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Arq Asma Alerg Imunol – Vol. 2. N° 1, 2018 25 mecanismos imunológicos envolvidos. Enquanto as reações mediadas por IgE tipicamente ocorrem minutos após a exposição ao alimento envolvido, as não-mediadas por IgE e as formas mistas podem demorar de horas até dias para se tornarem clinica- mente evidentes 97 . As respostas de hipersensibilidade induzidas por antígenos alimentares mediadas por IgE podem ser o resultado de falta da indução ou quebra dos meca- nismos de tolerância oral no trato gastrintestinal, que ocorrem em indivíduos geneticamente predispostos 98 . Tanto na falta de indução, como na quebra dos mecanismos de tolerância, ocorre produção exces- siva de IgE específica ao alimento envolvido. Estes anticorpos ligam-se a receptores de alta afinidade (Fc e RI), presentes em mastócitos e basófilos e em receptores de baixa afinidade (Fc e RII), presentes em macrófagos, monócitos, linfócitos, eosinófilos e plaquetas. Com uma nova exposição ao alérgeno alimentar, ocorre sua ligação aos anticorpos IgE específicos, fixados em mastócitos e basófilos, sendo liberados mediadores como histamina, prostaglan- dinas e leucotrienos, que promovem vasodilatação, contração do músculo liso e secreção de muco, com indução de sintomas característicos. A ativação de mastócitos também promove a liberação de várias citocinas, que são importantes na fase tardia da resposta IgE-mediada. Embora vários relatos discutam outros meca- nismos de hipersensibilidade não mediados por IgE, as evidências que dão respaldo ao seu papel são limitadas, sendo a resposta de hipersensibili- dade celular tipo IV (induzida por células), a mais relacionada com várias doenças, e nela a resposta clínica pode ocorrer de várias horas até dias após a ingestão do alimento suspeito. Esta resposta celular pode contribuir em várias reações aos alimentos, como nas enterocolites e nas enteropatias induzi- das por proteínas alimentares, mas há necessidade de mais estudos comprovando esse mecanismo imunológico 99,100 . Manifestações clínicas de hipersensibilidade a alimentos Cutâneas As manifestações cutâneas de alergia alimentar estão entre as mais descritas, sendo mais prevalentes nas alergias IgE mediadas 101 . Entre as manifestações cutâneas de hipersensibilidade alimentar, destacam- se: urticária, angioedema e dermatite atópica. Urticária e angioedema A pele é o principal órgão acometido nas manifes- tações agudas de alergia alimentar, IgE mediadas, sendo a urticária e o angioedema os sintomas mais prevalentes. A urticária é caracterizada pela presença de pápulas eritematosas bem delimitadas na pele, de contornos geográficos com halo central e, em geral, intensamente pruriginosas. As lesões resultam do ex- travasamento de líquido oriundo de pequenos vasos ou de capilares à derme superficial. No angioedema, o processo é semelhante, mas há acometimento de porções mais profundas da pele. É preciso lembrar que alergia alimentar como causa de urticária ocorre em cerca de 20% dos casos de urticária aguda e menos de 8% nos casos de urticária crônica, sendo necessário muito cuidado na valorização do alimento como fonte desencadeante. Por outro lado, a urticária pode ser o sintoma inicial de anafilaxia, uma vez que cerca de 90% dos pacien- tes que desenvolvem esta reação grave apresentam manifestações dermatológicas. A urticária de contato também é bastante descrita na alergia alimentar, ca- racterizada pela formação da pápula no exato local ou bem próximo do contato do alimento com a pele.Vale destacar que a presença de urticária de contato não é necessariamente sinal de manifestação sistêmica de alergia alimentar. Ela é mediada por IgE, e apesar de ser reconhecida como urticária de contato, deve ser diferenciada do eczema de contato, resultante da exposição crônica a determinado alérgeno agressor, inclusive alimentos (doença profissional na maior par- te dos casos), e resultante da resposta dos linfócitos T frente ao alérgeno alimentar 6,101 . A urticária induzida por alimentos pode vir acom- panhada de sintomas gastrintestinais ou respiratórios e, neste caso, caracteriza-se uma anafilaxia. Por ser reação do tipo imediato, a identificação do alimento envolvido pode ser mais fácil, uma vez que a mani- festação ocorre até duas horas após a ingestão do alimento 6,101 . A liberação não imunológica de histamina pode ocorrer após a ingestão de algumas frutas, como morango e banana, certos queijos e tomate. Da mesma forma há ativação de mastócitos de maneira inespecífica frente a bactérias presentes em alimen- tos contaminados ou em peixes em mal estado de conservação, que podem converter a histidina em níveis elevados de histamina, gerando urticária por intoxicação exógena; esta situação pode ser confun- dida com alergia alimentar 6,101 . Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 - Parte 1 – Solé D et al.

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