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10 Arq Asma Alerg Imunol – Vol. 2. N° 1, 2018 Os principais alérgenos identificados foram frutos do mar (0,9%), fruta ou vegetal (0,5%), leite e derivados (0,5%), e amendoim (0,5%) 11 . Na Europa, revisão sistemática seguida por me- tanálise de estudos sobre alergia alimentar em todas as idades documentou ser a prevalência cumulativa de alergia alimentar variável de acordo com o crité- rio usado para diagnóstico: a autorreferida, 17,3%; prevalência pontual, 5,9%; identificada por teste cutâneo, 2,7%; presença de IgE sérica específica, 10,1%; e a confirmada por teste de provocação oral, 0,9% 12 . As maiores taxas foram observadas entre as crianças 12 . Segundo os alimentos identificados como responsáveis pelas reações (autorreferidos, presença de IgE sérica específica), verificou-se leite de vaca (6,0%), trigo (3,6%), ovo (2,5%), peixe (2,2%), frutos do mar (1,3%), castanhas (1,3%) e amendoim (0,3%). Empregando-se o teste de provocação oral como critério diagnóstico, os índices mudaram substancial- mente: leite de vaca (0,6%), castanhas (0,5%), soja (0,3%), ovo (0,2%), amendoim (0,2%), trigo (0,1%), peixe (0,1%) e frutos do mar (0,1%) 13 . No Brasil, os dados sobre prevalência de alergia alimentar são escassos e limitados a grupos popula- cionais, o que dificulta uma avaliação mais próxima da realidade. Estudo realizado por gastroenterologistas pediátricos apontou ser a incidência de alergia às proteínas fo leite de vaca 2,2%, e a prevalência 5,4% em crianças entre os serviços avaliados 14 . Silva e colaboradores empregaram protocolo eu- ropeu para avaliar a prevalência de alergia alimentar entre adultos brasileiros (18 a 65 anos). Enquanto a taxa de sintomas referidos foi de 10,8% dos pa- cientes avaliados, o número de diagnósticos médicos de alergia alimentar caiu para 1,0%; leite de vaca e camarão foram os mais apontados 15 . Entre pré- escolares (4 a 59 meses) o mesmo grupo verificou ser a suspeita de 0,61% 16 . Embora mais de 170 alimentos tenham sido re- conhecidos como potencialmente alergênicos, uma pequena parcela entre eles tem sido responsabilizada pela maioria das reações ocorridas, destacando-se que a sensibilização a esses alérgenos comuns é variável segundo a idade dos pacientes e a região geográfica que habitam 6 . Na infância, os alimentos mais responsabilizados pelas alergias alimentares são leite de vaca, ovo, trigo e soja, que em geral são transitórias. Menos de 10% dos casos persistem até a vida adulta 7,8,13 . Entre os adultos, os alimentos mais identificados são amendoim, castanhas, peixe e frutos do mar 7,8,13 . As reações adversas aos aditivos alimentares são raras (abaixo de 1%) 17 . Os aditivos mais implicados em reações adversas são os sulfitos, o glutamato monossódico, a tartrazina e o vermelho carmin 17 . Mecanismos de defesa do trato gastrintestinal O trato gastrintestinal (TGI) é o único órgão onde existe uma convivência harmônica entre grande nú- mero de micro-organismos e o sitema imunológico além de ter a capacidade de receber diariamente grande quantidade de antígenos alimentares sem que haja um processo inflamatório que cause danos. Essa função do TGI de promover a digestão com a incor- poração de nutrientes, água, eletrólitos e ao mesmo tempo manutenção de um equilíbrio imunológico só é conseguida pela presença de mecanismos de defesa bem elaborados 18 . Durante a vida, são ingeridas grandes quantida- des de alimentos com alta carga proteica e, apesar disto, apenas alguns indivíduos desenvolvem alergia alimentar, demonstrando que existemmecanismos de defesa competentes no TGI, que contribuem para o desenvolvimento de tolerância oral. A permeabilidade da barreira intestinal é variável e pode ser afetada ou mesmo promover o desenvolvimento de várias doen- ças no lactente e no adulto 19,20 . Estes mecanismos de defesa existentes podem ser classificados como inespecíficos e específicos. Os mecanismos de defesa inespecíficos englo- bam: a barreira mecânica representada pelo próprio epitélio intestinal e pela junção firme entre suas células epiteliais (promovida por tight junctions , des- mossomos, entre outros), a flora intestinal, o ácido gástrico, as secreções biliares e pancreáticas e a própria motilidade intestinal 18,20 . Para se manter a integridade da barreira epitelial se faz necessária uma regulação precisa em sua estrutura e função, de modo a promover um balanço entre os mecanismos pró e anti-inflamatórios que ocorrem no TGI 18,20 . O epitélio intestinal é renovado a cada semana, em decorrência da proliferação, diferenciação e mi- gração das stem-cell progenitoras, das criptas em direção ao lúmen, mantendo sua função de barreira. As stem-cell intestinais geram 80% de enterócitos com capacidade absortiva, além de células de Goblet produtoras de muco, células êntero-endócrinas e células de Paneth produtoras de peptídeos antimi- crobianos. Outra célula epitelial bem diferenciada é conhecida como célula M, que não apresenta camada de muco em sua superfície 21 . Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 - Parte 1 – Solé D et al.

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