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Arq Asma Alerg Imunol – Vol. 2. N° 1, 2018 27 esôfago nas crianças maiores e nos adultos; (b) infiltrado eosinofílico em contagem igual ou superior a 15 eos/CGA no esôfago; (c) ausência de aumento de eosinófilos em outros segmentos do tubo digestivo e exclusão de outras doenças que poderiam causar eosinofilia esofágica, como doença inflamatória intes- tinal, síndrome hipereosinofílica, infecções, e outras doenças 107,108 . A endoscopia digestiva alta com biópsias é es- sencial para o diagnóstico. Os achados endoscópicos incluem anéis concêntricos fixos e/ou transitórios, exsudato granular em forma de pontilhado esbran- quiçado, sulcos ou estrias verticais, edema com apagamento da trama vascular, estreitamento do calibre esofágico, estenoses e fragilidade da mucosa tipo “papel crepom”. Histologicamente temos infiltrado eosinofílico, que reforça o diagnóstico 109 . A EoE ocorre mais frequentemente no sexo masculino (até 80%), e alguns estudos relatam a existência de atopia em até 81% dos pacientes, com positividade em provas de diagnóstico (IgE sérica específica e teste cutâneo de leitura imediata), e às vezes com os testes de contato alérgico ( patch test ). Isso demonstra uma provável participação de mecanismos de hipersensibilidade imediata e tardia na etiopatogenia da EoE 110 . A EoE é uma doença crônica, com períodos de melhora e de piora dos sintomas, o que traz a neces- sidade de tratamento adequado. Não existe consenso sobre o tratamento ideal para os pacientes com EoE, entretanto, são prescritos dieta de restrição com ou sem medicações (inibidores de bomba de prótons [IBP] ou corticosteroides tópicos) e dilatações. Após a confirmação histológica (> 15 eos/CGA), é reco- mendado iniciar o tratamento com IBP (1 a 2 mg/Kg/ dose), 2 doses ao dia, por 8 a 12 semanas, quando a endoscopia e biópsia devem ser repetidas. Se houver redução do número de eosinófilos (< 15 eos/CGA), o paciente pode ser mantido somente com IBP e tenta-se diminuir a dose para uma vez ao dia. Por outro lado, se não houver resposta e persistência da eosinofilia, deve-se optar pelo tratamento dietético ou com corticosteroides 110 . As opções terapêuticas atuais incluem a utilização de dietas de restrição, empíricas ou baseadas nos tes- tes alérgicos, e o uso de corticosteroides tópicos de- glutidos ou, muito eventualmente, sistêmico 110‑112 . A maioria dos pacientes (97%) com EoE responde à dieta elementar (fórmulas de aminoácidos), com resolução dos sintomas e melhora da histologia. A rápida resolução dos sintomas com a dieta elementar é muito animadora, e pode ser utilizada para a melho- ra do paciente. No entanto, a palatabilidade, o preço e a necessidade de grandes volumes de dieta ainda são obstáculos para esta modalidade de tratamento. Grande parte dos pacientes precisa utilizar sondas nasogástricas para receber a quantidade adequada de fórmula de aminoácidos. Nestes pacientes, depois da melhora clínica, os alimentos podem ser reini- ciados gradualmente com acompanhamento clínico e endoscópico. Outras opções incluem a dieta de exclusão de seis alimentos (leite de vaca, ovo, soja, trigo, amendoim e frutos do mar), de quatro alimentos (leite, ovo, soja, trigo), de dois alimentos (leite e trigo) ou mesmo apenas de leite de vaca. Essas alternativas geralmente são mais aceitas do que a dieta elementar devido à melhor adesão ao tratamento pelo paciente, porém os índices de sucesso são menores e caem significantemente segundo o número de alimentos retirados 110,113 . O uso de corticosteroides tópicos (fluticasona e budesonida) deglutidos tem demonstrado bons resul- tados. Os dispositivos empregados no tratamento da asma são os utilizados. Os jatos devem ser dispara- dos diretamente na orofaringe e a seguir deglutidos, recomendando-se ao paciente não ingerir alimentos ou líquidos, por via oral, durante meia hora a uma hora após a administração do medicamento. Outra opção é o uso de uma formulação de corticosteroi- de tópico, budesonida tópica viscosa (budesonida misturada com sucralose) com índices positivos de melhora clínica, histológica e endoscópica 110,114‑116 . Os corticosteroides sistêmicos são eficazes no trata- mento da EoE grave e são capazes de induzir melhora clínica e histológica. No entanto, a recidiva após a sua suspensão faz com que seja necessário repetir seu uso com maior chance de desenvolvimento de efeitos colaterais. O prognóstico dos pacientes ainda não está bem estabelecido, mas aparentemente os sintomas ten- dem a recorrer ou persistir até a idade adulta, com períodos de melhora e piora. O desenvolvimento de estenoses fibróticas, decorrentes da inflamação crôni- ca e deposição de colágeno, são as possíveis compli- cações de longo prazo descritas. Até o momento, não há casos de malignidade associados à EoE 110 . Gastrite / Duodenite eosinofílicas Embora o número crescente de casos de EoE, há poucos estudos epidemiológicos sobre as outras Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 - Parte 1 – Solé D et al.

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