dos pais no processo do aleitamento materno e nas consultas de puericultura.
SBP AMAMENTAÇÃO – 36 projetos para ampliação da licença-paternidade de cinco para 20 dias tramitam no Congresso Nacional. Por que é importante a aprovação dessa proposta?
LBS – Esse aumento traria enormes benefícios para o País, sem aumentar custos para as empresas. Não existe investimento em saúde que dê mais retorno financeiro do que investir em aleitamento materno. A revista Pediatrics, da Academia Americana de Pediatria (AAP), deixa claro: a cada US$ 1,00 investido em amamentação o retorno é de US$ 2,00 a US$ 3,00. Estudos comprovam que a promoção do aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida gera uma economia de gastos com saúde da criança pequena à vida adulta, evitando uma série de doenças. Sem dúvida, a amamentação é algo que muda a vida de todos nós e do País. Estudos comprovam que se 90% das mulheres amamentassem, haveria uma economia anual de bilhões de dólares em saúde da criança em curto e em longo prazos.
SBP AMAMENTAÇÃO – Qual o tempo ideal de licença para o pai acompanhar e apoiar a mulher no período da amamentação?
LBS – Acredito que 30 dias seria um tempo bom, pois os pais estariam próximos das mães nas primeiras dificuldades da amamentação.
SBP AMAMENTAÇÃO – Em março deste ano foi aprovado no Senado projeto de lei nº 514/2015, que tem como objetivo garantir às mulheres o direito de amamentar em locais públicos, privados abertos ao público ou de uso coletivo sem serem constrangidas. O texto seguiu para análise dos deputados federais. Qual a importância dessa proposta?
LBS – Isso deveria ser visto como um ato natural, contudo, infelizmente, ao vermos essa matéria regulada em lei fica evidente como nossa cultura da amamentação ainda está muito longe do ideal. Enfim, a livre demanda do bebê, que insiste em amamentar em determinados horários que escolhe por necessidade biológica, psicológica, afetiva, emocional, deve ser respeitada.
SBP AMAMENTAÇÃO – Quais projetos o senhor e os demais membros pretendem desenvolver por meio do Departamento Científico de Aleitamento Materno da SBP?
LBS – Vamos dar sequência ao grande trabalho que já vem sendo feito: atualizações constantes no site da SBP e no Pediatria para Famílias; atualização da seção de aleitamento materno no Tratado de Pediatria; e atualização do Manual de Aleitamento Materno. Vamos manter as ações do Agosto Dourado; o Simpósio de Aleitamento Materno durante o Congresso Brasileiro de Pediatria; e o curso EAD em Aleitamento Materno para profissionais de saúde. Também pretendemos desenvolver um novo EAD sobre Aleitamento Materno para os pais/familiares/leigos; e produzir novos documentos científicos. Outra meta é desenvolver um projeto de reconhecimento do pediatra que incentiva a amamentação em seu consultório no dia a dia e promover um curso de capacitação em aleitamento materno durante a Residência de Pediatria.
SBP AMAMENTAÇÃO – De que forma pretende ampliar a atuação junto ao Ministério da Saúde, no que se refere ao aleitamento materno?
LBS – Gostaríamos de estimular o desenvolvimento de políticas públicas que remunerem melhor o pediatra com melhores resultados em duração do aleitamento materno nos seus pacientes. Assim, o pagamento por resultado seria uma grande ferramenta de incentivo à amamentação e traria grandes benefícios à saúde e à economia de nosso País.