O SBP AmamentAÇÃO conversou com o presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da SBP (DCAM-SBP), dr. Luciano Borges Santiago. Em sua fala, ele reforçou o papel da proteção do aleitamento para o vínculo afetivo entre mãe e filho, para a economia, meio ambiente e prevenção de doenças. “Alimentar uma criança com leite humano é muito mais que providenciar nutrição. É estar protegendo a criança e sua mãe de doenças atuais e futuras. É cuidar do planeta. É mostrar responsabilidade social”, disse.
O médico também destacou as ações que serão realizadas pela SBP ao longo do mês e convocou os pediatras a aderirem à campanha de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno (AM), “tão fundamental para a saúde coletiva do País”.
Confira a íntegra da entrevista:
SBP Notícias - Qual a importância do tema da SMAM 2021 “Proteger a amamentação: uma responsabilidade de todos”?
Dr. Luciano Borges Santiago (LBS) - Esse ano comemoramos os 40 anos do Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno e somos todos chamados a defender o “padrão-ouro” de alimentação infantil. No Brasil, temos a Norma Brasileira para Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras (NBCAL), que segue na linha da proteção do leite humano frente ao marketing de fórmulas e demais leites modificados. A chamada de responsabilidade do slogan da WABA deste ano é para todos! Nós, da SBP, convocamos o pediatra, profissional com posição estratégica, para orientação de alimentação saudável desde o nascimento, para entrar nessa campanha fazendo a diferença. Alimentar uma criança com leite humano é muito mais do que providenciar nutrição. É proteger a criança e sua mãe de doenças atuais e futuras. É cuidar do planeta. É mostrar responsabilidade social.
SBP Notícias - Qual o papel do pediatra na promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno? De que forma ele pode trabalhar isso durante as consultas junto às futuras mamães ou lactantes?
LBS - Isso está resumido nos dez passos para o pediatra fazer a diferença que desenvolvemos. São eles: 1. reconhecer que a amamentação é a melhor forma de alimentação da criança pequena, sendo inigualável; 2. ter uma visão ampliada da amamentação, acreditando que amamentar é muito mais que alimentar a criança; 3. praticar o aconselhamento em todas as consultas envolvendo a amamentação, auxiliando as mulheres/famílias a tomarem decisões informadas; 4. respeitar e apoiar as opções das mulheres, sem gerar culpas; 5. acolher e confortar as mulheres que, por alguma razão, não amamentaram ou amamentaram menos do que o recomendado; 6. manter-se atualizado, adotando práticas baseadas nas melhores evidências científicas disponíveis; 7. ter conhecimento e habilidades clínicas necessários para apoiar as mulheres nas dificuldades relacionadas à amamentação; 8. adotar as boas práticas hospitalares em amamentação, compatíveis com os “Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento Materno” da Iniciativa Hospital Amigo da Criança; 9. conhecer e cumprir a Lei n.11.265 / NBCAL (proteção legal do AM) e outras legislações de proteção da amamentação; 10. acreditar que amamentação é um processo que precisa ser compartilhado, valorizando a rede de apoio da mulher.
SBP Notícias - Muitas informações falsas circulam na internet, as chamadas fake news. Diante desse fato, como os pediatras podem orientar a população em relação aos benefícios do aleitamento materno?
LBS - É muito importante que o pediatra esteja atento ao passo 6: manter-se atualizado, adotando práticas baseadas nas melhores evidências científicas disponíveis.
SBP Notícias - A defesa pela ampliação da licença-maternidade para 180 dias é uma luta histórica da Sociedade Brasileira de Pediatria, que defende que a licença-maternidade seja, no mínimo, de seis meses. Também tramitam no Senado e no Congresso, Projetos de Lei que visam a ampliação da licença-paternidade dos atuais 5 dias para 15 dias. Na sua opinião, o que falta para a aprovação dessas leis para todas as mães e não somente as que trabalham em empresas cidadãs e/ou funcionárias públicas bem como também para os pais?
LBS – Falta a conscientização dos parlamentares, não apenas dos inúmeros benefícios que o aleitamento materno trás para a saúde de crianças e suas mães, mas também a enorme economia trazida pela redução de custos com doenças, menos absenteísmo em empresas. Filhos de mães que amamentam adoecem menos, por exemplo, e por isso as mesmas quase não faltam ao serviço. Isso tudo sem esquecer da importância no desenvolvimento de "QI" que o leite humano promove, pensando reserva intelectual estratégica de nosso País.
SBP Notícias - Qual a importância do pediatra em divulgar a NBCAL?
LBS - De acordo com nosso passo 9, o pediatra deve conhecer e cumprir a Lei 11.265/2006, que trata da proteção legal do AM, e outras legislações pertinentes, pois inegavelmente os índices de utilização de fórmulas, bicos, chupetas e mamadeiras está muito acima do aceitável em nosso País, enquanto os índices de AM ainda estão baixos em relação às metas propostas pela OMS.
SBP Notícias - E a amamentação em espaços públicos? Como isso deve ser trabalhado com a população para que seja visto como um ato natural e não como uma situação de constrangimento?
LBS - Vivemos uma cultura do "leite de vaca, mamadeiras e chupetas". As crianças desde pequenas brincam de ser mães, com suas bonecas, oferecendo chupetas e mamadeiras. Isso acaba "parecendo" ser natural, sendo que, na verdade, o natural seria que as crianças colocassem suas bonecas no peito. Mudar a cultura é algo que exige tempo e persistência, campanhas contínuas, desde o início da vida e da escola. Para que o natural seja amamentar, em qualquer momento e em qualquer lugar!
SBP Notícias – Qual a mensagem gostaria de deixar a todos os pediatras?
LBS - O aleitamento materno sempre vale a pena! Portanto, aos pediatras: façam a diferença!