Especialistas reforçam que a alta exposição a mídias digitais pode acarretar em ansiedade, níveis elevados de estresse e depressão
No mês em que as atenções se voltam para a necessidade de cuidados com a saúde mental, as discussões em torno do Janeiro Branco também colocam em primeiro plano os transtornos psíquicos que crianças e adolescentes podem enfrentar. Um dos fatores de risco que desperta a preocupação de especialistas é o uso excessivo de telas e redes sociais. Profissionais alertam que o vício tem potencial para desequilibrar a atuação cerebral numa das fases mais importantes do desenvolvimento.
O mapeamento dos impactos da exposição prolongada a computadores, tablets e celulares é alvo permanente de pesquisadores, principalmente pelo que já se observou em estudos. Cientistas da UFC (Universidade Federal do Ceará) e da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, acompanham mais de 3 mil crianças desde o nascimento até elas completarem 5 anos de idade. A pesquisa é realizada desde 1987, no Ceará, e identificou que cada hora adicional de exposição a telas de eletrônicos contribuiu para menos pontos nos domínios de comunicação, capacidade de resolução de problemas pessoais-sociais e desenvolvimento infantil. No contexto, pediatras detalham que os prejuízos sociais e cognitivos não são os únicos.
Especialista em desenvolvimento infantil e membro da SGP (Sociedade Goiana de Pediatria), a pediatra Ana Márcia Guimarães explica que os eletrônicos em excesso podem levar a isolamento, ansiedade e níveis elevados de estresse e relaciona a prática com o uso descomedido de telas. “Existe o transtorno de vício de internet e jogos já reconhecido pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Esse distúrbio desencadeia um desequilíbrio químico e neurológico no cérebro da criança”, afirma.
Entre os sintomas mais comuns estão problemas com sono, dificuldades na escola e de se autorregular. “Por exemplo, quando os pais viajam para um lugar que não tem internet ou ainda quando a energia cai e as crianças apresentam reações exageradas. Esses são sinais de que pode haver um problema e precisa ser tratado com urgência”, detalha a especialista.
Tratamento
Doenças mentais entre crianças e adolescentes são uma realidade mundial. Em todo o planeta, a depressão entre crianças dos seis aos 12 anos saltou de 4,5% para 8% na última década, segundo a OMS. O crescimento alarmante pode provocar outra consequência ainda mais grave: o aumento de suicídios. De acordo com levantamento do Ministério da Saúde, de 2016 a 2021, a taxa de mortalidade aumentou 45% na faixa etária de 10 a 14 anos e 49,3% na de 15 a 19 anos. O suicídio é a segunda principal causa de morte entre brasileiros de 15 a 24 anos.
“Pais e responsáveis precisam ficar atentos aos sintomas iniciais de transtorno especialmente quando notamos o uso excessivo de telas. Para falar de Janeiro Branco em crianças e adolescentes é necessário abordar a importância da identificação precoce e o combate ao preconceito. A orientação é procurar ajuda o quanto antes. Em alguns casos, a solução vai ser intervenção no ambiente, em outros pode ser recomendado acompanhamento terapêutico e em determinadas situações é necessário o uso de medicamentos,” explica Ana Márcia.
O nível de exposição a eletrônicos é estabelecido pela comunidade científica levando em conta cada faixa etária. Até os dois anos de idade, a recomendação é que a criança não tenha nenhum contato com telas para que a inteligência e a socialização não sejam afetadas. Até os seis anos, o limite deve ser de duas horas diárias. No caso de adolescentes o ideal é que o uso de aparelhos seja cessado duas horas antes de dormir.
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