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Arq Asma Alerg Imunol – Vol. 2. N° 1, 2018 19 Embora haja alguma evidência que implique genes específicos na susceptibilidade a alergias alimentares, os estudos não foram replicados em grande escala. As mutações que acarretam perda de função no gene da filagrina foram associadas à alergia ao amendoim, independente da presença da dermatite atópica, e levantou a possibilidade da pele funcionar como uma via potencial de sensibilização 49 . Na Dinamarca, as mutações do gene da filagrina também foram asso- ciadas ao aumento de alergia referida a ovo, leite de vaca, trigo e peixes, bem como à presença de níveis elevados de IgE específicos à proteína do leite de vaca, todavia, ainda é controversa a participação de- terminante da filagrina na alergia alimentar, especial- mente em pacientes com história familiar de doenças alérgicas 54‑56 . Os polimorfismos no gene STAT6 foram associados à sensibilização e retardo na tolerância em alergia ao leite de vaca 57 . Embora pareça muito provável que haja base genética para o desenvolvimento de alergias alimen- tares, são necessários mais estudos para identificar os loci específicos envolvidos, e como ainda não é possível modificá-la, todas as ações devem ser di- recionadas ao ambiente, no sentido de estabelecer os fatores de risco e, a partir destes, tentar evitar a sensibilização alérgica. Fatores dietéticos Alimentação da gestante e da nutriz A alimentação bem balanceada ajuda a modular o perfil imunológico do bebê. O papel da dieta na gestante sobre o desenvolvimento de alergia ali- mentar ainda permanece controverso. A maioria das sociedades científicas internacionais, consistente- mente, orientam todas as mães a consumirem dietas normais, balanceadas e equilibradas sem restrições durante a gestação e a lactação 52,58-60 . Revisão sistemática e metanálise enfatizou não haver evidências para apoiar uma associação entre o consumo de peixe, vitamina A, vitamina C, vitami- na E ou zinco durante a gravidez e alergia alimentar no bebê 61 . O consumo de frutas cítricas associou- se a maiores taxas de sensibilização, mas não de alergia 62 . O consumo materno de proteínas e de carboidra- tos em alimentos lácteos não é per se fator de risco para alergia alimentar no lactente, com dúvidas nos com história familiar de alergia às proteínas do leite de vaca. Da mesma forma, não há estudos que indiquem que o consumo de ovo seja fator de risco, inclusive nos casos com familiares alérgicos a este alimento. Assim, a recomendação é que não haja qualquer restrição alimentar durante a gravidez 60 . Em relação ao consumo de amendoim na gesta- ção, o estudo ALSPAC ( Avon Longitudinal Study of Parents and Children ) não mostrou efeito do consumo de amendoim na gestação e lactação e o desenvolvi- mento de reações clínicas ou imunológicas ao amen- doim na criança até os 4 a 6 anos de idade 63 . Assim, não há evidências consistentes de bene- fícios quanto à modificação da dieta de gestantes e lactantes visando a prevenção da alergia alimentar e, portanto, todas as mães, independentemente do risco familiar para alergias, deveriam receber dieta balanceada e equilibrada nessas fases. No entanto, ainda há controvérsias na comunidade científica, uma vez que outros estudos indicam que tanto a sensibili- zação quanto a tolerância imunológica, principalmente ao amendoim, leite de vaca e ovo, pode acontecer através da amamentação 52,63 . Apesar disso, a re- comendaçao atual é de não se prescrever dieta de exclusão durante a gravidez e a lactação 60 . Privação do aleitamento materno O aleitamento materno e o ato de amamentar são de extrema importância na promoção da saúde e na prevenção de doenças em curto e longo prazo, para a nutriz e seu filho. Assim, o aleitamento materno deve ser recomendado de forma exclusiva até o sex- to mês e complementado (por meio de alimentação complementar balanceada e equilibrada) até os dois anos ou mais 64 . O leite materno contém IgA secretora, que funcio- na como bloqueador de antígenos alimentares e am- bientais, bem como vários fatores de amadurecimento da barreira intestinal e fatores imunorreguladores importantes no estabelecimento da microbiota. O leite materno tem papel importante na indução de tolerân- cia oral, quando o alimento alergênico é introduzido de forma complementar, em pequenas quantidades. O aleitamento materno exclusivo, sem a introdu- ção de leite de vaca, de fórmulas infantis à base de leite de vaca e de alimentos complementares até os seis meses tem sido ressaltado como eficaz na prevenção do aparecimento de sintomas alérgicos. Estudo de revisão de trabalhos que avaliaram o efeito protetor do leite materno entre lactentes com risco familiar de alergia alimentar ao serem amamentados exclusivamente até os quatro meses de vida, de- Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 - Parte 1 – Solé D et al.
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