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Arq Asma Alerg Imunol – Vol. 2. N° 1, 2018 31 de crescimento 144 . Nestas situações deve-se buscar o diagnóstico diferencial com doenças inflamatórias intestinais. Proctocolite eosinofílica A proctocolite (ou colite) eosinofílica, também denominada de alérgica é uma forma comum de apresentação da alergia às proteínas do leite de vaca 44,103,130,145 , porém, sua prevalência é desconhe- cida 146 . Indiscutivelmente, constatou-se, na prática, aumento da sua incidência nas últimas décadas. Do ponto de vista clínico, a proctocolite eosinofílica é mais frequente emmeninos do que emmeninas (60% versus 40%), tem início nos primeiros meses de vida (80% antes dos 6 meses), e na maior parte dos casos as fezes não apresentam redução de consistência (70% dos casos). Em cerca da metade dos casos (44%) pode ser observado eosinofilia no sangue periférico 145 . Em geral, não há comprometimento do estado geral e a criança apresenta-se saudável e com bom ganho de peso. Na maioria dos casos, a perda de sangue é discreta 44 , porém, pode ocorrer anemia por deficiência de ferro. O quadro clínico é mais comum da alergia às proteínas do leite de vaca, no entanto, existem alguns questionamentos 147 . Ao contrário do que se acreditava no passado 44 , cerca da metade dos casos ocorre na vigência de aleitamento natural exclusivo (reações às proteínas ingeridas pela mãe com transmissão através do leite materno) 146 . Nas crianças em aleitamento misto ou artificial, as proteínas do leite de vaca são a causa mais frequente, no entanto, há descrições de reações à soja 44,147 . Em menos de 10% dos casos, fórmulas com proteínas extensamente hidrolisadas podem provocar proctocolite alérgica 127 . Em geral, a perda de sangue desaparece poucos dias após a exclusão da proteína alergênica da dieta da mãe (lactentes em aleitamento natural exclusivo) ou do lactente 44,103,127,146 . Na dieta de exclusão, as fórmulas com proteínas extensamente hidrolisadas são eficazes em mais de 90% dos casos. Para os lactentes que apresentam proctocolite eosinofílica na vigência de aleitamento natural exclusivo e que necessitam de fórmula complementar, a melhor opção são as fórmulas de aminoácidos. A pesquisa de IgE específica a proteínas (soro e teste cutâneo) não contribuem para o diagnóstico 44,103,127,146 . A pesquisa de sangue nas fezes é inadequada e po- de permanecer positiva mesmo depois do controle clínico do paciente 103 . A maioria dos casos não necessita avaliação colonoscópica e biópsias da mucosa colônica e re- tal. Quando realizada, a colonoscopia está alterada na maiora dos casos e apresenta colite indetermi- nada, com lesões lineares, edema e friabilidade da mucosa. As biópisas mostram intenso infiltrado esosinofílico 44,146 . O desenvolvimento espontâneo de tolerância oral na proctocolite alérgica ocorre na maioria dos casos até os 12 meses de vida 103,146 . Constipação intestinal por alergia alimentar A alergia alimentar pode provocar dismotilidade digestiva, incluindo constipação intestinal. Na maioria dos pacientes pediátricos a etiologia da constipação intestinal é funcional 127,148,149 . No entanto, em uma parcela dos casos a alergia alimentar, em espe- cial a alergia às proteínas do leite de vaca, pode causar constipação intestinal refratária 103,107,148-150 . Nas diretrizes internacionais, para o diagnóstico e tratamento da constipação intestinal crônica, a alergia às proteínas do leite de vaca é considera- da como um dos diagnósticos diferenciais 148,149 . O diagnóstico deve ser comprovado ou descartado de acordo com a resposta clínica obtida com dieta de exclusão da proteína alergênica, seguida por teste de provocação oral 148,149 . O mecanismo exato na gênese da dismotilidade digestiva é desconhecido. É provável que exista in- teração entre o sistema nervoso entérico e células inflamatórias, como mastócitos e eosinófilos, além da secreção de citocinas pró-inflamatórias. Neste contexto, a estimulação do sistema nervoso aferen- te pode fazer com que o cérebro induza alteração no tônus esfincteriano, provocando alteração do ritmo intestinal na vigência do processo alérgico 127 . Observou-se correlação entre a intensidade da in- flamação intestinal com anormalidades pressóricas aferidas pela manometria anorretal 151 . Na mucosa retal podem ser encontrados eosinófilos. No entanto, este achado não substitui a dieta de exclusão e teste terapêutico de provocação oral para confirmação diagnóstica 149-151 . A associação entre constipação intestinal e APLV é considerada por alguns autores como controversa. O quadro clínico é incaracterístico, e certas diretrizes sugerem que o diagnóstico de constipação intestinal seja considerado quando ocorre falha no tratamento da constipação intestinal funcional 149,150 . Em estudo realizado em ambulatório brasileiro de gastroenterolo- gia pediátrica constatou-se maior chance de APLV em Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 - Parte 1 – Solé D et al.
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